AUTOPOIESE E NARRATIVAS – Percurso cultural histórico — Museus — Origem e Legados

AUTOPOIESE E NARRATIVAS – Percurso cultural histórico — Museus — Origem e Legados

Considerações Iniciais

A Revista Internacional The Bard, na sua 29ª edição, tem como tema de capa “Museus pelo mundo. O papel desses espaços de exposição, representação e memória na cultura contemporânea.”

A Coluna Autopoiese & Narrativas, busca neste artigo integrativo, intitulado; “Percurso Cultural Histórico — Museus e seus Legados”, visa desenvolver uma narrativa autopoiética, objetivando contribuir para o intercâmbio de conhecimentos, pesquisa e divulgação das instituições museológicas, aos que apreciam essas importantes instituições de preservação da memória e difusão do patrimônio cultural. Neles, encontram-se acervos de diferentes naturezas e temporalidades.

Por meio de suas coleções e acervos, os museus apresentam a permanência em contraponto com a transitoriedade. Sua base está na perspectiva preservacionista. Pode-se afirmar que, os museus colaboram efetivamente com o desenvolvimento social, econômico e cultural. Nesse sentido, a narrativa se desenvolverá explorando o conceito de “museu”, seu desenvolvimento histórico, importância no contexto contemporâneo e legados deixados ao longo do tempo, como apresenta Maria Cristina Oliveira Bruno (2011), conceituando-os como locais de seu tempo, visíveis aos seus contemporâneos e sempre servindo a causas de sua época.

Existe uma multiplicidade de visões sobre os museus na atualidade. Muitos contribuirão para o intercâmbio de ideias e experiências relativas ao contexto museológico paulista e brasileiro. Citamos Maria Xavier Cury, que é concisa ao circunscrever museus como “uma modalidade pragmática da museologia”. Ana Silvia Bloise nos fornece a pista histórica dos museus vinculados às hierarquias sociais do legado europeu moderno e ao culto dos vestígios do passado. Nesse sentido, aponta as contradições de um caráter público. Ana Mae Barbosa pensa os “museus como laboratórios de experimentação, com a função de uma escola crítica e transformadora que questione os valores do próprio museu”. Essa dimensão do indivíduo, da perspectiva do potencial educativo das instituições museais, também transparece na escrita de Marcelo Mattos Araujo, que enfatiza o papel transformador do museu na sociedade contemporânea, em “ações que nos desautomatizem.  (Museus: o que são, para que servem? São Paulo–SP, 2011).

Ao final da narrativa, concluirei com as principais abordagens e reflexões acerca desse bem comum com diferentes olhares dinâmicos e públicos.

Assim, é uma alegria para mim, compartilhar com todos vocês, esses escritos e achados.

Bem-vindos!

 

  1. Percurso cultural histórico — Museus — Origem e Legados

“A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver.” (Publicado em Revista Educação e Cultura — Paul Klee, um “Degenerado”. 24/02/2019).

Imagem de StockSnap por Pixabay

        

O Conselho Internacional de Museus — ICOM é uma associação profissional sem fins lucrativos, financiada predominantemente pela contribuição de seus membros, por atividades que desenvolve e pelo patrocínio de organizações públicas e privadas. O ICOM foi criado em 1946 e tem sede em Paris, junto à UNESCO. É uma associação que estabelece padrões éticos e profissionais para os museus e promove a capacitação e o avanço do conhecimento. Em 24 de agosto de 2022, o ICOM aprovou uma nova definição de museu, incorporando elementos como sustentabilidade, inclusão, diversidade e garantia de direitos.

Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, promovendo a diversidade e a sustentabilidade. A função primária de uma instituição museológica é contar a história do homem e como a sociedade evoluiu em seu ambiente ao longo dos anos, seja qual for o tipo de museu e das peças que compõem seu acervo.  

            Quando visitamos um museu depreendemos o quão pequenos somos, e entendemos a valência dos rendimentos de nossas transformações culturais. Identificando nossa história por meio de objetos e imagens, fazendo com que criemos bens para reflexão sobre o passado, a atualidade e o futuro. Isso terá como consequência o desenvolvimento da nossa capacidade adaptativa ao longo da vida e formas de viver.

 

1.1 – Museu, templo. Morada das Musas.

 

Imagem de Lionel Borie por Pixabay

 

A palavra museu vem do grego mouseion, que significa “templo ou morada das musas”. Tem início na mitologia grega quando Zeus, Senhor dos deuses, tem relações com Mnemósine, a deusa da memória, que gera e dá à luz a nove musas.

 

Minhas Eternas Musas

Por Falcão S.R – Rio de Janeiro–RJ.

 

Num sonho tão divino que nunca imaginei.
Buscando inspiração para escrever um poema.
Nove musas da mitologia grega encontrei.
Sendo agora de meus versos o lindo tema.

Urânia falou-me de minha estrela.
Seus fenômenos e mágica fantasia.
Que cada um tenha sua companheira.
Que lá do alto nos observa e guia.

Tália disse-me que a vida é uma comédia.
Encenada num palco escuro ou iluminado.
Depende de nós sermos alegria ou tragédia.
Um pesadelo ou jardim florido e abençoado.

Calíope muito eloquente e vaidosa.
Relatou-me sobre guerras e vitórias.
Epopeias épicas grandiosas.
Que mudaram o curso da história.

Polímnia com sua retórica envolvente.
Parecendo um político enganador.
Tentou me convencer, inutilmente.
Que só os tolos acreditam no amor.

Euterpe com seu lirismo, me brindou.
Exibindo seu talento em notas musicais.
Tocando a flauta, o mundo encantou.
Belos momentos que não esquecerei jamais.

Clio frustrada e totalmente entristecida.
Com aqueles que pela paz tanto lutaram.
Fez um relato do que foi a sua vida.
Que infelizmente o homem nunca acatou.

Erato, amável, sublime e radiosa.
Lirismo que a poesia romântica fascina.
A musa da ternura esplendorosa.
Amor que consagra e a alma ilumina.

Terpsícore deu um show de talento.
Numa dança onde parecia levitar.
Como folha levada pelo vento.
E beleza da luz da lua sobre o mar.

Melpômene enganou-me com seu canto.
Tal qual sereia, ilude o humilde pescador.
Não percebendo que era amargura e pranto.
O que ocultava sob o som de um falso amor.

Fui ao encontro de Mnemósine e Zeus.
Para agradecer pela imensurável alegria.
Por serem pais de quem ilumina os dias meus.
As musas das artes, ciência e poesia.

(Texto publicado no site Luso-Poemas https://www.luso-poemas.net)

As musas eram as filhas de Zeus e Mnemósine, a deusa da memória, e eram ninfas que habitavam os bosques. Com o tempo, foram elevadas à categoria de divindades e se tornaram inspiradoras da poesia e da música. 

As nove musas eram: Calíope, Clio, Erato, Euterpe, Melpôme, Polímnia, Tália.

Calíope. (A da bela voz). Clio (A que celebra). Erato (A amorosa). Euterpe (Deusa da música e da poesia lírica) Melpômene (A cantora, melodiosa) Polímnia (Deusa dos hinos) Tália (Deusa do florescer) Terpsícore (deleite da dança).

Imagem de ha11ok por Pixabay

 

As Musas são figuras femininas da mitologia grega, fonte de inspiração nas artes ou ciências. O significado de musa tornou-se abrangente, sendo utilizado no sentido figurado para designar a mulher amada ou aquela que traz inspiração, seja na pintura, na poesia ou outras formas de expressão cultural.

Na literatura, as musas são invocadas tipicamente ao princípio, ou próximo, de um poema épico ou história clássica grega. Serviam de ajuda a um autor, ou como autêntico orador do qual o autor não era mais que a voz. Originalmente, a invocação às musas era uma indicação de que o orador se movia na tradição poética, conforme as fórmulas estabelecidas.

Na Grécia Antiga, o museu era um templo das Musas, divindades que presidiam a poesia, a música, a oratória, a história, a tragédia, a comédia, a dança e a astronomia. Esses templos, bem como os de outras divindades, recebiam muitas oferendas em objetos preciosos ou exóticos, que podiam ser exibidos ao público mediante o pagamento de uma pequena taxa. Em Atenas, se tornou afamada a coleção de expostas nas escadarias da Acrópole no século V a.C. Os romanos expunham coleções públicas nos fóruns, jardins públicos, templos, teatros e termas, muitas vezes reunidas como botins de guerra. No oriente, onde o culto à personalidade de reis e heróis era forte, objetos históricos foram coletados com a função de preservação da memória e dos feitos gloriosos desses personagens. Dos museus da Antiguidade, o mais famoso foi o criado em Alexandria por Ptolomeu Sóter em torno do século III a.C., que continha estátuas de filósofos, objetos astronômicos e cirúrgicos e um parque zoobotânico, embora a instituição fosse primariamente uma academia de filosofia, e mais tarde incorporasse uma enorme coleção de obras escritas, formando-se a célebre Biblioteca de Alexandria.

 

2 – Um diálogo no tempo -vivendo e aprendendo

    Os museus preservam a identidade de uma comunidade, nação, estado ou região. São espaços para a pesquisa, estudos e conhecimentos da história. É um espaço de conexão entre ciência, cultura e sociedade, tendo como pressuposto básico informar e educar por meio de exposições permanentes, atividades recreativas, multimídias, teatro, vídeo e laboratórios. Uma de suas funções é despertar a curiosidade, estimulando a reflexão e o debate, promovendo a cidadania, colaborando para a sustentabilidade das transformações culturais, estando ao longo do tempo auxiliando para a formação cultural em nosso país, intensificando saberes inerentes as construções do desenvolvimento humano ao longo do traçado histórico, com um leque bastante amplo de informação, nos processos de conhecimento, em diferentes ângulos.

Na história e seus percursos vivemos e aprendemos, num sentido profundo, que nos leva a compreender a própria vida.

A concepção de museus trazida nesta narrativa é um tributo ao reconhecimento de que estas instituições vivem em conexões com a melhoria do aspecto social.

O museu tem sua origem no colecionismo e no diletantismo e sua institucionalização foi lenta e gradual. A história dos museus é muito antiga e abrangente, mas o termo “museu” só foi adotado no Renascimento, transformando-se na instituição voltada para a comunicação do patrimônio a ser preservado.

Portanto, os museus são importantes para a formação cultural do país, por reconhecerem as transformações da inteligência em aprender a aprender em um conjunto dinâmico de operações cognitivas, com informações de qualidade nos seus acervos.

 

2.1 –Museu e turismo — físico e virtual

A história dos museus está ligada ao turismo, também virtual. Aqui no Brasil, temos o “Museu do Amanhã”, na cidade do Rio de Janeiro. Podemos fazer um tour virtual, oportunizando a acessibilidade da sociedade interessada.

Os museus virtuais são mediados pelas linguagens digitais, tais como: virtual, digital, internet, web, ciberespaço, hipertexto, interface e interatividade.

Além deste museu, destacamos, nessa modalidade, os museus. Louvre – França; Metropolitan Museum of Art em Nova York, Estados Unidos; Art. Institute of Chicago – Estados Unidos; Museu do Vaticano — Roma. Podemos citar grandes museus como o museu de Arte Assis Chateaubriand (mais conhecido pelo acrônimo MASP) São Paulo — Brasil; Museu Yad Vashem – The Word Holocaust Remembrance Center-Jerusalém, Israel; Museu Nacional de Belas Artes – Buenos Aires, Argentina.

Existem diferentes tipos de museus no mundo.

  • Museus Históricos. (Museus em que prevalece a relevância histórica do seu acervo).
  • Museu Científico-Tecnológicos. (Museus com objetos e ferramentas para o estudo e divulgação da ciência).
  • Museus de Arte. (O seu acervo é constituído exclusivamente de obras de arte, como esculturas, pinturas e instalações). Seu foco está em obras clássicas e históricas.
  • Museu de Arte Contemporânea. (Abordagem inovadora e experimental).

 

Há museus de todos os tipos: ao ar livre, interativos, com alta tecnologia, outros dedicados a documentos, ao vestuário, às ciências, idiomas… e claro, os mais “tradicionais”, com quadros e esculturas.

Visitar museus é um passeio dinâmico e prazeroso, é uma grande pedida para quem está viajando ou até mesmo para quem quer conhecer um pouco melhor a própria cidade.

 

2.2 – Museu Nacional da Poesia (MUNAP)  

O MUNAP foi fundado em 2006 e cadastrado no Ibram pela artista e poeta Regina Mello. Baseado em um conceito inovador que vai além dos modelos tradicionais, o Museu desenvolve suas ações ao ar livre, no Parque Municipal Américo Renne Giannetti, no centro de Belo Horizonte. Numa perspectiva ampla de acessibilidade e inclusão à poesia e à arte, criando espaço entre presente – passado – futuro. Gratuito, dinâmico e em constante transformação.

O Museu Nacional da Poesia – MUNAP é um museu sem forma e sem bordas; um museu que existe por meio de ações. Localizado no centro de Belo Horizonte. Numa perspectiva ampla de acessibilidade e inclusão à poesia e à arte, criando espaço entre presente – passado – futuro. Gratuito, dinâmico e em constante transformação.

 

Uma poesia.

Por Stella Gaspar.

 

A beleza de uma vida.

Passado, presente, futuro.

Prazeres existenciais.

Variedades da palavra amor.

Uma poesia.

Em diferentes tempos.

Ligação mítica entre mim e você.

Teu nome está ao meu redor.

Um elo natural.

Nas nossas histórias.

De um sabor.

Especial, para os nossos olhos.

O meu sentir vital.

Voa nas abstrações.

Por caminhos dos deuses.

Que me levam para.

Dentro da tua vida.

Imagem de Christine Engelhardt por Pixabay.

 

Considerações finais

Destacamos a dimensão prazerosa e de entretenimento de uma parcela significativa de pessoas que circulam pelos espaços museológicos.

É preciso existir a perspectiva de ação museológica inclusiva, em diálogo com as diversas demandas sociais, possibilitando a evolução da sociedade, que podem refletir e transformar os erros, equívocos do passado, para melhor acomodação no presente.

Faz-se também importante entender o papel do consumo cultural na contemporaneidade e entender os museus, não como meios de comunicação, mas como mediadores de capacidades ativas de conhecimentos e aprendizagens, por meio da comunicação, por meio de exposições e ações culturais e educativas, enquanto ajudam a constituir sentidos que vão compor o imaginário individual e coletivo.

Na contemporaneidade, os museus evidenciam processos interdisciplinares e ações educativas interativas. Conforme a Política Nacional de Museus do Brasil,  mais do que instituições estáticas, são processos a serviço da sociedade, e são instâncias fundamentais para o aprimoramento da democracia, da inclusão social, da construção da identidade e do conhecimento, e da percepção crítica da realidade.

Para Jorge Wagensberg, (1948-2018), que foi um físico, museólogo e divulgador científico catalão, diretor do Museu de Ciência de Barcelona, “museu está para despertar a curiosidade científica. Um museu tem que emocionar. Seduzir o visitante para os mistérios da realidade. É a melhor forma de fazer com que ele queira entender a realidade”.

Imagem do Cientista e museógrafo Jorge Wagensberg – Publicação

 

A finalidade última do museu é trazer algum tipo de benefício às pessoas e provocar mudanças em suas vidas, e não ser simplesmente uma casa de custódia para obras de arte ou um centro erudito.

Os museus são espaços de aprendizagem sobre vários assuntos, como arte, história, geografia, biologia, ciências e astronomia. 

Imagem de GuangWu YANG por Pixabay

 

Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/ -04/12/2024

Museus: o que são, para que servem? Sistema Estadual de Museus –

SISEM SP (Organizador)

Brodowski (S.P): ACAM Portinari; Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

São Paulo, 2011. (Coleção Museu Aberto)

Para além dos muros: por uma comunicação dialógica entre museu e entorno. Cristiane Batista Santana (Texto).

Brodowski (S.P): ACAM Portinari; Secretaria de Estado da Cultura de São

Paulo. São Paulo, 2011. (Coleção Museu Aberto)

 

Por STELLA GASPAR

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