CONTINUA…
– Ele foi pescar por essas bandas, lá no Ribeirão, se sentiu mal e caiu nas águas.
O pescador que estava perto tentou tirá-lo, mas lá é um ambiente traiçoeiro.
Por fim, meu pai disse como aconteceu e como fariam para tirar o corpo do local,
que já haviam chamados os bombeiros para fazer a retirada, que os irmãos dele já
haviam sido avisados do ocorrido, que iriam providenciar uns documentos do qual eu
não ouvi nem uma palavra mais do que estava sendo dito.
Da maneira como me sentei, fiquei! Só queria que tudo fosse um pesadelo e que
meu pai disse que era apenas uma brincadeira de mau gosto, contudo ao amanhecer
meu pai bateu na porta do meu quarto, aonde me trancafiei e me informou.
– Filha, por favor, abra essa porta. Desça para comer algo. A irmã caçula do Pedro
teve aqui cedo e lhe deixou uma carta disse que era pra você.
Abri a porta, era visível a palidez, olheiras e cansaço em meu rosto, não preguei
os olhos de noite e meu pai assim percebeu, entretanto não comentou nada, acho que
por receio de dizer besteiras ou piorar ainda o que eu estava sentindo.
Assim, entregou-me a carta e deixou-me sozinha no quarto para lê-la.
– Mais tarde lhe trago um lanche, qualquer coisa me grita. Eu te amo, filha.
– Também, amo-te pai!
Logo que observei a carta estava num envelope, que continha transcrito João
8:36 “Se, pois, o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. E do lado avesso dizia
para aquela que me ensinou a observar e a voar.
Múltiplos de sinestesia me tomaram ao abrir aquele envelope, mas tomei coragem e
comecei a fazer a leitura da carta.
“De: Pedro, o cara de asas quebradas. Para: Liberdade, quem me ensina a voar.
Santa Maria Madalena/RJ, 30 de maio de 2020.
Olá, nem sei como começar esta carta. Talvez, você soubesse por que você sempre
foi à melhor versão de mim, nesse momento você deve estar se perguntando o porquê
dessa carta. Mas já te peço desculpa, antes mesmo de dizer, como você sabe nunca
foi tão bom em expressar sentimentos.
Desde o dia que te vi na casa do seu pai foi difícil me reencontrar com o passado,
ver cada detalhe do teu rosto, ver que fugimos sempre um do outro porque não
conhecíamos a liberdade que existia em nós.
Há cerca de uma semana, antes de você chegar à casa do seu pai, eu recuperei
parte de minha memória como um piscar de olhos, quase que um milagre. Achei uma
caixa que escrevi pra você, com vários papéis, uma carta e fotos nossas.
E num belo dia que fui ajudar seu pai a fazer uns reajustes no seu quarto, aproveitei
a oportunidade e deixei aquela caixa lá, na esperança de que você a encontra- se.
Como tive medo da sua reação tirei as nossas fotos e guardei, deixando só o
restante dos conteúdos, na esperança que você a achasse e lesse o que tinha dentro
dela. E eu sei que você é curiosa.
Obtive certeza de que você havia encontrado a caixa quando me convidou para
jantar e depois da noite agradável que tivemos. Por isso, fiz questão de levar orquídeas
brancas, as suas prediletas, até mesmo pelo o que elas simbolizam: amor duradouro.
Cinco anos se passaram e nada mudou, estou escrevendo logo pelo amanhã,
antes de ir pescar e te encontrar de noite para lhe dizer:
Amor você sempre será minha liberdade, em todos os momentos! Quem diria
que em meio a essa pandemia nos reencontraríamos e nos permitíramos a voar novamente.
Perdoe-me, e perdoe a ti também.
Obrigada por ser assim, obrigada por ser liberdade aonde você vai.”
Naquele dia eu passei a enxerga tudo o que estávamos vivendo numa perspectiva diferente.
Nada adiantava cobrarmos liberdade, nos sentirmos sufocados com tudo o
que estamos passando e iremos passar se não melhorarmos como ser humano.
Conhecemo-nos primeiro, e deste modo as áreas de nossas vidas serão clareadas.
Perdoe-se, e assim libertaras-te!
FIM.
Por MARIA DUARTE