CONTOS – Caterina por Luís Amorim

CONTOS – Caterina por Luís Amorim

Quando era criança, muito corria através da noite, assustada pelo que estaria talvez escondido, pronto a saltar do escuro para lhe fazer mal. Agora, mais crescida, sabe muito bem que tal não passava de mera insegurança fantasia, medo pelo futuro e suas relações possíveis imaginárias. Mas com esse curioso passado, aparentemente resolvido, Caterina ainda vê diversas sombras presentes entre árvores, sentindo o arreliador perseguir envolvente, da qual assustada se põe alerta perante quaisquer pontuais avanços de interacções pretendidas. Também ela muito se escondia antes, apesar de saber ter sido desnecessário tanto pavor, mas afinal os receios por outrora fantasiados, cresceram igualmente, parecendo agora tanto insistir na tal perseguição caçadora, levando Caterina a esconder-se depois de intenso e rápido fugir. No fundo, apenas desconhece o que poderá ser melhor à sua condição de tamanha insegurança, optando pelo apressado agitado passo, quando não em corrida desenfreada, sempre após atravessar frondosas árvores. São estas que muito assustam, chegando a sussurrar por socorro, antes que tente atirar seus confortáveis sapatos para o lago, no desconforto evidente a tomar conta dela. Água salvadora está mesmo ali pronta às suas trémulas preces de merecida paz, mas igualmente raposa vai fugindo do seu perseguidor, no imediato caminhando ambas em jeito de par, sorrindo ofegante com tanto coração bater, assim mesmo o sente ao pegar literalmente na amizade nova, a qual deixou de ficar tão assustada como estava, pelo sincero conforto que Caterina tem para lhe dar. Então percebe que não faz razoabilidade alguma com sentido, afugentar amizades que ainda nem sequer deram seu cordial cumprimento, mantendo-se no infeliz lado pleno de sustos imaginários, tal como em pretérita ocasião, quando seu discernimento até era diverso e não lhe surgira raposa ao caminho. Esta coloca-lhe seus braços à reconfortante volta, antes de pedir o continuar seu percurso, quando já não se pressente qualquer caçador no encalço sorrateiro. Hora de cada uma seguir rumo definido por atento destino, em Caterina mais tranquila, sentindo que pavor do simples desconhecido não fará qualquer lógica, dando oportunidade a que também possíveis e quiçá prováveis amizades tenham um fraterno abraço para bem a confortar.

Por LUÍS AMORIM

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