O interfone toca
Da frente pra tela do computador, ouve ela aquele som
estridente e quase desconhecido
Não se apressa, levanta pra atender sem pensar no
que poderia ser
— Alô!
— Posso subir? Do outro lado da linha, a voz do Cheiro
Do lado de cá, a perplexidade do inesperado
— Pode. Disse ela sem pensar no que poderia haver
Confusa pelo seu estado físico e emocional daquele
finzinho de tarde, apressa-se a arrumar pelo menos
o cabelo
Rapidamente, batidas à porta
Abre e o deixa entrar
Ele tem em mãos um tapware gigante e diz que precisa retirar as suas roupas
Surpresa e ainda confusa, permite o seu acesso ao
quarto, que ainda dos dois não deixara de ser
Rapidamente as gavetas são esvaziadas, sem atenção
e sem critérios
Na caixa branca são jogadas suas coisas ao ponto de
transbordar
Pra trás, deixa algumas peças consideradas velhas
O cheiro é dali retirado, do ambiente esvaziado
Senta-se ele à sala, à espera do findar da aula da filha
que veio buscar
Do Cheiro, aproxima-se a Confusão
De joelhos e com as mãos aos dele, lhe pede pra não ir
Com a perna quicando, nervoso, acelera seu quicar
E esse amor de perdição a perseguir o vento, lhe mantem
refém do tempo
Daquele tempo de sinfonias cósmicas que ali desfragmentam-se em poeira passada
Poeiras soltas dos rastros dos faroestes, poeiras suspensas de cidades fantasmas
Levanta ela a cabeça e seus olhos vão ao encontro
daquele homem sem máscara
Em seus olhos, a dor, a culpa e o vazio do não saber
como voltar
Ainda na adrenalina dos gestos impulsivos, não percebe
ela, o momento de parar
E como o veneno da ponta da flecha, não sabe ela retirar
esse amor a espalhar-se pelo seu corpo
Não sabe ela como deixar de amar
Por EMANUELA LOPES
Salvador – BA, Brasil