COLUNA HUMANILITERAR – Um grito que atravessou séculos: Deixe meu povo ir!

COLUNA HUMANILITERAR – Um grito que atravessou séculos: Deixe meu povo ir!

“A África é uma página em branco, um continente que ainda está à procura de seus contadores de histórias”. (Luandino Vieira)

A cultura africana é um universo vibrante e diversificado, rico em tradições, histórias e expressões artísticas que atravessam séculos. Esse artigo dá ênfase à literatura e música africanas, vozes poderosas que ecoam os sons e as cores do continente, transmitindo sua essência e sua alma ao mundo.

Entre os muitos escritores africanos que deram voz à sua terra natal, Luandino Vieira se destaca como um apaixonado defensor da África e de suas histórias. Vale destacar uma de suas citações: “A África é uma página em branco, um continente que ainda está à procura de seus contadores de histórias”. Ainda bem que as obras de Luandino e de muitos outros ressaltam a importância de preservar e celebrar as narrativas africanas, que são uma parte fundamental da identidade do continente.

Vieira, nascido em Angola, se dedicou com fervor à escrita sobre a realidade africana, abordando questões sociais, políticas e culturais com uma sensibilidade única. Sua obra reflete o amor profundo que ele sentia pela África e seu povo: “Eu amo minha terra, eu a amo com todas as suas contradições, com todas as suas desordens, com toda a sua beleza”.

Além de Luandino Vieira, outros escritores africanos deixaram um legado duradouro na literatura mundial. Chinua Achebe, autor de Coisas Despedaçadas, uma obra-prima que oferece uma visão profunda da vida na Nigéria colonial, traz uma das mais belas citações literárias de todos os tempos: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador”.

Achebe estava certo! É primordial que conheçamos a história da África a partir da perspectiva africana, sem distorções ou estereótipos coloniais. Ele e outros escritores africanos desempenharam um papel crucial na construção dessa narrativa autêntica, reivindicando a voz e a identidade do continente.

Imagem de Žaneta Mišutová por Pexels

 

A literatura africana é uma ponte que conecta o passado ao presente, celebrando a riqueza de sua cultura e desafiando as narrativas dominantes. Afinal, como o escritor nigeriano Wole Soyinka disse: “A literatura africana é a casa do espírito humano, a casa do espírito africano, que flui de maneiras muito diferentes, mas ainda assim, de maneiras conectadas”.

Portanto, ao explorarmos a cultura africana, somos convidados a respeitar e nos conectar com suas histórias, suas tradições e sua humanidade. As obras literárias africanas, por sua vez, nos lembram da beleza e da complexidade do continente, inspirando-nos a celebrar sua diversidade e a valorizar suas contribuições para o mundo. É através dessas histórias que a África se torna viva, pulsante e inesquecível.

Outro exemplo artístico que exprime a força e a resistência da cultura africana é a música “Let my People go” (Deixe Meu Povo Ir). Trata-se de uma canção espiritual afro-americana que ganhou proeminência durante o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Uma poesia musical, associada ao gênero do gospel e do jazz. Um lamento da alma, como o próprio jazz exprime.

“Let my People go” faz alusão à história do êxodo dos israelitas do Egito, como relatado no Livro do Êxodo da Bíblia. A frase “Let my people go”  é um grito de libertação, que ressoa com a luta dos afro-americanos por igualdade e liberdade. A analogia entre a história bíblica e a experiência dos afro-americanos é uma característica marcante das canções espirituais negras que trouxeram muita cor, vida e senso de humanização ao mundo.

Imagem de Askar Abayev por Pexels

 

Com um ritmo contagiante, “Let My People go” transmite esperança e resistência. Sua batida de jazz e harmonias de gospel criam uma atmosfera poderosa, que captura a energia e a determinação do movimento dos direitos civis. Não por acaso, Brooklyn se tornou um dos maiores cartões postais do mundo e o jazz é um dos maiores influenciadores dessa atração.

Muito mais do que uma linda canção, “Deixe Meu Povo Ir” é um exemplo vivo da resistência da cultura africana e afro-americana. Ela representa a capacidade do povo negroafro-descendente de transformar sua dor em arte, sua opressão em expressão e sua luta em música. Os afro-americanos encontraram uma maneira de manter viva sua identidade, resistir à injustiça e inspirar outros a se unirem em busca da liberdade e da igualdade através do ritmo  do saxofone, e isso ficou registrado na História da Humanidade.

Imagem de Djaya por Freepik

 

O jazz, de certa forma, é uma expressão de fé e esperança. Nele, há a mensagem de que, apesar das dificuldades e adversidades, há uma promessa de libertação e redenção. Essa mensagem transcendente e ressoa não apenas na comunidade afro-americana, mas em todos os que lutam por justiça e dignidade. A paixão africana por tudo o que luta é contagiante.

“Let my People go” é muito mais do que uma linda canção. É um hino de resistência, uma expressão de fé e uma lembrança da resiliência do povo africano e afro-americano. Sua música e literatura continuam a ecoar em todo o mundo, inspirando aqueles que leem ou ouvem a nunca desistir da luta por um mundo mais justo e igualitário. Sem autor específico, faz parte das canções espirituais afro-americanas que, muitas vezes foram criadas e transmitidas de forma oral ao longo do tempo, com letras e melodias sendo modificadas e adaptadas por diferentes comunidades ao longo dos anos.

Imagem de Christian Alemu por Pexels

 

Minha voz se une a essa oralidade que sobriveu há séculos, a esse grito universal pela igualdade e pela justiça. Em nome de todos os africanos e de todos aqueles que lutam por um mundo mais justo, repito:

― Deixe meu povo ir!

Viva a África!

Por SUELI LOPES

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