Peguei gosto pelas histórias e não somente por elas, mas pela forma com que
eram apresentadas e decidi contá-las também.
Mulher periférica, nascida e criada no extremo sul da zona Sul de São Paulo, lugar onde a imensidão das problemáticas sociais contrastam com as poucas políticas públicas que efetivamente, amenizam as necessidades da população. Neste contexto, as atividades culturais vivenciadas a partir das relações estabelecidas nos poucos equipamentos públicos, bem como nos lugares de espontânea convivência e ainda, no interior dos lares, fortalecem, estimulam e muitas vezes nos salvam enquanto seres sociais. Assim constituiu sua história.
Desde pequena ouvia as histórias contadas pela mãe, leitora assídua, ainda que com pouca formação.
“Além de nos ensinar a leitura de mundo antes da leitura da palavra, ela contava e lia as histórias. As bíblicas, as histórias de tradição oral, as histórias e poemas da Henriqueta Lisboa, obra que ela aprendeu a gostar com o meu avô, que guardava os livros tão velhos, gastos e até fragmentados quanto encantadores, mágicos e raros.”
Pouco a pouco, “como um fio que tece um grande tecido”, foi constituindo a lista de autores prediletos, os quais guarda com cuidado em memórias afetivas. Muitos anos depois, descobriu que a arte de contar histórias, iniciada no contexto ancestral, poderia se tornar uma atividade profissional. Conheceu exímios contadores de histórias, Kiara Terra, João Acaiabe, Giba Pedrosa, que foram de imensa importância para sua formação.
João Acaiabe iniciava o quadro de contação de histórias na TV, dizendo que “O contador de histórias traz na memória toda a história que o tempo contou”. Sim, quem conta as histórias nos proporciona viajar pelo tempo, conhecer lugares e pessoas que nunca vimos, mas que se tornam tão conhecidos e íntimos como os amigos de longa data. Mais que isso, permite que conheçamos a nós mesmos, nossos medos e desafios diante da vida.
O desenrolar das tramas se confundem com os enredos que a vida constrói, assim o contato com as histórias torna mais fácil a resolução dos nossos conflitos internos. Por isso, a importância de que o contador conheça, estude e escolha a história com propriedade, que não a tome como algo utilitário e moralizador, mas que seja uma narrativa que encante naturalmente o ouvinte, sem a intenção de desenvolver crenças e valores.
Ressalta a importância da identidade do ouvinte com as histórias também é proporcionada pela diversidade, pela presença da ancestralidade, pelo cuidado em não apresentar ou reproduzir estereótipos.
Defende que as histórias só transformarão as pessoas, quando elas se sentirem representadas como personagens protagonistas de suas histórias. Para isso é essencial valorizar a literatura que nasça nas periferias, nas aldeias, nos mais diversos quilombos culturais, que traga personagens que vivam como vive o próprio leitor. Dessa forma, contar histórias é colaborar para uma sociedade mais sensível, empática e justa.
UM OUTRO PAÍS PARA AZZI
UM AMIGO PARA SEMPRE
O PÁSSARO DE OURO
O LENÇO BRANCO
Por ELAINE SILVA LACERDA