Marcando ainda o mesmo passo, digo e repito: a dança está em tudo, mais presente do que imaginamos! Caro leitor, se você já foi estudante um dia, já se trajou a caráter para uma festa junina, dançou quadrilha e ouviu um “anarriê”.
É sob o comando do “anarriê” que os pares, cavalheiros e moças, retomam suas posições na quadrilha – após um túnel, galope, caracol, etc. A palavra tem nascente na língua francesa e, nesse contexto, não é à toa.
A terminologia do ballet clássico é universal e tem a maioria dos termos em língua francesa, parte também em inglês, e surgiu de grandes mestres da dança, atravessando gerações. Muitas vezes, a tradução é apenas aproximada por não ser possível importar o correlato literal.
Pois bem, en arrière (cuja pronúncia poderíamos, grosso modo, determinar assim: “ãn-arriér”) significa “para trás”. O termo é utilizado para indicar a direção de um passo qualquer, envolvendo recuo, deslocamento para trás, orientado em direção oposta ao público.
Ora, vejam! Do ballet para a quadrilha; dos bailarinos e bailarinas para a dupla caipira; abrasileiramos o termo com um saboroso e sonoro anarriê.
Do que trata isso? Estamos a falar de tradição e cultura. Intercambialidade da arte que ganha o mundo se horizontalizando no espaço e no tempo.
As festas juninas tiveram origem pagã relacionada à colheita, antecedendo a chegada do verão no hemisfério norte. Depois, foi acrescida do significado religioso, associada às festividades dos dias de Santo Antônio, São Pedro e São João (respectivamente 12, 23 e 24 de junho).
Fogueira, balões, comidas típicas e, sempre, dança! No Brasil, as escolas ensinam por meio da tradição que perpetuam.
Indago, portanto – já que vínhamos falando de origem, história, sapatilhas velhas e paleolítico – qual é a porta pela qual as crianças, trajadas de caipiras, se apropriam dessa cultura? É, exatamente, por meio das danças típicas.
Não é cozinhando canjica, nem pondo fogo em balões, menos ainda bebendo quentão.
Dançando essa tradição, crianças tomam contato com a cordialidade entre damas e cavalheiros, com a cumplicidade, e até com a narrativa do casamento. Pela via do humor, começam a pensar na moça que é prometida e no noivo fujão (que relação é essa?). Críticas deixadas de lado e dialética do certo e errado adiada para mais tarde: está aberto o debate!
Disso tudo, o que acho mais belo (núcleo da arte) e expressivo (necessidade do humano) é o que concluo a seguir: a dança é inata. O coração é rítmico. A respiração é ininterruptamente pulsante. O movimento é vida e por ele se constrói linguagem.
Dançar transforma, entretém e comunica. Salva!
Por DANIELA LAUBÉ