CONTOS – O Natal da criança sem-abrigo por Luís Amorim

CONTOS – O Natal da criança sem-abrigo por Luís Amorim

Pela frente à casa do avarento que de Natal percebia nada, nem consta que de eventos e situações outras mais soubesse, a criança com abrigo desconhecido e improvisado apenas em algumas das noites, olhava do seu habitual posto para o que percebia serem prendas e suculentas ementas à volta da árvore tradicional. Recordava de outras quadras em como o homem lhe dissera que não haveria nada para ela, e que procurasse outras natalícias boas-vindas, que na casa dele, prendas só em proveito próprio. Não sabia como, mas quando viu pessoas de alta importância por ali, tentou que alguém fizesse positiva interferência para além do servir de comida que a instituição habitualmente fazia. Foi-lhe transmitido que seria estudado oportunamente pelo que, em resignação, só lhe restou esperar pacientemente.

 O tempo passou e nada aconteceu que mudasse o seu estado de abandono nem mesmo o facto de se colocar mesmo diante da casa do avarento para que este em si reparasse. Até sucedeu isso mesmo, mas com gesto recebido numa entendida ordem de se colocar em marcha, percebeu que a sua presença era indesejada naquele lugar. O vizinho do avarento entendeu a situação e acolheu a criança, partilhando o pouco que tinha, com ótima vontade. Estavam em agradável conversa por entre o limitado doce natalício que havia quando, viram crianças outra tocando à porta da casa ao lado, toda vestida principescamente. Ouviram-na sentenciar ter-se perdido dos pais e que gostaria de ser acolhida, ainda que provisoriamente.

Entrou de imediato, certamente pelo aspeto de alta sociedade que levava, o que deixava supor interesse outro bem escondido, trocado em olhares pela criança outrora sem qualquer abrigo e o adulto que fez o acolhimento, ambos na modesta residência deste. Uns largos minutos depois e sem terem feito perceção antes de tal aproximação, tocaram à sua porta. Era a criança ainda vestida feito príncipe, mais um alto representante da sociedade a indicar que poderia ter sido demorado, mas, que já existiria solução para o seu caso, não o entrar na casa do avarento, mas sim com uma definitiva e adequada por acolhimento. A criança fez saber que já tinha, seria aquela mesma onde se encontrava. E que forma outra haveria para celebrar que não com as iguarias vindas em mão principesca do lado da avareza, mesmo em dourada bandeja, com bênção na sua conhecida representação da comunidade feita alta singularidade, ali mesmo, presente igualmente com as suas prendas ao início de manjar em natalícia festividade?

Por LUÍS AMORIM

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