AUTOPOIESE E NARRATIVAS – Falando em “Arte e ópera” — Falamos no humano

AUTOPOIESE E NARRATIVAS – Falando em “Arte e ópera” — Falamos no humano

Aos leitores da Revista Internacional The Bard.

Bem-vindos às narrativas que aqui escrevo, para pessoas tão especiais, me apoiando com suas leituras. Desejo que o tema da 30 edição da revista Internacional The Bard “Vozes Eternas: a ópera e seu papel na cultura e arte universal”, deixe belezas e sensações fantásticas com essa narrativa e outras publicadas nas belas páginas da revista. É ótimo sentir que, ao escrever sobre tão inédito tema, desperta um sorriso a cada nova inspiração que me chega. Admito que a vontade em acertar não me abandona e nem quero que ela se vá. Sempre penso com muito respeito em vocês, meus leitores, que reservam alguns momentos para lerem a coluna “Autopoiese & Narrativas”. Busquei artigos, conteúdos nos diferentes veículos de pesquisa, que me encaminharam para as escritas dessas páginas, mostrando-as com suavidade o tema em destaque.  Falando em “Arte e ópera” — Falamos no humano.  

Obrigada por tanto, sejam bem-vindos!

Colunista Stella Gaspar

Imagem de WikimediaImages por Pixabay

 

Falando em “Arte e ópera” — Falamos no humano

O ser humano expressa-se por meio da arte desde os tempos mais remotos; a expressão artística é a forma que o homem encontra para representar o seu meio social, suas ideologias, o percurso de suas histórias, seus costumes por meio das expressões artísticas. A arte é também um passado revisitado, nele participamos com nossas expressões artísticas, nos favorecendo a entender melhor o nosso presente pelo tempo ser a matéria real da transformação, é a vida invadida de infinitos sonhos.

Imagem de Maxmamchurov por Freepik

 

Precisamos ter liberdade para caminhar com nossas criações artísticas, pois a arte nos liberta e nos leva a descobrir nossa individualidade consciente com nossas sensações e sentimentos, através de nossas palavras, nossos afetos e nossas autopoieses, criando magias em nossas almas, superando obstáculo psicológicos, sociais e ambientais que nos aprisionam.    

Recebemos as inspirações das luzes do mundo para as nossas imaginações, em um mundo de artes, nos deixando nus de nós e de nossos pensamentos. Daí, nossos desejos de sermos o que essa liberdade nos proporciona, nos impulsiona a seguirmos com vitais aspirações confiantes de nossas capacidades, vivendo a arte que escolhemos como um agradável caminho para nos tornarmos autores de nossas escolhas.

Dito isto, perguntamos: como posso fazer algo criativo, dedicando a minha vida também a uma arte? Assim, diante de questionamentos em nós, fazemos nossas opções, intuímos, sentindo em direção ao que nos leva ao encontro dos nossos sentimentos com sensações únicas de prazer e entusiasmo.

“O que fazemos com amor, é uma delícia colorida de realizações, mesmo com desafios, dúvidas e só uma certeza: a de acreditar na nossa história continuada. Escolher uma área artística que dê razão a nossa vida, é um gostar de viver, é como estar em um mundo cercado de fantasias, realidades e imagens cativantes. Somos como aves migratórias em voos contínuos”. Stella Gaspar (2025).

O grande romancista francês Honoré de Balzac (1799 – 1850) era um escritor inveterado de cadernos. Tinha verdadeiro fascínio pelo caráter humano, principalmente pelo modo como os movimentos físicos e as expressões das pessoas revelavam dados fundamentais de suas personalidades. É preciso perceber nossas sensações, construindo algo importante para nós, tecendo autopoieses de nossa profissão, nossa arte conectada com nossas satisfações.

Além do impacto emocional, a ópera também tem uma estrutura muito bem definida, composta por diferentes formas de canto e performance.

O tema “ópera” seduz não apenas por sua notável habilidade dialógica, capaz de congregar diferentes linguagens artísticas, intercambiando-as e fazendo-as soar em consonância; mas sobretudo por sua impressionante habilidade em reunir sobre o palco uma infinidade de talentos humanos, em um roteiro cuidadoso.

Poltronas, luzes, cores, sons: ficamos com nossos olhos na dinâmica do espetáculo. “Meu coração integra-se ao ritmo pulsar do momento em ressonância com a ordem cósmica. Sinto o encantamento da diversidade de vozes, alegrias e cenas no palco. Tudo é tão nobre, parece uma mistura de vozes mansas e revoltas, no dia e na noite, encontrando a lua e o sol. Stella Gaspar (2025).

Literatura, música, pintura, teatro, dança — todas essas artes se misturam neste espelho de sentimentos, de risos e choros, ouvindo o canto em profundidade. O canto de ópera é chamado de canto lírico ou ária. O canto lírico é uma técnica vocal específica que se diferencia do canto popular.  

Imagem de Oqixandri por Freepik

 

Óperas não têm canções. Na ópera, se uma única pessoa está cantando, chamamos isso de ária. Se duas pessoas estão cantando, é chamado de dueto. Três é um trio, quatro é um quarteto etc. Uma das peças mais famosas em toda a ópera é o sexteto de “Lucia di Lammermoor”. Há um coro envolvido. Quando o coro está cantando sem um solista, é simplesmente chamado de coro. Um dos exemplos mais famosos é “Va Pensiero para Nabucco de Verdi”. Esses elementos, juntamente com peças corais e números de conjunto, contribuem para a experiência musical e dramática geral de uma ópera. (Kile, P., 2015).

As óperas famosas encantam plateias ao redor do mundo, não é mesmo? Somos um sentir, um pensar fluindo como as águas cristalinas de um pacífico lago, onde cisnes dançam como um encanto acordado.

 Assim, citamos algumas famosas óperas de todos os tempos!

  • O austríaco Mozart e o alemão Beethoven também foram autores de algumas das obras mais famosas da história. Confira-as a seguir. “A Flauta Mágica” jamais poderia deixar de aparecer nessa lista de óperas famosas. Escrita em 1791, ela foi uma das últimas obras do gênio Mozart, que, com brilhantismo, apresentou uma alternância de música com diálogos jamais vistos até então. “Fidelio” é a única obra teatral do compositor Ludwig van Beethoven. Sua primeira versão foi apresentada em 1896 em um teatro de Viena e não foi bem recebida pelo público, devido ao momento político local. Além disso, sua estética também foi bastante criticada, devido à composição diferenciada de suas árias.  Dessa forma, o compositor teve que reformulá-la várias vezes.  E a partir dessa dedicação e esforço nasceu um espetáculo maravilhoso, coerente e de rara beleza, marcado pela dramaticidade e pela densidade psicológica. 
  • De Gioachino Rossini, “O Barbeiro de Sevilha” é uma ópera-comédia escrita em 1816. Esse espetáculo já contava com duas versões anteriores, mas o sucesso estrondoso veio com a versão de Rossini. 
  • Misturando tragédia e paixão, “Tosca” é uma ópera que conta a história de amor entre uma cantora lírica e um pintor. De Giacomo Puccini, estreou em 1900 e é uma das mais representativas do repertório italiano, conhecida pelas suas belíssimas árias. 
  • Composta por Giuseppe Verdi (1887) em um teatro de Milão, na Itália, a ópera “Othello” tem como narrativa a obra de William Shakespeare. Composta em quatro atos e com personagens fortes e complexos, “Othello” é, sem dúvida alguma, uma das óperas famosas mais importantes da história. 

 

 

 Bravo-bravíssimo. Ópera: a voz e sua magia

Ópera (em italiano: significa obra, em latim, plural de “opus”, obra) é um gênero artístico teatral que consiste em um drama encenado acompanhado de música, ou seja, composição dramática em que se combinam música instrumental e canto, com presença ou não de diálogo falado.

Imagem de Vlah Dumitru por Unsplash

 

A nossa voz é um atributo necessário de grande importância. Com ela desenvolvemos uma linguagem dialógica integrada a sentimentos e à energia interior. Os cantores de ópera treinam suas vozes, sem usar microfones. Para isso, eles desenvolvem técnicas para produzir um volume alto e nuances na voz. 

A voz é mais do que palavras, mais do que um som que sai da boca. O cantor de ópera precisa treinar emoções e equilíbrio, centralizando o seu cantar com tranquilidade, sentindo seu corpo livre de tensões e das exigências que impomos a nós mesmos. É uma dedicação constante o cuidado do corpo em sintonia com o âmago da voz, sendo ela uma comunicação sensível entre as fontes sonoras. Com ela nascem as poesias, as diferentes narrativas e finalmente a música.

A ópera exige vozes de elevadas sonoridades. É preciso serem cantores com grande volume na voz, pois nessa arte não é permitido o uso de amplificadores, de microfones, pois a linguagem especial da ópera é a beleza da voz “operística”.  Algumas pessoas são naturalmente talentosas quando se trata de usar a voz, mas ninguém consegue entrar em um estilo de canto tão metódico e comedido como a ópera sem se esforçar.

A Itália desponta como o berço da música europeia e tem um grande papel no desenvolvimento da voz cantada. Assim, a Itália desempenhou um papel significativo na história da música nesse universo. Logo, muitos instrumentos musicais, como o violino e o piano, foram inventados nesse país. Sendo o local de nascimento da ópera, a Itália possui muitos teatros de ópera históricos e magníficos. Assim, muitos continuam em funcionamento até hoje, numa integração de interpretação, narração, dança e canto.

 A ópera é considerada uma das formas mais sofisticadas de expressão artística. É uma arte que combina música, teatro, literatura e ciência. Palco, iluminação, cenário, adereços, diretores, cantores, atores, um espaço com inúmeras possibilidades expressivas, intensas e fonte de inspirações. A arte da ópera é apaixonante, com poder de estimular as nossas energias emocionais, nos levando a ressonâncias culturais com outras pessoas e mundos.

Imagem de Ana Krach por Pixabay

 

Nossos corações nunca estão vazios.

Nele estão nossas emoções e aberturas para o outro.

Principalmente nos sentimentos.

A forma de sentir e estar em um espetáculo artístico.

É nossa forma única. 

Tecida por nossa própria história.

(Stella Gaspar; 2025)

 

A origem da ópera moderna. O pensamento de Nietzsche

Nietzsche mostra, em anotação de 1869, que a ópera nasceu sem um modelo concreto, segundo uma teoria abstrata. Tendo origem sob a tutela das especulações teóricas de uma consciência crítica, tais experimentos antinaturais, cortam ou pelo menos mutilam severamente as raízes de uma arte inconsciente que emerge da vida do povo. Sendo esse o caso da ópera, gênero dramático moderno não tinha nada em comum com a tragédia grega, que, por sua vez, era produto do puro instinto popular: “as origens do drama remontam às incompreensíveis manifestações dos instintos populares: naquelas festas orgiásticas dominavam um tal grau de estar fora-de-si […] que os homens se sentiam e se comportavam como transformados e encantados” (Nietzsche, 1988, pp. 9-10).

A música compõe outro aspecto da crítica de Nietzsche à ópera latina: a música não deve ilustrar sentimentos, pois os sentimentos individuais, embora pertençam à esfera inapreensível do afeto, têm um lado exterior, consciente e interessado voltado para um determinado objeto. Por isso, no caso dos sentimentos, por exemplo, de amor, temor e esperança, “a música nada mais tem a ver com eles, tão repletos de representações já é cada um desses sentimentos” (Nietzsche, 2007, p. 175). A música, entretanto, para Nietzsche, está aquém desse mundo interessado na representação do indivíduo particular sujeito à limitação. Seu objeto é o fundo ilimitado e universal da vontade: A música é uma linguagem capaz de clarificação infinita. Nesse sentido, aqueles que, como os criadores do Stilo representativo, só conseguem chegar à música com seus afetos — ou seja, partem da poesia, como expressão do homem primitivo que sente e canta suas paixões, em direção à música que viria dar acento à emoção poética —, “há que se dizer que sempre permanecerão nos átrios e não terão acesso ao santuário da música que o afeto, como eu disse, não consegue mostrar, mas apenas simbolizar” (idem). Música e poesia, porém, utilizam valores similares provenientes da métrica, da rima, do ritmo, da técnica e do esforço do artista.

Imagem de Posfácio por Google – Nietzsche

 

Finalizando e agradecendo 

“Tudo foi maravilhoso, porque compartilhei com vocês a linguagem em alquimia como um grande espetáculo, abrindo as cortinas, revelando as essências de iluminadas trajetórias.”  Stella Gaspar (2025). 

Gostei muito de ter pesquisado, escolhendo o que considerei melhor para uma leitura agradável, acreditando na beleza da transcendência da produção. Escrever esse texto autopoiético me oportunizou com meus olhos de pesquisadora/escritora sentir e imaginar a espetacular coreografia humana, movendo seus corpos, mentes, emoções, num ritual de reverência à arte da ópera.

A ópera também é o espaço das artes plásticas, envolvendo a cenografia, que abrange desde a engenharia e arquitetura dos teatros até o design e a decoração do palco, a criação dos cenários, com todos os seus elementos, também dos figurinos.

Imagem de Ophassant55 Por Freepik

 

A cenografia, síntese histórica e tecnológica do ato projetivo cênico, abrange todo o processo de criação e construção do evento estético — espacial e da imagem. O cenógrafo utiliza-se de elementos como cores, luzes, formas, linhas e volumes para solucionar as necessidades apresentadas pelo espetáculo e seus matizes poéticos em diversos meios e fins. Foi considerada, primordialmente, como suporte visual à dramaturgia. (URSSI, 2006, p. 14).

Então, pesquisando as obras de William Shakespeare que foram transformadas em ópera ao longo dos séculos, compondo um repertório riquíssimo no mundo da música erudita. Aqui estão algumas das mais famosas: Romeo et Juliette (1867) – Charles Gounod Baseada na peça Romeo and Juliet (1595). Ópera francesa que segue fielmente a tragédia romântica de Shakespeare, com belas árias, incluindo o famoso dueto de amor dos protagonistas. Hamlet (1868) – Ambroise Thomas. Baseada na peça Hamlet (1603). Uma versão musical da tragédia, que se afasta um pouco da obra original de Shakespeare, incluindo um final alternativo onde Hamlet sobrevive. Antony and Cleopatra (1966) – Samuel Barber. Baseada na peça Antony and Cleopatra (1606). Uma ópera dramática que estreou na inauguração do Metropolitan Opera House de Nova York, mas teve recepção mista na época. Shakespeare foi uma fonte inesgotável de inspiração para compositores de ópera. Suas peças dramáticas e poéticas se encaixam perfeitamente no gênero operístico, permitindo que suas histórias ganhassem vida através da música. As adaptações de Verdi, Gounod e Thomas estão entre as mais populares e ainda são amplamente encenadas nos teatros de ópera ao redor do mundo.

A ópera, vista na sua definição mais frequente e genérica de teatro cantado, seria um gênero sem identidade específica, que abarcaria todos as formas que juntam cena à música cantada. Mas todos os que se interessam pelo gênero sabem que a ópera é bem diferente de um musical da Broadway, ou de uma peça de teatro de revista. Nem sempre é tão simples separar ópera de outros gêneros cênico-musicais. O teatro musical erudito e a ópera de câmara são dois gêneros muito semelhantes, por exemplo. Para tentar conceituar ópera, talvez fosse necessário voltar aos primórdios da sua história e traçar o seu desdobramento até o século XXI.

Imagem de ArchDaily Brasil

 

A ópera se caracteriza também por ser uma das maiores e mais caras formas de entretenimento musical e precisa, nas suas obras mais grandiosas, de algum tipo de subsídio financeiro para sobreviver (apoios governamentais, corporativos, empresariais, reais ou doações particulares) em se tratando de Brasil.

Essa arte é apontada por ser um dos gêneros que mais despertaram críticas apaixonadas, e já foi considerada a mais sublime expressão do espírito humano.

Nesse sentido, esse espaço artístico divino tem o ser artístico entrelaçando-se com suas interpretações, a plateia esforçando-se para compreender a narrativa cênica e os protagonistas manifestando sua plenitude.

Mas, por fim;

É uma honra poder sentir grandes alegrias após a conclusão de um trabalho literário e saber que ele poderá chegar em muitos mundos. Essa é a minha grande meta, que resulte em uma teia de ideias para vocês.

Entre as grandes histórias da ópera, “O Fantasma da Ópera” conquistou o imaginário popular com sua atmosfera misteriosa e intensa. O poema a seguir busca capturar esse espírito.

Imagem de Rolling Stone Brasil

 

O Fantasma da Ópera.

Gabriela Malheiros (14/11/2005).

 

Às vezes, esse gosto suave.

Que me eleva aos céus com a melodia da noite.

Me consome e me atira novamente nos teus braços.

Uma intoxicação relevante.

Que me conduz ao seu mundo subterrâneo.

Que canta comigo mistérios e paixões.

Onde não há mais retorno.

Tu és o meu anjo da música!

Cante! Doce fantasma, dono do mistério dos olhos negros…

Mascarado, o mundo jamais o encontrará.

Imagem de Ahmad Ardity por Pixabay

 

Referências

  • NIETZSCHE, F. “O Nascimento da Tragédia”. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Cia das Letras, 1999.
  • NIETZSCHE, F.” Introdução à tragédia de Marcos Sinário P. Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 2006).
  • URSSI, Nelson José. A linguagem cenográfica. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.
  • HARTKOPF, Alessandra Lucas Lopes. Ópera brasileira nos séculos XX e XXI: de 1950 a 2008. 2010. Dissertação (Mestrado em Música) — Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
  • https://www.scielo.br

Por STELLA GASPAR

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