CONTOS E MINICONTOS – A rapariga dos solares olhos por Luís Amorim

CONTOS E MINICONTOS – A rapariga dos solares olhos por Luís Amorim

Muito imaginava ela como forma de ultrapassar realidade diversa e que tanto era dispersa, mesmo perante ocasional conversa. Mas dessa vez, não havia qualquer construção de figuras por cenários irreais, antes uma factual presença sua em barco, lentamente remando no calmo rio, envolto com árvores de morangos e outras de vistosas tangerinas, nas margens ali bem próximas. O céu era cor de alperce e o horizonte parecia sorrir no seu doce sumo, vislumbrando como flores e plantas mudavam de tonalidade, amarelo para verde e depois até já se mostravam como azuis ou talvez um roxo aproximado. Alguém chamou e intuição dizia-lhe estar nada distante, apesar de não a ver, voz feminina que a fez responder algo de recordação vaga, no instante que recupera da onda lá pelo fundo da paisagem, crescendo ligeiramente apenas por breves instantes. Sentia os passarinhos cantando à volta da sua imaginativa mente quando viu a rapariga que antes lhe falara, a metros poucos de si, mas perceptível ao ponto de conferir solares imagens nos olhos de inegável atenção pelo barco e sua única ocupante. No entanto, tão depressa como apareceu, na enorme curiosidade lhe pareceu desaparecer, mas só até chegada a um pequeno lago, onde suspensa ponte de madeira, unia duas imponentes fontes, bem maiores do que caminho visível, cumprimentando ambas. E para espanto da jovem visitante, intensos acenos vinham de lados todos na sua admiração, apesar de somente dois serem preenchidos em multidão de gente apresentando coloridas gravatas, largos colares, adornos brilhantes, pérolas dos mares, esmeraldas desafiantes e espantados diamantes. Isso tudo, à volta de pescoços, deixando completar apreciação em como restantes corpos tinham semelhanças com peças de jogar dominó ou xadrez, para no lado outro de fonte, envolvidos nas bijuterias idênticas, estarem cartas de baralhos, talvez pela sua íntegra contagem. O percurso de barco seguiu e avistando-se terra nada distante, as flores quase cresciam a cada segundo até atingirem altos metros que não sabia quantificar com devida precisão. Havia balões voando na urgente pressa que os fazia desaparecer no visto instantaneamente, levando gente de talvez duvidosa certeza, por consideração hipotética, mais peças ou talvez cartas de jogar. Alguns circulavam em lentidão maior, vazios sem opção pensada diferente, no intuir de que estariam a dar aproximação para levar jovem curiosa. A rapariga dos solares olhos sorriu e deixou um rasto de luminoso raio, como se tivesse sido projectada dali para distante céu, alperce como antes e com horizonte ainda sorrindo no anterior visto tom de sumo, quando lhe falou a tal misteriosa personagem. O barco via árvores de morangos e tangerinas, perante flores e plantas, reflectindo solares manchas nas constantes mudanças de cor, lembrando a rapariga daqueles olhos similares em imagem que ainda hoje perdura na sua imaginativa vida.

Por LUÍS AMORIM

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