COLUNA MYSTÉRIO RETRÔ – A Rainha do Crime Agatha Christie e sua obra

COLUNA MYSTÉRIO RETRÔ – A Rainha do Crime Agatha Christie e sua obra

Durante sua longa carreira literária, Agatha Christie produziu 66 romances de ficção crime, mais de cento e cinquenta contos policiais, vinte peças de teatro, dois livros autobiográficos e seis românticos, baseados em dramas existenciais, sob o pseudônimo de Mary Westmacott.

Isso a fez ser conhecida como a Duquesa da Morte e Rainha do Crime, além de ser o escritor (sim, no masculino, pois se colocarmos no feminino seria excludente) que mais vendeu livros na história da humanidade, chegando próximo a impressionante marca de quatro bilhões de exemplares, perdendo somente para a Bíblia. Seu nome está no Guiness Book, nesta posição, desde 1962 e, por enquanto, nenhum outro escritor chegou à metade disso.

Antes de dizer o assunto que será escopo desta introdução, vale citar que suas vinte peças teatrais, muito mais do que A Ratoeira (The Mousetrap), que está em cartaz em 23 anos ininterruptos — daremos um desconto para a pandemia de 2020/2021 —, lhe dão o título de Primeira Dama do teatro inglês, ao lado de William Shakespeare, por ter sido a mulher inglesa, aí sim no feminino, a ter mais peças teatrais produzidas, além do feito, até hoje insuperado, de ser a única a ter três peças de  cartaz, simultaneamente, nos teatros do West End de Londres e, de quebra, também tinha uma na Broadway, do outro lado do Atlântico.

Todos tentam descobrir qual a fórmula de tal sucesso e ficam surpresos ao se deparar com uma dona de casa, com pouca instrução formal — ela só frequentou uma escola tradicional aos onze anos de idade, apesar de ter aprendido a ler sozinha aos 4, o que lhe traria problemas futuros para escrever —, extremamente tímida, que não compreendia o próprio sucesso, nunca soube quanto tinha dinheiro no banco e, principalmente, nunca teve nenhum tipo de vaidade proveniente de sua fama, preferindo passar incógnita na vida pessoal usando seu verdadeiro nome de Mrs. Mallowan — sobrenome de seu segundo marido.

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Já ouvi dizer que seu sucesso provém do uso de linguagem hipnótica em seus textos. Dificilmente isso seria reproduzido em uma tradução e, pelo exposto acima sobre seu nível de instrução, impossível para seu nível de conhecimento.

Também falam do infame desaparecimento de 1926, como sendo a mola propulsora, porém, nessa época, ela já era um best-seller na Inglaterra, França e Estados Unidos, creditando muito mais credibilidade a seus livros — O Assassinato de Roger Ackroyd (The Murder of Roger Ackroyd) tinha sido lançado seis meses antes e explodido em vendas e matérias de jornal.

A grande verdade é que não existe uma fórmula, uma regra, ou até mesmo uma explicação para tal fenômeno e os que tentaram simplificar isso a uma equação tiveram um resultado matemático que não conseguiu provar seu teorema.

O que se pode fazer, de maneira simplista e não dogmática, é tentar analisar profundamente o que de principal existe em seus textos. Vale ressaltar aqui que seus livros de cunho “romântico” talvez jamais tivessem sido publicados, com exceção de Ausência na Primavera (Absent in the Spring), se ela já não fosse Agatha Christie e tivesse influência sobre os editores — ressaltando que seu editor de mistério, Willian Collins & sons, se recusou a publicá-los originalmente, o que foi feito por outras editoras inglesas e americanas. Nos Estado Unidos esses títulos até tiveram boa recepção, o que fez seu agente americano pedir por mais livros escritos por Mary Westmacott. Para sorte da Collins, que achava que Dama do Crime perdia tempo um precioso escrevendo “aquilo” ao invés de mais um livro de mistério, a própria Agatha dizia que eram textos “da alma”, escritos somente quando seu eu interior clamava por eles, não sendo uma produção em série.

Falando em produção “em série”, lógico que tanta criatividade não poderia ser esperada e encontramos sim, e sem nenhum problema, repetições de seus mesmos temas, técnicas e fórmulas, tudo isso, sim, entregue em um grande e enfeitado pacote de criatividade explícita, que levam os leitores a jamais perceber que estão, mais uma vez, hipnotizados pela presdigitação de Christie, como ela própria admitia ser a arte de escrever romances policiais: fazer o leitor olhar para uma das mãos do mágico atentamente, enquanto com a outra ele fazia o truque.

Juntando meu conhecimento de mais de quarenta anos de estudo da obra, e da mulher Agatha Christie, às minhas estruturas de escrita de ficção de crime, detalhadas em meus cursos, sempre baseadas na autora inglesa e aos brilhantes textos exploratórios de Chrystal Siqueira, referência em escrita da Dama do Crime, lançamos este mês o livro Técnicas e Truques de Agatha Christie para fãs e escritores de ficção de crime.

Não se trata de ousadia ou mais uma frustrada tentativa de explicação do inexplicável, mas de uma dissecação profunda e cuidadosa do que, entre outros tantos fatores muito mais importantes, contribuiu para seu sucesso.

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O texto, como já falei, em nada pretende ser dogmático, inclusive, há advertências sobre não se restringir a regras na escrita. A criatividade bem empregada sempre leva a novos rumos. O livro foi escrito como um complemento objetivo para o enriquecimento no mundo do conhecimento sobre Agatha Christie e crescimento em técnica, caso o leitor seja um escritor de ficção de crime.

Técnicas e Truques de Agatha Christie para fãs e escritores de ficção de crime é uma publicação da Revista Mystério Retrô — 144 páginas e caderneta de exercícios de escrita criativa opcional.

LIVRO

Por TITO PRATES

 

 

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