“Havia uma luz, uma ideia, um sentimento pela arte, em especial a cênica, que me envolveu ainda muito pequeno.”
Aos 3 anos de idade, frequentava creche do Sesc RJ, para a mãe trabalhar. Para ele, algumas imagens desta época são nítidas em visão e sensações, entre elas uma era a de uma sala onde possuía uma arara de roupas, com fantasias de bichos penduradas.
Não íamos nesta sala todos os dias, disso eu me lembro. Ou deduzo –já que o tempo-espaço da criança é deveras especial. Sinto, ainda hoje, um pouco daquela sensação de vontade de estar naquela sala, esperando entrar ali novamente e vestir a fantasia de jacaré. Ali nascia um ator.”
Conheceu o teatro pela televisão, aos sete anos, assistia programas infantis, com personagens de contos de fadas e dizia que queria fazer aquilo também, mesmo sem saber o que era “aquilo”.
Aos 16 anos, já entendia um pouco de teatro, por ser frequentador das peças do Teatro Anchieta do Sesc Consolação, das peças da Praça Roosevelt e do polêmico e acolhedor Teatro Oficina, onde iniciou sua reverência à Baco.
“Mas foi aos 18 que conheci o monstro que de alguma forma me devorava, regurgitava e me engolia novamente, na escola de atores.. Há ideias desvendadas (ou “fichas que caem” até hoje da escola de atores, onde vi a cara do teatro ao vivo, aquele monstro que muita coisa boa deu ao ‘eu artista’ ”
Seguiu como ator, até que em 2005,recebeu uma ligação de Ricardo Santhiago, jornalista, editor e professor, o convidando para um projeto de contação de histórias, na Mostra de Arte do Sesc.
Eu era ouvinte e muito encantado com a arte da narração. E fui com o meu coração em vez do conhecimento, fui com minha técnica teatral e humana. Chamei meu amigo Rafael Cortez, que além de jornalista e humorista, é violonista (dos bons), para fazer sonorização e dar pitacos nas histórias (alguns absurdos), em improviso cúmplice.
Deixou a contação de histórias por um tempo, para fazer a faculdade de Artes Visuais, pois também nutria paixão pela imagem, quando voltou aos palcos, sentiu-se “um ator que conta histórias”, o que o fez aprofundar-se na pesquisa da narração oral e, sobretudo, no autoconhecimento, na busca por se entender, buscar sentimentos de ancestralidade e sentir-se digno de ser um “contador de histórias”.
Acredita que com as histórias, podemos nos identificar com pessoas, animais, deuses e outras coisas que a preenchem, entendendo que aquilo faz parte do ser, aquilo é o ser, mas que em contrapartida, o público embarca nas palavras da boca do contador que, no ato de contar, transforma aqueles momentos em experiência única, possibilitando ao ouvinte as suas próprias percepções, identificações e de que maneira serão levados pela palavra, estando com os ouvidos e corações abertos. E não só isso, mas emprestando seus pensamentos a uma outra consciência.
Para ele, a relação narrador-ouvinte se estabelece e acontece a catarse, o que podemos chamar, também, de “encantamento”. E nessa relação, constrói-se a história juntos.
Contar histórias, para mim, é sentir-me pleno de sentimentos e encher-me de segurança para atuar no nosso mundo, é iluminar caminhos que desafiam, através das inúmeras possibilidades de narrar, não só em propostas técnica, mas nas possibilidades de narrar uma mesma história, por exemplo, indo para o mesmo lugar, em caminhos diferentes, em percepções e ritmos distintos. Nunca se conta uma mesma história igual, nunca pisamos numa mesma pegada antes pisada por nós. É uma magia que eu chamo, também, de “diversão”. A diversão responsável, que é compartilhada com todos, que acolhe em afeto, ensina, faz refletir, rir, chorar, surpreender. É uma diversão coletiva.
Já contou histórias e viu pessoas chorando na plateia. Certa vez, uma senhora começou a soluçar e eu não estava nem na metade da narração, lembra-se que precisou agir rapidamente com as próprias emoções enquanto narrava, para controlar o que havia de humano dentro de si e para não chorar junto com a espectadora, que precisava das palavras com controle, com pausas, com respirações, com seu olhar em seus olhos cheios de lágrimas. Ao fim, ela se levantou e o abraçou.
Aquele momento a ajudou. Foram poucos minutos que a transformaram, mas transformaram mais ainda a mim. Ora, se isso não é for uma forma de “diversão”. É divertido fazer a diferença para o outro, enquanto me humanizo e amadureço.
NASRUDIN E O VENDEDOR DE PÁSSAROS
NASRUDIN E O GAÚCHO
BOCA DO CÉU – COMO AS HISTÓRIAS VIERAM PARAR NA TERRA
NASRUDIN E O LEILÃO DO BURRO
Por DANILO SANGJOY