Escultura é a obra de arte que resulta do processo de esculpir. Considerada a segunda arte pela Academia Brasileira de Arte (ABRA), carrega em si elementos como tamanho, textura, luz e sombra, além da cor, largura e altura. Sua origem baseia-se na imitação da natureza, com o intuito maior de representar o corpo humano.
Desde os primórdios, os seres humanos sentiram a necessidade de representar divindades e a si mesmos através de materiais como pedra, bronze, madeira e/ou argila, tornando a escultura uma das expressões artísticas mais sublimes.
Ao longo do tempo, diante da necessidade do artista frente à sua época, as técnicas de entalhamento e modelagem foram se aperfeiçoando. Deixando-nos como legado, muito da ideia de beleza associada à harmonização das formas, presente no pensamento da Idade Clássica. Artistas como Michelangelo, ente outros, tornaram-se referência de realismo e perfeição. Criadores de obras-primas, que continuam encantando gerações não só pela suavidade da mensagem gravada sobre a pedra, mas principalmente pelo modo como eles conseguiram capturar a concretude das formas do corpo humano e seus sentimentos.
Davi – Michelangelo
A arte é uma forma de alcançar o interior humano, promover conexões do mundo interno e externo. Há no ser humano, uma busca pela perfeição artística, o que pode ser visto em todas as artes. Com grande intensidade essa busca, pode ser vista também nas esculturas, por ser a representação de si mesmo, buscando a precisão das formas, dimensões e no decorrer da história essa busca é evidenciada. Desde a escolha do material à idealização de uma escultura o escultor é abraçado por diversas sensações, uma espécie de catarse, onde a emoção aflorada se externaliza. A arte é subjetiva, tudo pode ter diversos significados, dependendo de quem aprecia.
A história da escultura não diferente das outras artes se mescla com a própria história de arte. Numa concepção sacra, Deus teria sido o primeiro escultor existente na história dos povos: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gênesis 2:7). De forma a deixar os Seus traços nos nossas aspirações mais autênticas, sobretudo no anseio do amor verdadeiro.
Sendo o homem criado a imagem e semelhança de Deus, diferentemente de qualquer outra criatura, ele é portador de Sua imagem. Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” Gen 1,26. O homem imitando o criador busca na arte a perfeição dos traços, das formas, dimensões, aguçando sentimentos, permitindo-se ser criador e ter suas próprias criaturas esculpidas.
No contexto histórico, temos que a escultura surgiu nos primórdios, no Paleolítico, também conhecido como Idade da Pedra Lascada. Nesse período, o objetivo era moldar animais e imagens humanas, em sua grande parte, representadas por figuras femininas com formas volumosas, características que remetiam a ritual de fecundação, a magia e a religião. Para elaborá-las, os materiais utilizados eram marfim e ossos.
Imagens Femininas que representam a fertilidade
A escultura da forma que é conhecida atualmente, data do Oriente Médio. Foi uma das últimas artes a serem desenvolvidas durante a Idade Média, talvez pelo apelo sensual. Pode representar qualquer objeto e, até mesmo, nenhum, pois, em muitos momentos, apresenta uma conotação abstrata. Na produção de uma escultura o artista pode servir-se de técnicas e materiais variados. Na história da escultura, as obras que apresentam maior durabilidade foram às criadas por elementos perenes, como o mármore, o granito, o ouro, a prata e o bronze.
No Egito Antigo, escultura egípcia foi comumente representada pela figura do Faraó. Acreditava-se que a escultura abrigava sua alma, simbolizando a sua divindade e também a crença da vida após a morte. Tinha características peculiares: não apresentavam nenhum tipo de expressão facial, eram estáticas, os homens contavam com uma coloração mais escura que as das figuras femininas e cada divindade possuía uma regra particular de reprodução.
Escultura Egípcia que destaca sua rigidez estática
A Grécia é considerada o berço ocidental da arte de esculpir. As esculturas gregas, em sua maioria, representavam as figuras humanas de modo idealizado e equilibrado, apresentando elevada beleza estética (assumindo um papel de divindade), técnica, movimento, se tornando, referência para outros povos, uma evolução na história da escultura.
Aproximando-se do caráter que prestigiava a perfeição da escultura grega, as romanas feitas em mármore, em sua maioria, tinham como característica a expressão facial, com características menos idealizadas. Com formas mais realistas.
O Renascimento traz esculturas representadas por obras de corpos nus, elevada qualidade técnica. Não fugindo ao ideal científico da época, as esculturas contavam com estudos rigorosos sobre a anatomia humana. No barroco ela se destacou pela expressividade presente em suas faces, uma forte carga dramática. Também trouxe suntuosidade nas peças, exagero, os jogos de movimento e luz nas suas produções.
Esculturas gregas representavam as figuras humanas de modo idealizado e equilibrado, apresentando a beleza estética.
Características como a clareza e equilíbrio marcam as esculturas neoclássicas. A escultura modernista combinou diferentes influências. Assim, o século XIX foi emblemático para a história da escultura, pois, apresentou técnicas de vanguarda.
Herdando características do impressionismo, essas peças também acompanharam outros conceitos, como do cubismo e do dadaísmo.
No Brasil, a escultura, de tradição europeia, remonta do final do século XVI, com a chegada dos portugueses e o surgimento de algumas vilas no litoral, dando início a construção de templos e edifícios públicos. Financiada pela igreja católica que também foi uma grande financiadora da mesma na Europa.
Expressa especialmente pela escultura, desenho, pintura e arquitetura que eram utilizados, sobretudo na construção e ornamentação de igrejas, conventos e mosteiros. Surge de expressões de gente do povo, inculta (sem instrução, conhecimentos técnicos), de certa forma distante do luxo das igrejas e suas decorações, de obras monumentais. A arte pouco conhecida, mas existente.
A escultura representada pelos Jesuítas com construção de grandiosas igrejas, repletas de ouros e esculturas de santos católicos, era de cunho religioso, afirmando a fé católica, facilitando o doutrinamento católico.
Nesse período o cotidiano do país, atravessado por grandes transformações, pode então ser conhecido através de desenhos e pinturas. Aleijadinho e Mestre Ataíde na Região de Minas Gerais são os nomes que mais se destacam nesse cenário. A escultura do período colonial se ressalta pelo estilo próprio afastando-se da escultura Barroca europeia. As obras eram feitas em pedra-sabão e madeiras, pintadas com cores fortes e geralmente douradas, ornamentadas com coroas de ouro e prata, olhos de vidro, dentes de marfim, vestimentas de tecidos e cabelos reais.
Cena do carregamento da cruz, na Via Sacra de Congonhas. Aleijadinho
Com o modernismo surgem novas possibilidades em termos de forma, técnica, materiais, temática e expressividade. Trazendo uma abordagem artística contestatória, irreverente, anárquica, privilegiando a individualidade criativa e desmerecendo a tradição e os modelos consagrados. A arte contemporânea, inserida num espaço com grande fluxo de informações e inovações tecnológicas e midiáticas, se utiliza desses recursos como forma de comunicação, com um alcance maior e em maior velocidade.
Surge rompendo com tendências e manifestações artísticas modernas, transpondo as barreiras tangentes às linguagens da arte, unindo tipos diversos de fazer artístico em uma obra, afastando-se dos suportes tradicionais.
Nos século XX e XXI no Brasil, a escultura ganhou configurações diversas aguçada por discussões em torno das heranças europeias, a presença de elementos das culturas constitutivas da identidade brasileira evidenciou outros caminhos, outros percursos. Dentro desse contexto, a produção contemporânea traz ecos da brasilidade ampliada por diversos fatores: econômicos, políticos e culturais, sem descartar experimentalismo das gerações anteriores, adicionando os recursos e materiais novos oferecidos pela indústria e tecnologia de ponta, como o computador, na projeção das obras. Dando visibilidade aos artistas como um todo, de forma a enriquecer e revolucionar a escultura brasileira.
Amílcar de Castro: Sem título, 1970. Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Caciporé Torres: A Coisa, 1972. Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Felícia Leirner: Colunas. Palácio dos Bandeirantes
Iole de Freitas: Sem título, 1997. Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A escultura tem em si a função da reflexão, remetendo ao pensamento e a observação que até um momento era desconhecido e o artista que tem por natureza a sensibilidade, utilizando as mãos como instrumento, modela, dá forma a sua criação, que ganha vida e proporciona sentimentos. É a arte que mais dialoga com o público, pois, algumas são idealizadas para ser exposta em espaço público, tendo aí seu território. Portanto, tem função social, de educar, informar e entreter.
Por BETÂNIA PEREIRA