CONTOS E MINICONTOS – Bosque tempo por Anderson Lobo

CONTOS E MINICONTOS – Bosque tempo por Anderson Lobo

No Bosque Tempo, onde árvores bailam ao sabor das estações, há tempos. Tempos que se contemplam, que se complementam, que se harmonizam. Há vezes de clarões, sombras, canções e brumas. Há trovões, e gelo, e calor, e aromas. Há vida e ocaso.

Sazonais, vindas dos jardins do desconhecido, águas tocam a pele verde do bosque e adentram seus domínios, em forma de gotas que caminham pelas folhas, irresistivelmente rumo à terra. Criaturas se banham, ao som dos pingos que tocam a flora, vivas. Vivas, as águas se aventuram pelas veias do bosque, buscando, incansavelmente, a doçura dos regatos.

O Bosque Tempo, onde risos se misturam aos sons de indóceis ventos e corpos bailam ao sabor de néctares embriagantes, é palco de pias metamorfoses. É leito macio, em que enlaces se dão com gozo e regozijo. É sagrado anfiteatro onde a vida representa a mais sublime, e santa, tragédia. E a morte, vestida em seus trajes maravilhosos, dança inebriada, cujos lábios marcam com beijos frios.

Quando da noite, hálito frígido adentra as entranhas do bosque. Olhos espreitam, sob a égide da loucura. Ninfas e faunos entoam rezas à deusa Lua. Espectros rondam e anjos confabulam. Eis o tempo de medos, e silêncios e também paz.

Com grande alarido, eis o tempo do amanhecer. Bosque se prosterna às cores e sons do arrebol. Em uníssono, aves gorjeiam odes ao nascente. Verdes se enlaçam aos anis e à alvura dos céus. O Tempo brinca de nascer e renascer, sob os olhos atentos do Deus Sol e seus clarões. Eis tempos de sons, e festejos, e vidas.

No Bosque Tempo há tantos tempos quanto a infinitude. Quando do ocaso, a Mãe-Terra toma seus filhos, e as cinzas destes lança aos apetites do Cosmos. Princípio e fim, e ciclo, o Bosque Tempo é matéria da imensidão. E, ainda assim, além.

Por ANDERSON LOBO

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