Atoada própria de um verso é o seu ritmo. Isto posto, daremos prosseguimento no assunto Ritmo do Verso, fundamental e permanente na arte de compor Sonetos, discorrido de forma sintética no artigo anterior, no entanto, o suficiente para uma noção inicial e, certamente, garantirá o amadurecimento no fazer poético do Soneto.
Assim, segundo o ilustre Amorim de Carvalho, “Para a boa compreensão do que é Ritmo e dos conceitos de Ritmo Proposto e Ritmo Efetivo, […] Ritmo é a repetição periódica (no tempo) dum fenômeno de qualquer modo diferenciado em si mesmo no tempo. Chamemos, ao que esse fenômeno é com sua diferenciação interna, ritmo proposto […], Ritmo Proposto à repetição; e designemos esta repetição por Ritmo Efetivo.”
E por falar em amadurecimento, falaremos de aperfeiçoamento nessa arte, tratando do ritmo, especificamente, no Verso Alexandrino, discorrendo, também, de toda a sua peculiaridade literária.
VERSO DODECASSÍLABO E VERSO ALEXANDRINO
(Alexandrino Clássico e Alexandrino Moderno):
O tipo de verso mais respeitado da Literatura, tanto pelo seu rigor quanto pela sua história, sendo considerado o mais complexo da poesia escrita. Inicialmente, é importante frisar que nem todo verso de 12 sílabas (dodecassílabo) é um verso Alexandrino, mas todo Alexandrino é, estruturalmente, um verso dodecassílabo, que se subdivide em Alexandrino Clássico (com um Quaternário de Anapestos, isto é, tônicas na 3, 6, 9 e 12, sendo que na sexta sílaba deve constar a Cesura); contudo, muitos poetas da modernidade passaram a banalizar o Alexandrino Clássico, assim como o movimento Modernista passou a banalizar o rigor do Soneto, pela sua exigência nos critérios, e passaram a não executar o compasso (frequência rítmica, isto é, o posicionamento das tônicas nas mesmas sílabas em todos os versos) sem sonoridade nenhuma (quando dispõem de tônicas aleatórias) senão, apenas, inserindo a exigida Cesura, ressalvados quando executados em Versos Binários (tônicas nas sílabas pares, chegando a executar o Hexâmetro Iâmbico quando a batida recai em todas as sílabas pares), favorecendo excelente compasso rítmico, em alta melodia.
O Verso Alexandrino Clássico, historicamente, usado primeiro na canção de gesta francesa do século XII (Le Pelérinage de Charlemagne a Jérusalem), sendo seu designativo derivado de do “Roman d’Alexandre”, outra composição no gênero, do mesmo século, iniciada por Lambert Le Tort e continuada por Alexandre de Bernay; possivelmente seu nome também provenha desse trovador normando do século XII; colocado no ostracismo durante as centúrias finais da Idade Média, o Alexandrino voltou a ser festejado pelo poetas franceses do século XVI (Ronsard, Bainf e outros) e a ser amplamente conhecido na Europa (Holanda, Alemanha, Inglaterra, Espanha – neste último país gerou a “cuaderna-via”: verso de catorze sílabas, segundo a metrificação castelhana); conquanto os espanhóis houvessem acolhido o Alexandrino já nos tempos medievais, a sua introdução em Portugal deu-se apenas no século XVIII, com o Abade de Jazente e Bocage, em cuja esteira caminharam alguns dos nossos árcades (Basílio da Gama e Silva Alvarenga); parcamente utilizado ao longo do Romantismo, com a instauração do cânon parnasiano ao interesse dos poetas dessa Escola Literária (Guerra Junqueiro, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e outros, mas é raramente empregado na poesia moderna, por motivos óbvios; no geral, o verso mais longo, em estrofes isométricas, é o Alexandrino.
O Verso Alexandrino Clássico na forma mais culta da teoria, requer, além das 12 sílabas nele metrificadas em Quaternário de Anapestos (Anapesto é o Pé Rítmico com duas sílabas átonas e uma sílaba tônica: – – +) seja executado dois Hemistíquios, que é a divisão em dois períodos de seis sílabas poéticas dentro do verso, isto é de dois Hexassílabos, divididos pela Cesura Perfeita ou Cesura Branda, falado conceitualmente mais à frente, neste artigo. O primeiro período (primeiro Hemistíquio) finaliza com a tônica na sexta sílaba, DE PREFERÊNCIA, de uma palavra que encerra nessa sexta sílaba, quando dará início, a partir de sétima sílaba, ao próximo período (segundo Hemistíquio) o qual será fechado na décima segunda sílaba poética tônica, o que significa dizer também que a regra é ter acentuações tônicas na sexta e décima segunda sílaba poética.
Exemplos de Verso Alexandrino Clássico:
Quão ditosas feições que se expõe num sorriso Quão/ di/TO/sas/ fei/ÇÕES//que/ se ex/PÕE/ num/ so/RRIso
– – + – – + – – + – – +
A verdade acalenta esse amor consentido A/ ver/DA/de a/ca/LEN//ta e/sse a/MOR/ con/sen/ TIdo
– – + – – + – – + – – +
Exemplo de Alexandrino em Hexâmetro Iâmbico:
O vento amargo afasta o amor e expulsa a calma O/ VEN/to a/MAR/go a/FAS//ta o a/MOR/ e ex/PUL/ sa a/ CALma
– + – + – + – + – + – +
A CESURA vai além da função de uma tônica, pois ela divide o verso em dois Hemistíquios, perfazendo dois períodos num mesmo verso. É um descanso da voz no interior do verso que divide o verso em grupos fônicos.
CESURA PERFEITA: Sexta sílaba tônica com palavra oxítona; CESURA BRANDA: Sexta sílaba tônica com palavra paroxítona, desde que faça Elisão na sétima sílaba;
Obs 1: se não houver Cesura, não existe Alexandrino;
Obs 2: caso não ocorra Elisão na sétima, a cesura é imperfeita, logo, não perfaz sua função e desconfigura o Verso de Arte Maior tanto quanto o Alexandrino;
Obs 3: importante considerar que há registro de muitos Poetas Imortais, e mesmo hoje em dia, atenuam a rigidez do Alexandrino inserindo tônicas em qualquer sílaba, desde que, sempre, respeitando as Cesuras.
No próximo artigo, trataremos de Recursos de Versificação, trazendo à baila mais conteúdo a respeito da técnica do verso. Avante!
Por RICARDO CAMACHO
Idealizador, Fundador e Presidente do FÓRUM DO SONETO