Escondeu deles o que era por longos dez anos, ninguém disse que seria fácil engolir o passado para se tornar mãe; um sonho que lhe negaram quando entrou para o grupo de assassinos mais temido de Ioverlar.
Ela era a Adaga Invisível, a única que nunca foi pega por autoridade nenhuma, que recebeu a benção do mal e ceifou por ouro mais do que podia morrer por fome ou praga.
Agora tinha Lya, Derv, Marius e a pequena Zaya, de não mais do que seis meses. A família cresceu e ser uma camponesa a entregou uma felicidade maior do que podia imaginar.
Obviamente que o passado não se esquece, Zerfyr também não deveria esquecê-lo.
— Fiquem aqui. Lya, você quem manda. É para obedecerem a sua irmã, ouviram?
— Mas, mãe. Eu…
— Shiu! Fiquem aqui e esperem.
Encolhidos nos arbustos as crianças assistiam ao medo, perder sua mãe para homens armados até os dentes. Mas nenhuma delas tinha consciência de quem era Zarya.
Adaga Invisível se revelou com o semblante lívido, os homens da guilda Legionários exibiram o orgulho no brasão de suas capas. Xingaram-na, obviamente. Ameaçaram estuprá-la, mesmo que apenas o cadáver. Zarya esperou em silêncio, o olhar outrora gentil se tornando severo e sombrio.
Ela era a Adaga Invisível por ter se entregado, primeiro, às artes do Espectral. Ela era a filha dos Fantasmas da Morte e traria horror aos que ameaçaram suas crias.
Munida com uma faca de cozinha, Zarya desenhou a trilha de sangue pelo solo de Irlandris. Tão veloz que mal conseguiram distinguir de onde os golpes surgiam. Cortou a garganta do primeiro, quebrou a mão do segundo, o terceiro foi perfurado pelo olho – cérebro atingido – e o quarto se mijou quando a mulher segurou seu colarinho. Ela soltou o ar em seu rosto e ele se encolheu aos prantos.
— Tenho um recado para seu mestre.
— Por favor, por favor, piedade.
— Diga-lhes que a alma dele pertence aos Fantasmas.
— S-sim… sim… por favor, piedade.
— Vá!
O homem se levantou trêmulo e saiu correndo o mais rápido que suas pernas bambas conseguiam. Zarya suspirou, ninguém ameaçava sua família e saía impune.
Por G.M. RHAEKYRION