O presente artigo visa esclarecer brevemente as concepções sobre a Arte e a Inteligência Artificial, exemplificando os seus conceitos e desdobramentos em torno de suas possíveis coexistências, ao final exemplifica-se novas projeções sobre suas práticas.
O que vem a ser Arte?
O conceito de arte é vasto, experimenta e vivencia modificações ao longo dos tempos, perpassa por manifestações estéticas, envolvendo diferentes tipos de comunicações e expressividades culturais traduzindo modos, causas e meios de pessoas e grupos em suas vivências societárias (NEVES, 2023). Entende-se que o desenvolvimento e o caráter artístico fazem desse formato essencialmente humano e social, ao menos até o final do século XX.
A origem do termo Arte remonta da palavra latina definida como “ars” que traduzida para o português significa ofício, ou seja, habilidades desenvolvidas por pessoas (NEVES, 2023).
Sobre o prisma filosófico e social pode ser atribuída à arte três sentidos (NEVES, 2023), no primeiro observa-se o foco da representação de uma expressividade, de um formato, este processo pode ser contínuo ou por períodos específicos, sua característica é o sincronismo de imitações e/ou simplesmente cópias, sejam da natureza, de práticas sociais ou mesmo evocando conceitos políticos, grafocêntricos, religiosos, dentre tantos outros.
O segundo sentido é a arte como expressão, com o cunho predominantemente subjetivo, portanto muito mais emocional que racional, uma arte que visa a conexão direta com o expectador que a visualiza, que a “consome”, permitindo múltiplas reflexões e consequentemente novas emoções.
O terceiro e último sentido é a arte voltada à forma, nessa vertente existe a provocação e reflexão de sentimentos, porém também o senso estético, as chamadas “qualidades formais”, destacando-se o tipo de unidade do objeto artístico, sua harmonia, ritmo e equilíbrio. As qualidades juntas ou separadas possibilitam o formato final da obra de arte, a tornando mais ou menos abstrata e realista.
Como plano de fundo contempla-se a sociedade que a recebe e suas instituições participantes e formadoras que inevitavelmente determinam e influenciam qualquer criação e apresentação artística.
Neves (2023, p. 2) afirma que: “Podemos observar um círculo vicioso […] obras de arte são definidas por pessoas que fazem parte do universo da arte; estas pessoas […] são definidas por determinarem quais objetos podem ser classificados como obras”. A alegação retrata, da mesma forma, o ambiente tecnológico que a arte, seja considerada uma representação, expressão ou forma se comporta, mais ainda como é observada e consentida.
Inteligência artificial gerada pelo homem
Em um outro campo se desenvolve a tecnologia digital e a partir da segunda metade do século XX apresenta-se como fruto proeminente a inteligência artificial, traduzida como um sistema não humano de obtenção, análise e reflexão de dados, com base nos próprios raciocínios dos indivíduos. Prima-se neste novo sistema por resultados e a margem para a inovação é calculada basicamente pelas mesmas fórmulas matemáticas que o sustentam denominadas como algoritmos (BURNS; LASKOWSKI; TUCCI; LAWTON, 2023).
A etimologia (estudo da origem) da palavra inteligência advém do latim composta pelas partes: “inter”, entendida como o entrar e “legere” entendida como a escolha, ou seja, se considera inteligência a capacidade de resolver problemas, escolher melhores resoluções e realizar tarefas de formas variadas (SILVA; VANDERLINDE, 2012).
Arte e Inteligência artificial são áreas aparentemente opostas, pois em uma objetiva-se manifestações artísticas espontâneas e em outra a racionalidade artificial de uma forma de pensar. Na contemporaneidade, entretanto, se comunam e com isso produzem novos resultados, uma vez que suas práticas inevitavelmente são interseccionadas.
O que existe no porvir
O período societário digital atual estimula costumes eletrônicos e dentre eles o uso praticamente irrestrito da inteligência artificial em diferentes espaços. A arte com suas múltiplas construções e estilos é um dos casos. Porém, percebe-se uma possível intimidação na esfera artística (OLIVEIRA, 2023) no sentido que tanto o produto final como o seu processo inventivo não podem sustentar recursos totalmente eletrônicos.
Quando se segue a lógica computacional a tendência é que o não humano, o artificial, busque semelhança com o seu criador, não necessariamente por competição, mas porque foi instruído a evoluir dessa forma, superando quaisquer obstáculos de forma continua.
Da mesma forma, reforça-se a arte nesse campo, galgada em expressividades e movimentos criativos que podem ser “simulados” em níveis cada vez mais reais à percepção humana (OLIVEIRA, 2023).
A despeito de todos esses embates a maior “ameaça”, conclui-se, é o uso indiscriminado de recursos de inteligência artificial não somente como uma ferramenta de apoio artístico, mas como um instrumento para exposição do produto final, tomando o lugar do seu criador: o artista.
A coletividade deve estar preparada para esses possíveis impactos e suas consequências estilísticas, projetando novos meios de regulação e fiscalização para coibir prováveis práticas de adulteração e plágio, zelando mais uma vez, pela integridade das obras.
O futuro, dessarte, é entendido por uma convergência irredutível entre essas (novas) técnicas, regulações e produções.
Referências
BURNS, Ed; LASKOWSKI, Nicole; TUCCI, Linda; LAWTON, George, artificial intelligence (AI). Enterprise AI. July, 2023. Disponível em: https://www.techtarget.com/searchenterpriseai/definition/AI-Artificial-Intelligence. Acesso em: 12 ago. 2023.
NEVES, Vagner. O que é arte? A definição e os diferentes tipos. Arte-ref. Notícias em arte contemporânea. Fevereiro 16, 2023. Disponível em: https://arteref.com/arte/o-que-e-arte/. Acesso em: 30 jul. 2023.
OLIVEIRA, Ruam. Inteligência artificial já recria e faz obras de arte, e os artistas nisso? Inteligência Artificial. Tilt. 01/08/2023 04h00Atualizada em 01/08/2023 12h51. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2023/08/01/inteligencia-artificial-recria-e-faz-obra-de-arte-moca-com-brinco-de-perola.htm. Acesso em: 12 ago. 2023.
SILVA, Brigiane Machado da; VANDERLINDE, Marcos. Inteligência Artificial, aprendizado de máquina. Centro de Educação Superior do Alto Vale do Itajaí. UDESC – ALTO VALE. 2012. Disponível em: https://www.ceavi.udesc.br/arquivos/id_submenu/387/brigiane_machado_da_silva___marcos_vanderlinde.pdf. Acesso em: 31 jul. 2023.
Por CARLOS BATISTA