A ARTE SISTÊMICA – A arte de conectar histórias: como a literatura revela e cura padrões familiares e culturais

A ARTE SISTÊMICA – A arte de conectar histórias: como a literatura revela e cura padrões familiares e culturais

Com muita alegria e admiração pela Revista “Internacional The Bard”, trago esse belo subtema de riquíssima conexão de saberes entre a literatura e o mundo sistêmico.

A minha proposta aqui é explorar como as conexões humanas, familiares e culturais moldam nossa percepção do mundo e como a arte e a literatura podem ser ferramentas poderosas para o autoconhecimento, a transformação e a cura.

Desejo um belíssimo encontro entre nós, caro leitor, pois é uma grande alegria estar aqui compartilhando com vocês essa linda jornada de saberes sistêmicos que trago comigo e divido com você. 

Iniciei os estudos voltados à parte sistêmica há aproximadamente oito anos. Nesse período, aprendi a desenvolver e aprimorei meu trabalho, na época voltado a atendimentos terapêuticos, onde tive a oportunidade de conhecer o riquíssimo material que fora disponibilizado pelo pai das “Constelações Familiares Sistêmicas”, Bert Hellinger. Esse nome forte, “Constelação Familiar”, possui algumas curiosidades e o significado por trás é muito relevante e interessante. 

 Por um momento, Bert Hellinger olhou para o céu e começou a observar as estrelas e notou que, assim como a constelação que ali ele assistia, na prática, era exatamente a melhor representação que ele encontrara para o relacionamento humano. Recebendo esse nome nos Estados Unidos, “Family Constelations” , o Brasil seguiu a tradução americana. 

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

 

O nome original, que é em alemão “Familienstellen”, quer dizer “Configuração ou Posicionamento de um Sistema Familiar”, que é exatamente do que se trata, um trabalho terapêutico ligado à nossa vida diária. 

E foi através de soluções encontradas em relacionamentos entre pais e filhos, casais, enfermidades, dificuldades financeiras e muitos outros comportamentos e problemas, que Bert Hellinger deu nome de constelação familiar a essa prática que traz compreensão de diversos transtornos que são estimulados através do sistema familiar de cada indivíduo, ou seja, traumas sofridos anteriormente por pessoas de um mesmo sistema familiar podem perpetuar em pessoas desse mesmo sistema que não imaginam a causa e o fator desse problema existencial em sua vida. Melhor explicando, herdamos características tanto internas como externas biologicamente do nosso sistema, sendo assim, as memórias, as histórias continuam trabalhando dentro de nós, pois de forma fenomenológica, através do estudo sistêmico, sabemos que essa relação pertence ao sistema familiar e não é possível apagar, mas sim ressignificar essas memórias e histórias.

Imagem de Gerd Altman por Pixabay

 

Quando são trabalhadas as ordens do amor: pertencimento, hierarquia e ordem, o sistema familiar renova o equilíbrio. Onde não havia forças, há uma nova energia.

Se pararmos por um momento e analisarmos tudo à nossa volta, perceberemos que tudo é sistêmico. Nossas histórias vêm de longe, como afirmou Bert Hellinger: “A vida vem de longe.” Ele complementa essa ideia ao dizer: “Os pais são apenas um portal pelo qual ela chega a nós.” Encontrei essa frase diversas vezes no decorrer dos meus estudos. 

A vida é ampla e contínua. Ela passa pelos nossos pais, mas não se retém a eles. Então, se nós, filhos, focarmos somente nas falhas, nos erros de nossos pais, nas histórias que nos foram contadas, no que entendemos como certo ou errado quando crianças, esquecemos de olhar para a nossa própria vida, deixando de observar a grandiosidade e a sua origem. E se concordarmos e nos permitirmos a criar novos contextos, encontraremos plenitude e também harmonia, independente dos desafios que nossos pais tiveram.

No entanto, ao atravessarmos esse portal, carregamos características e informações herdadas, que ao mesmo tempo nos tornam únicos, de forma que possamos buscar nossa evolução, nos tornando independentes, tendo nossas particularidades, onde nossas diferenças mostram que podemos aprender e ensinar uns aos outros. 

Imagem de ThankYouFantasyPictures por Pixabay  

 

No decorrer da vida, buscamos entender nossas raízes com as percepções que temos, mesmo que muitas vezes sejam fragmentadas ou obscuras. Essa busca, carregada de incertezas, nos impulsiona a explorar histórias que permanecem incompreendidas. Somos incansáveis nessa jornada, desafiados a ter coragem e força para enfrentar as verdades que descobrimos.

Quando seguramos um livro, antes mesmo de ler suas páginas, nossa mente tenta criar histórias a partir do que sabemos. Mas, ao mergulhar nas palavras do autor, percebemos que nossas suposições não passam de curiosidade. A verdadeira história se revela, rica e detalhada, convidando-nos a uma nova perspectiva. Isso reflete nossa própria trajetória: crescemos ouvindo histórias incompletas, que nos deixam cheios de perguntas. É aqui que a literatura entra como uma aliada poderosa, oferecendo respostas e insights. 

A literatura, com sua bagagem de narrativas, conecta-nos com a vida em sua essência. Histórias de vidas passadas, experiências vividas e sentimentos partilhados nos presenteiam com emoções profundas, desde a alegria até a empatia. Além disso, ela estimula a criatividade humana, permitindo que criemos contos, explorando verdades e inverdades, e reinterpretando nossa própria história.

Cada pessoa carrega consigo uma bagagem única: cultura, crenças e padrões herdados de seus ancestrais. Essas memórias influenciam a jornada de cada um, seja por meio de lembranças de momentos vividos ou daquilo que foi transmitido pelas gerações anteriores. Assim como uma melodia nos transporta para momentos de plenitude ou nos faz encarar dores profundas, nossas histórias revelam tanto as belezas quanto os desafios da vida.

A vida, assim como os relacionamentos, tem raízes profundas. Para adentrarmos nesse portal mágico, é preciso reconhecer a luz que recebemos de nossos pais, cada um trazendo consigo uma carga de experiências que moldam quem nos tornamos. Essas informações, somadas ao nosso aprendizado, oferecem oportunidades para construirmos um legado significativo para as próximas gerações. 

Imagem de Satheesh Sankaran por Pixabay

 

A literatura desempenha um papel semelhante. Ela nos envolve com a mesma doçura com que nossa alma abraça nossas experiências. Por meio dela, acessamos emoções, pensamentos e perspectivas que ampliam nosso entendimento sobre nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Histórias cheias de amor e aventuras nos conectam com um passado que não vivemos, mas que ressoa em nós como criaturas do presente.

Quantas vezes não nos emocionamos ao ler contos que retratam a juventude de nossos pais ou ao observar fotografias antigas que transbordam afeto e ligação? Eu acredito que, assim como eu, você possui recordações em forma de retratos que lhe trazem essa vivacidade calorosa de lindas histórias.

Hoje, é trabalhada uma abordagem fotográfica sistêmica que traz cunho terapêutico, na qual as leis sistêmicas do pertencimento, equilíbrio e ordem que encontramos no livro ORDENS DO AMOR – BERT HELLINGER – 2001, fazem parte de todo o processo.

 Compartilho o blog de fotografia sistêmica de Jivago logo após esse pequeno trecho utilizado por ele para criar ensaios fotográficos sistêmicos: “A imagem sistêmica possui cunho terapêutico, pois afeta sinesteticamente os sentidos, de modo a auxiliar como reforço da percepção, da compreensão, da decisão, da atitude, das mudanças de postura, no reequilíbrio do sistema e na construção do caminho da vida mais leve. Uma imagem que lhe fará olhar com mais amor para você, seu sistema e sua vida”.

Filmes históricos que captam a simplicidade de épocas passadas também despertam um sentimento de nostalgia e aprendizado. E quando utilizamos a leitura como ferramenta terapêutica, descobrimos uma maneira clara de interpretar e lidar com nossas emoções, como o medo, a raiva, a felicidade, a tristeza, a repulsa e a surpresa. Emoção é nossa forma de expressão, de nos envolvermos em nós mesmos, compreendendo tanto o mundo de hoje quanto o do passado. 

Imagem de DesignDrawArtes por Pixabay

 

O gênero literário conhecido como “ficção de cura” tem ganhado destaque no mercado editorial. Ele aborda temas como morte, saudade, doenças e dificuldades emocionais de forma acolhedora, ajudando o leitor a encontrar soluções para desafios pessoais. Ao criar histórias que refletem aspectos familiares e culturais, essas obras oferecem conforto e inspiração, ajudando-nos a transformar dores em aprendizado.

 O livro Meus dias na livraria Morisaki (20 de novembro de 2023) é um excelente exemplo. Um mágico e comovente romance japonês que retrata o poder da cura através da literatura. Uma jovem perde tudo, mais tarde se encontra na livraria que pertence à sua família por mais de três gerações. Uma história de recomeços e que mostra o poder transformador da literatura. 

Necessário termos resiliência para aprendermos a ressignificar e superar o que não podemos ter controle, ampliando nossos olhares, rasgando o véu do que nos impede de ver cada situação com novos entendimentos.

Imagem de Freepik

 

Vivemos em um mundo onde muitos carregam traumas, culpas e ansiedades que dificultam o equilíbrio emocional. A ficção de cura toca o emocional, sai do intelecto humano e trabalha a questão dos relacionamentos entre os personagens. Dessa forma, permite que o leitor entre nas miudezas cotidianas colocadas pelo livro ou filme, criando uma conexão afetiva, reconhecendo os dilemas ali apresentados. Dessa forma, promove empatia e apoio mútuo, mostrando-se uma poderosa ferramenta para alcançar a transformação pessoal. Com ela, podemos compreender nossas memórias e traumas, usando a literatura como ponte para uma vida com menos conflitos e mais harmonia. 

Esse uso de literatura traz muitas reflexões, engloba livros acolhedores que nos permitem mergulhar nos personagens e também nas dinâmicas cotidianas da vida do ser humano, como, por exemplo, trabalhar, cuidar da casa, cozinhar, estudar.

Tão suave e doce, assim é a literatura, nos transforma, nos ensina que, embora nossas histórias venham de longe, temos o poder de reescrevê-las e reinterpretá-las, encontrando nela as respostas que buscamos e o alívio de que tanto precisamos.

Imagem de Boomanoid por Freepik

 

Há tantos e diversos livros que nos conectam com o sentimento de viver a vida, o único desafio é permitir-nos adentrar a esse mundo de criatividade e luz que é primordial para nós seres humanos nos mantermos com um sentimento próspero de cura.

Nos curamos todos os dias quando estamos em contato com pessoas que nos oferecem um pouco mais de conhecimento naquilo que ainda não sabemos lhe dar. Também quando mudamos nossas interpretações e olhares mediante a determinadas situações, nesse momento em que paramos de julgar, de acreditarmos que somente nossa opinião basta, trabalhamos também a cura em nós.

 

Referências:

  http://www.mundodospensamentos.com.br/autor.php?id=8857 MUNDO DOS PENSAMENTOS (2012 – 2024) podemos encontrar algumas  citações desse querido mestre, inclusive a que aqui vos deixo.

https://joaojanuarioneto.medium.com/o-que-%C3%A9-a-constela%C3%A7%C3%A3o-familiar-de-bert-hellinger-4f08c684a487

Reconhecimento das “Ordens do Amor”: CONSTELAÇÕES FAMILIARES, conversas sobre emaranhamentos e soluções (1996/ editora Cultrix–

https://www.jivagosales.com.br/blog/fotografia-sistemica#:~:text=A%20imagem%20sist%C3%AAmica%20possui%20cunho,caminho%20da%20vida%20mais%20leve

https://vidasimples.co/colunista/ficcao-de-cura-quando-a-ficcao-cura-a-realidade/#google_vignette

 

Por KENIA PAULI

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo