Natal deveria ser a melhor época para manifestar o amor e a paz; entretanto…
— Não acredito! Quem cometeu o absurdo de botar uva-passa na torta de frango?
— Não fui eu. Só tirei umas coisas verdes esquisitas de Marte.
— Que é isso, menino? Não há nada de Marte na torta.
— Tem sim, o tio Elias até cuspiu, achou um verme alienígena.
— Mais respeito com a comida. Coma tudo, senão “Papai Noel” vai passar bem longe desta casa. Entendeu, João Henrique?
A advertência não surtiu efeito. Como parar um garotinho serelepe e seu tio que já estava meio alto? Com um sorriso no canto da boca e olhar travesso, João se abastecia dos vegetais tirados da torta transformando-os em munições e pontaria certeira.
— Avistei um ovni aqui — provocou Elias.
— Não fui eu
— Ah, não foi? Então segura essas.
— Atirando uvas-passas no sobrinho.
— Credo, que coisa murcha e feia!
— Minha paciência com vocês está no fim. Isto aqui é uma ceia de Natal.
— Tem mais alienes na torta, um é branco e outro amarelo, são amigos da coisa murcha.
— Amorzinho da mamãe, pare com isso agora. Que vergonha estou passando, isso é milho e palmito, e você conhece muito bem
— E a mãe, engolindo a irritação que sentia.
— A culpa é de quem botou uva-passa na torta, já não basta no arroz?
— Elias, pelo amor de Deus, não cause mais problemas
A súplica da irmã foi mais uma vez ignorada. Ervilhas, azeitonas, pimentões, milhos, palmitos e, claro, uvas-passas ultrapassaram os limites da mesa, para delírio do garotinho que sorria debochado.
— Chega! Agora passaram dos limites — Levantando-se furiosa da cadeira.
Inadvertidamente, a mãe não percebeu o carrinho do menino que misteriosamente partiu debaixo da mesa em direção a seus pés. Um grito seguido de um estrondo e o peru que aguardava para ser servido, aterrissou de forma desastrosa no pudim.
— Não fui eu, mamãe!
Por GISLAINE NASCIMENTO