Apresentações formais, uma dama respeitada na sociedade local e um convite para um baile. Honraria em estar entre os sobrenomes selecionados para o evento da estação.
O “Château de Made Rose” era o cenário do momento. Os preparativos para a abertura da estação primaveril andavam a todo vapor, e aparentemente, tudo estava perfeito.
Chloé chegara há dois dias e estava deslumbrada, com a magnitude do Castelo. Encantada com os jardins, tão bem cuidados, românticos, verdadeiras pinturas vivas. Foi acomodada por sua madrinha, amiga de infância de sua falecida mãe, responsável por sua apresentação a sociedade local na ala norte do Castelo Château. com o privilégio de poder avistar o haras e observar os magníficos cavalos ali criados e detentores de vários títulos nas competições em que, a proprietária inscrevia um protegido, expert na equitação, pelo simples prazer de ver seus corcéis vitoriosos.
Nascida em berço nobre, Chloé, ainda assim, sentia dificuldade em adequar-se ao meio social intenso e requintado ao qual seu pai e sua madrinha, insistiam em inseri-la constantemente. Ela comparecia, participava do jantar, concedia algumas danças e depois, conseguia escapar para os jardins com um de seus livros preferidos.
Sabia pelos cochichos dos criados e até pelo comportamento do pai, estar próximo o momento da escolha de um par digno a altura de sua posição social. Então, este baile, não lhe trazia boas expectativas.
Na noite do grande baile, desceu a escadaria central, de braços dados com o pai, usando o colar de ametistas que fora da mãe, de cor lilás. Escolhera o colar, justamente por não ser uma joia refinada. Preferia passar despercebida aos cavalheiros e supostas futuras sogras que avaliavam a “mademoiselle” casadoira pelo tamanho do brilhante adormecido no colo feminino. De todo modo, estava deslumbrante. E seu intento não logrou êxito pois chamou a atenção de imediato.
Por um descuido de um dos criados aquele que deveria sentar ao seu lado, acabou ficando no lado oposto a sua frente. Se este equívoco foi causa de reprimendas de Made Rose a criadagem, nunca ficou sabendo. Apenas, lembrou aquela noite, com gratidão a pequena troca de cartões designando os lugares a mesa, pois, tal engano, colocou Liam ao seu lado.
Do outro lado da mesa, o pretendente ansioso, desprovido de charme, olhava-a cobiçoso. Ao seu lado, um perfume amadeirado, refrescante invadia seu olfato. Ah!… e como era bem-vindo.
Chloé ouvia as conversas atentamente, porém, estava magneticamente ligada ao cavalheiro que sentava ao seu lado esquerdo. Respondia a todos com educação e cortesia, mas, apenas o tom de voz daquele homem ocupava sua mente. Seu linguajar mesclando a erudição e simplicidade. O riso expressivo e solto, quebrando a superficialidade e rigidez daqueles eventos, a fizeram agradecer por estar perto de tão agradável companhia. A risada chamava sua atenção, até então, não havia percebido que o som de um sorrir poderia dizer tanto. Olhava para o alto e conduzida pela sonoridade da gargalhada do homem ao lado, fixava os majestosos candelabros do Château, acreditando ver o reluzir de estrelas unidas no epicentro, brindando-lhe a visão com explosões de luzes prateadas.
Em nenhum momento o distinto Senhor, ousou puxar conversa com Chloé. Aguardava uma apresentação formal por parte dos anfitriões. Apenas, de quando em quando, depositava-lhe breve olhar invadindo sua alma, de tão avassalador e expressivo.
Em dado momento, ao depositar o guardanapo na mesa, esbarrou com a mão do cavalheiro que pegava sua própria taça de vinho. Foram segundos, mas, foram eletrizantes. Sentiu que algo havia sido acionado em seu corpo casto e sedento. Uma corrente energética lhe percorreu por inteiro, deixando-a com uma sensação de que estava sendo aquecida. Chegou ao ponto de pensar que sua face exibia maçãs coradas.
Olhares buscaram-se ligeiros, antes do término daquele toque de mãos, delicado, no entanto febril.
Ambos calados por frações de segundos, em indeléveis instantes. Pelo menos assim, Chloé preferiu guardar na memória, porquê o belo mancebo, teria retirado a mão e desviado o olhar.
Um simples gesto, um breve roçar de peles. Quanto significado contido neste involuntário ato.
O flerte o encontro de olhos desejosos, muito mais dizentes que rebuscadas palavras; um encostar de mãos de dois estranhos sentados, lado a lado, que nem ao menos sabiam o nome um do outro bastou para unir aquelas almas afim.
Do grande baile ofertado por Made Rose em seu Château, dando boas-vindas a Primavera de 1928 não tem maiores registros no diário de Mademoiselle Chloé.
Todavia, em uma data de um sábado primaveril, a madrugada, companheira para a insônia, doce e mensageira de descobertas femininas antes não sentidas, mesmo antes de saber seu nome, antes das formalidades da apresentação; antecedendo a primeira dança no salão lotado em que parecíamos ser os únicos; precedendo até mesmo o nosso primeiro beijo (trocado, rapidamente, às escondidas, muito tempo depois…) foi no contato suave e efêmero com sua mão, em que tímida e desejosa, entreguei-lhe a minha e todas as virtudes de meu coração. O bom observador, sentado à mesa de jantar do Château, certamente percebeu que o roçar de nossas mãos, trouxe-me à face o rubor.
“houve um tempo em que detalhes
Contavam no jogo da
conquista. Talvez mais que o clímax
do beijo, a sedução enlaçava sedutor
e seduzida, ou a seduzida permitia-se
“Ao enlace pelo sedutor”.
Por SUELY RAVACHE