No Bosque Tempo, onde árvores bailam ao sabor das estações, há tempos. Tempos que se contemplam, que se complementam, que se harmonizam. Há vezes de clarões, sombras, canções e brumas. Há trovões, e gelo, e calor, e aromas. Há vida e ocaso.
Sazonais, vindas dos jardins do desconhecido, águas tocam a pele verde do bosque e adentram seus domínios, em forma de gotas que caminham pelas folhas, irresistivelmente rumo à terra. Criaturas se banham, ao som dos pingos que tocam a flora, vivas. Vivas, as águas se aventuram pelas veias do bosque, buscando, incansavelmente, a doçura dos regatos.
O Bosque Tempo, onde risos se misturam aos sons de indóceis ventos e corpos bailam ao sabor de néctares embriagantes, é palco de pias metamorfoses. É leito macio, em que enlaces se dão com gozo e regozijo. É sagrado anfiteatro onde a vida representa a mais sublime, e santa, tragédia. E a morte, vestida em seus trajes maravilhosos, dança inebriada, cujos lábios marcam com beijos frios.
Quando da noite, hálito frígido adentra as entranhas do bosque. Olhos espreitam, sob a égide da loucura. Ninfas e faunos entoam rezas à deusa Lua. Espectros rondam e anjos confabulam. Eis o tempo de medos, e silêncios e também paz.
Com grande alarido, eis o tempo do amanhecer. Bosque se prosterna às cores e sons do arrebol. Em uníssono, aves gorjeiam odes ao nascente. Verdes se enlaçam aos anis e à alvura dos céus. O Tempo brinca de nascer e renascer, sob os olhos atentos do Deus Sol e seus clarões. Eis tempos de sons, e festejos, e vidas.
No Bosque Tempo há tantos tempos quanto a infinitude. Quando do ocaso, a Mãe-Terra toma seus filhos, e as cinzas destes lança aos apetites do Cosmos. Princípio e fim, e ciclo, o Bosque Tempo é matéria da imensidão. E, ainda assim, além.
Por ANDERSON LOBO