Sejam bem-vindos, a essa experiência literária, suas leituras muito nos honra, amáveis leitores, que se interessam por essa narrativa, desenvolvida na coluna “Autopoiese & Narrativas na 27ª edição da “Revista Internacional The Bard”. Destacamos o tema central da nossa narrativa. Cartas: palavras que viajam por mundos.
Não poderíamos deixar de agradecer em especial, a gentileza dos poetas convidados, abrilhantando essa temática, nos disponibilizando suas escritas no gênero “cartas”, despertando em nós, iluminações, ideias, interpretações para o nosso caminhar, nossas motivações para prosseguirmos com a nossa autoria nessa autopoiese.
O tema da atual edição, é muito motivador e inspirador “História Epistolar”.
Em nossas pesquisas, trazemos o adjetivo do significado “epistolar” e destacamos que é uma maneira de escrever cartas. Estilo, gênero epistolar. Próprio de epístola, da narração de algo, por meio de escritas.
As cartas, trazem pensamentos, sentimentos, emoções com suas palavras, frases, parágrafos, inesquecíveis, expondo eternas juras de amor, despedidas, e uma fonte preciosa de sentimentos, paixões e amores, esperanças, nas suas linguagens poéticas. Em cada linha, uma mensagem, um rabisco, uma síntese, uma reflexão, também expressão de sentimentos.
As cartas representam muitas vezes “a poesia da voz do coração”, “conexões de sentimentos”, é o “sentir a intensidade de uma presença ausente”.
Imagem de Bruno por Pixabay
“As cartas produzem calor
Para nossos olhos interrogativos
O que é o amor? A criação? A saudade?
São tantas as alegrias, nos nossos lábios
Em movimentos de leituras
A alma fica calma
A fome se espalha pela sabedoria
De entender, sem nada dizer.
Fico com a luz amanhecida
Sobre mim, pois sou acolhida
Por tua carta companheira
Deixando no meu coração
A mensagem de amor, sem fim.
(Stella Gaspar-2024)
Destacamos também, os registros nas “cartas atemporais”, não existem épocas, nem tempos modernos, elas sempre são maravilhosas, pois podemos sentir nossas realidades e imaginações, a partir do uso das canetas, papel e lápis.
Não tiramos os créditos do habitual e-mail. É muito bom, abrir a nossa caixa de entrada e encontrar um escrito esperado ou inesperado – como diria “Martín, no filme Medianeiras”, não há nada mais deprimente que não ter e-mails novos para ler em pleno século XXI.
É fascinante, o encanto das cartas, que para nós, não são velhas formas de comunicação, é prazeroso poder ver o desenho da letra cursiva sobre uma folha de papel é, todavia, inevitável, a motivação intrínseca que sentimos. Outro atrativo, é a relação atemporal estabelecida, o longe, o passado chega mais perto. O que vale é poder escrever, livres nos aproximando de um tempo, um momento, a qualquer hora, produzindo o nosso mais agradável viver, com uma alegria inebriante.
A narrativa presente, trará esses destaques, para que você apaixonado por cartas, possa viver a sinfonia do desabrochar de suas memórias, percebendo novas realidades, desvelando suas inspirações, despertando suas energias.
Permita-se ser um(a) tecelã, usando o fio da sua vida desvelando na sua linguagem escrita, a sua melhor versão. E só, com as suas imaginações e concepções, você não se perderá da realidade, pelo contrário, poderá encontrar os diferentes sentidos, que a escrita em cartas com seus estilos, pode te levar para o “colo de sua alma;” viajando com sua vida em um tempo, a estendendo para a vida de escritas presentes.
Verdadeiramente, muito obrigada!
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A arte epistolar
A carta é o gênero inacabado por excelência, está sempre sujeita a uma resposta. Alguns lamentam o desaparecimento da “arte epistolar”, mas é uma inverdade; as cartas continuarão a escrever-se enquanto houver, distâncias, enquanto houver duas ou mais pessoas separadas. É possível buscar nossas esperanças, sonhos, amizades, por esse caminho escrito. Um passado, que é presente e continuará um futuro. É inegável a existência da “arte epistolar”, ainda no cenário atual, mesmo em menor extensão, mas de um modo geral, ela ainda chega em corações e mentes.
O limite geográfico, nos mantém nessa herança cultural. O tempo histórico muda com novos arranjos e possibilidades, mas a manutenção da comunicação é como uma janela aberta para mundos.
O que está a desaparecer não é a “arte epistolar”, nem a comunicação única, entre o remetente e o destinatário, mas o ato de dobrar o papel e guardá-lo num envelope e destiná-lo ao destino da viagem, o que está a se perder é a arte do encantamento ao receber uma carta escrita com a nossa caneta preferida.
A escrita é uma ferramenta preciosa, eterna. Podemos considerá-la como uma coreografia de mentes, fantasias e realidades. É uma liberação que alimenta a nossa criação textual.
A atmosfera romântica do receber uma carta, desencadeando o prazer do mistério, das palavras escritas desconhecidas, da surpresa, é um deleite, como admirar conchas coloridas. É tão importante, pensar, amar por escrito, descortinando nossos desejos e inquietações saudosas, deixando nossas bocas e olhos sorridentes.
Ah! Meus leitores, essa música nos remetem para uma fórmula mágica, que a “arte epistolar”, nos surpreendendo, com a chegada de um “carteiro”.
O carteiro e o poeta
O poeta deixou-te uma lembrança
Por dentro da lembrança uma memória
Em volta da memória uma esperança
Que fez de ti o homem e a criança
Que lhe entregava cartas e a história
O poeta deixou-te uma emoção
Que encontraste na casa abandonada
Que ficava no cimo da lição
Do mais alto de ti eis a questão
Poesia eras tu. Ele quase nada.
O poeta deixou-te uma ideia
De como ser feliz, ser mais igual.
Não te mentiu. Deu sangue à tua veia
Poesia contra a vida se for feia,
matraquilhos, mas com bola de cristal.
O poeta deixou-te uma saudade
De redes tristes metáforas sinais
Pra ele tu foste o selo da verdade
O poema impossível, liberdade
Que tu sonhaste escrito pelos mortais.
O poeta deixou-te um sentimento
Que me liberta preso na cadeira
Deste cinema onde tu sobes tão lento
Na bicicleta contra tudo, contra o tempo
Contra ti sem Neruda nem bandeira.
Deixo-te nada. As coisas vivem mortas
Aos pés de um filme à soleira do amor.
No cinema caem lágrimas e cartas
Compro o bilhete para amanhã, antes que partas
Eu quero ouvir uma vez mais o gravador.
Composição de Fernando Tordo
Fragmentos de um texto – um romance – um filme – uma amizade
O filme “O Carteiro e o Poeta” (Itália-1994), foi produzido a partir de uma adaptação do romance do escritor chileno “Antônio Skármeta. O Carteiro é um filme lindíssimo, com visual e trilha sonora maravilhosos, consegue transmitir com extrema sensibilidade e beleza a construção de uma relação de amizade entre o carteiro “Mario” e o poeta chileno “Pablo Neruda”.
O filme, desenvolve-se em uma pequena ilha italiana na década de 50 onde “Pablo Neruda” teria ficado exilado e o carteiro Mario, pessoa simples e humilde, ao lhe entregar as cartas, passa a se interessar pela capacidade do poeta em dominar as palavras e em conquistar um novo mundo de ideias e desejos mobilizados por esse contato, que é bem restrito num primeiro momento, mas, que gradativamente vai se transformando em uma relação profunda de amizade mediada, pela capacidade de empatia e de sentir cada detalhe, expressando em uma forma poética e conferir valor a tudo o que é vivido pelos sentidos.
Assim falavam; o carteiro Mario e Pablo Neruda!
“O carteiro fica muito interessado em descobrir como “Neruda” consegue receber tantas cartas de mulheres apaixonadas… qual seria a sua magia?
E inicia-se aí, uma linda comunicação compartilhada, sobre o que o poeta lhe apresenta a respeito das metáforas.
– O carteiro lhe pergunta: “O que é metáfora?”
– O poeta responde: “Metáfora é dizer as coisas de outra maneira”. Então o carteiro diz: “Quer dizer que tudo pode virar uma metáfora?” E o poeta responde: “Sim, tudo pode ser transformado em metáfora”. O carteiro, que era filho de pescador, não gostava de pescar, e ficava enjoado com as ondas do mar, sente-se despertado a se reconectar com a beleza do mar, das ondas, do vento, e, aos poucos passa a ter um novo olhar à natureza que o cerca, conduzido pela capacidade de dar um sentido às sensações, podendo acrescentar uma forma linguística e simbólica às emoções, aos sentimentos, às suas percepções, aprendendo a transformar as palavras em metáforas, passando a acreditar que ele mesmo também poderia transformar-se em um poeta e vir a conquistar uma mulher.” (Filme “O carteiro e o poeta”. Itália- 1994)
– Qual o belo desvelar, nesse texto?
Penso que o brilho da simplicidade, a descoberta da palavra escrita em cartas, e o valor de uma amizade. O conhecimento deixa de ser um deserto, para ser um grande caminho cintilado com as metáforas das criações imaginárias.
As “artes epistolares”, são as traduções dos nossos desejos, nossas opiniões, o nosso despertar, com pluralidades de dizeres em realidades ou nas ausências destas, as metáforas das coisas a escrever. Uma subjetividade que permite lidar melhor com a própria história.
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Cartas: palavras que viajam por mundos, oceanos e céus
Uma Carta
“Uma carta não guarda o tempo que durou a escrita.
No entanto adivinho no papel azul indícios de rascunho horas de café palavras cuidadosamente evitadas e pelo menos três cigarros.
Uma carta não guarda a vontade que a ditou.
No entanto em tua letra − o discreto desequilíbrio do t o i inquieto e o em espera − leio rastros de um hesitante amor.
Decifro assim o teu ou o meu desejo”
(Ana Martins Marques)
Cada carta é uma realidade especial, é um desejo que germina em cada escrita. A nossa existência é lembrada, quando a partir de nossas mãos, permitimos presentear olhos que ansiavam ler algo de mútua admiração.
As cartas, nos surpreendem em suas formas. Elas sempre foram fenômenos cognitivos, mas também, uma arte complexa. Quando escrevemos parece que as letras se unem em vozes que se espalham no ar. Penso que é a vontade que temos de chegar, a um destino. Podemos com nossas escritas, experimentar belíssimas sensações – por sua musicalidade em parágrafos e textos, pela poesia, pelo amor declarado -, em um papel, um envelope, que se torna belo e convidativo para ser lido.
“As cartas são o que há de mais íntimo quando o assunto é expressar sentimentos pela escrita. A importância que elas têm para nós é imensa, pois nem sempre conseguimos demonstrar nossos sentimentos apenas pela fala. Nesses casos, as cartas caem como uma luva, pois conseguimos não só demonstrar aquilo que queremos dizer, como também, apresentar de forma esquematizada, a nossa escrita com começo, meio e fim”.
(Acesso em: 29/07/2024. https://universo.paulinas.com.br/).
Há algo lindo nas escritas de uma carta. Ao ler um parágrafo amoroso, sentimos energias vitais, brilhando dentro de nós como cristais, como um jardim desabrochando com flores nos nossos corações. É simplesmente um êxtase, como o nascer do sol, ensolarado na nossa memória, em uma festa escrita, nos convidando para a significação das leituras, que nunca tem fim.
Elas seguem para um destinatário certo, e é aí nessa viagem que está a beleza; da ansiedade saudável que segue, ainda sem respostas. Receber uma carta, escrevê-la com a erudição sentida, é como o oxigênio das montanhas, árvores, praias. O importante é o bem-estar, de quem está com a delicadeza nas mãos a folhear, uma ou mais páginas das escritas de nossas cartas narrativas. Nasci no tempo das cartas escritas à mão; que grandes emoções, saber que alguém está adorando aquela carta, que veio de distâncias, escritas com narrativas do cotidiano, prosas ou versos com objetividade ou em um prazer subjetivo, nos deixando com a imaginação, bela e leve como uma brisa.
As cartas são as íntimas realidades, de cada escritor, há toda uma carga emocional e sentimental que faz dela com seus manuscritos, um meio de comunicação que eleva as palavras a outra dimensão. Escrevemos tristes, alegres, sozinhos e com as vozes de nossos sonhos, esperanças, clamor…não tem feriado, noite ou dia, escrever é ver com os olhos da alma, é deixar nas texturas dos papeis multicolores, as paisagens em palavras do que estamos naquele momento sentindo.
Uma troca de energia
O que escrevo, é o que reconheço
No meu mundo de imagens sonhadas
Escrevo para me aproximar
Das nascentes do meu amor
Conseguindo sair de desertos
Encontrando os laços
Que decoram os envelopes
Com as minhas cartas
Onde escrevo como as sutilezas
De um céu azul.
Quero sentir tudo
Ao te escrever
Desejosa que sintas
As batidas do meu coração
Ritmado com o teu
Intensamente lindo.
(Stella Gaspar- 2024)
Escrevendo… sinto, penso, estou onde desejo estar
Nós, seres humanos, temos grandezas e potenciais que desconhecemos.
As possibilidades em uma escrita de uma carta, são infinitas. Nossos pensamentos dançam nos papéis, partilhamos alegrias e em cada letra sonorizamos a espontaneidade de dizer escrevendo, o que está dentro de nós, de nossas imaginações e autopoieses.
As satisfações são muitas e podem nos levar ao infinito do amor.
Escrevendo, podemos ficar mais perto de sentimentos revelados ou não revelados. Então, nossos corações sentem-se livres, compartilhando com o destinatário nossos segredos, amor e desamor, não somos estranhos distantes, o nosso contato nas cartas, são nascimentos com traçados de vida, que continua.
“É tão precioso nos voltarmos para dentro de nós, somos um todo, somos como pássaros com asas. Necessitamos enxergar as escritas de nossas imperfeições, arrumando a casa dos nossos desejos”.
(Stella Gaspar, 2024)
A literatura no gênero carta, pode metaforicamente, ser entendida como um corpo-dançarino. A partir daí é possível perceber a tentativa da mobilidade de escrita como um corpo que se move, quando, ao mesmo tempo em que procura se desvincular de uma linguagem apenas literária e se aproximar da filosofia, procura também se desvincular da filosofia e aproximar a palavra da literatura; por isso, sempre, a escrita é como um corpo que dança, entre a ficção e a demonstração, o delírio e a lógica, a abertura do sentido e a sua validação, e assim por diante. (Tavares, 2001, p. 115).
Os e-mails e as redes sociais, hoje, substituem quase que totalmente a correspondência postal. Mas na Literatura, o formato epistolar (relativo à carta, epistolar) é uma técnica literária muito utilizada pelos autores para contar uma boa história. Os escritores também lançam mão de diários, notícias de jornais e até mesmo e-mails para dar veracidade à narrativa, criando obras instigantes. As escritas epistolares tem o superpoder de demonstrar nos seus textos; amor, alegrias paixões, com palavras de ternuras em um pedacinho de papel. É possível falar de amor, sem ver, sem tocar o outro.
Cada folha escrita, aumenta a sede de amar, de estar perto, de imaginar uma paisagem, de ser feliz. As palavras podem perfumar um travesseiro revirado e mergulhar nas memórias afetivas. Elas são silenciosas ou barulhentas, escutando-as é como sentir saudade, que somente o protagonista sabe sentir.
A escrita de uma carta de amor
Restará…
As cartas, como nossas
Palavras de amor
Com nossas fotos
Narrando nossos passeios inesquecíveis.
No envelope colorido ou branco
Restará o perfume
E as nossas juras de amor lindo
Com as nossas eternas felicidades.
Restará…
Nós dois
Nossos beijos
Nossas noites
Nossos dias
Com a vontade de registrar
Tudo nosso
Em nossas cartas de amor.
(Stella Gaspar – 2024)
Machado de Assis escreveu: “A melhor definição de amor não vale um beijo demorado”. As cartas de amor, são escritas que contém entregas. Por mais que se escreva sobre amar, é um assunto inesgotável, então partilhe o máximo, faça de sua escrita amorosa, um grande contentamento.
Profundamente lindas!
Apresentamos cartas inéditas dos escritores, poetas, convidados para estarem na nossa coluna, partilhando seus trabalhos publicados em projetos, contos e suas redes sociais.
O conjunto dessas cartas, revelam a fascinante arte de escrever, tocando em nós, a beleza poética da vida e seus acontecimentos.
Os autores em destaque, tecem excelentes produções, narrando e explorando palavras, com o poder e a criação, de suas inspirações. Suas cartas, juntam simbolismos e uma linguagem narrativa delicada, com riqueza nas palavras, abrindo caminhos, para uma linguagem que juntam palavras como um nascer de uma flor.
Vamos lê-los?
Imagem de Bruno por Pixabay
Por STELLA GASPAR