Haviam cinco pessoas sentadas à mesa quando o detetive Rossi chegou na casa dos Barbosa. Ele observou a cena por alguns instantes: Dona Irene, a matriarca, chorava inconsolavelmente; Antônia, a filha mais nova, tentava acalmá – la; Joaquim, vulgo Quincas, o filho do meio, olhava para todo o lado, entediado; Firmino, marido de Antônia, mexia no seu celular distraidamente; por fim, Valéria, a empregada, também tentava consolar Dona Irene.
O detetive Rossi se apresentou e pediu que lhe contassem o que havia acontecido, todos falaram ao mesmo tempo e ele não pôde entender nada. Pediu que todos esperassem fora da casa, falaria com um de cada vez e a primeira foi Dona Irene. Depois de um longo suspiro ela explicou o que tinha acontecido:
– A minha aliança de casamento sumiu, alguém a roubou, tenho certeza disso.
– Quando foi a última vez que a senhora viu ela? – perguntou o detetive.
– Ontem.
– Onde?
– Na minha mão.
– A senhora tirou ela em algum momento?
– Não.
– E quando percebeu que ela tinha sumido?
– Quando acordei e vi a caixinha aberta e vazia na minha mesinha de cabeceira.
– A senhora não usava a aliança sempre?
– Não mais, está um pouco folgada e tenho medo de perdê – la. Só uso em ocasiões especiais.
– Então ela pode ter caído por aí.
– Já reviramos a casa inteira, não encontramos.
– A senhora tem certeza de que guardou a aliança na caixinha?
– Hã… não. Mas eu sempre guardo lá.
– Alguém entrou no seu quarto ontem ou hoje?
– A Valéria, talvez.
– Ok Dona Irene, vou falar com ela agora. Obrigada.
– Por favor, ache minha aliança.
– Farei o possível.
– Obrigada. – Dona Irene saiu da casa e no mesmo instante Valéria entrou, acompanhada por um policial:
– Sente – se – disse Rossi. – A senhora…
– Senhorita – interrompeu – o a empregada.
– A senhorita entrou no quarto de Dona Irene ontem? Para limpar, talvez?
– Entrei cedo.
– E viu a caixinha onde ela guarda a aliança? – Valéria pensou por alguns segundos e respondeu:
– Não lembro, tava uma confusão danada.
– Qual o motivo da confusão?
– A morte do seu Eugênio.
– Quem era esse?
– O marido da Dona Irene.
– Ele morreu ontem?
– Sim.
– Como?
– Acordou gritando, massageando o peito, levaram para o hospital, mas morreu no caminho. Disseram que foi infarto fulminante. Muito triste.
– Sim. Imagino que já o tenham enterrado.
– Sim, ontem mesmo, às 18h.
– Onde foi o velório?
– Na capelinha do cemitério.
– Lembra – se de ter visto se Dona Irene usava a aliança durante o velório? – Valéria pensou novamente por alguns segundos e confirmou.
– Vi na mão dela quando ela deu um tapa no braço do Quincas.
– O Joaquim, filho dela? Por que ela bateu nele?
– Sim. Não sei. Foi algo que ele disse.
– Está bem. E depois? A senhorita viu a aliança de novo? – Valéria exitou.
– Não me lembro. Trabalhei muito ontem, servindo o pessoal, não prestei muita atenção em ninguém.
– Certo. Por enquanto é só. Obrigada pela sua colaboração Dona Valéria.
– Valéria só. De nada detetive. – ela piscou – lhe um olho e sorriu maliciosamente. Rossi devolveu – lhe o sorriso enquanto ela saía, “é uma mulher muito bonita” pensou. Depois de se recompor pediu a um policial que trouxesse Joaquim.
– Meus pêsames pelo seu pai, seu Joaquim.
– Obrigado. Me chame só de Quincas.
– Quando foi a última vez que você viu a aliança da sua mãe?
– Ontem no velório.
– Em que momento?
– À tarde.
– O que ela estava fazendo.
– Sendo forçada pela minha irmã a beber um chá.
– E depois disso?
– Fui a um bar beber e quando voltei o caixão estava prestes a ser descido para dentro da cova. Mamãe tinha passado mal e nem ela e nem Alana estavam lá.
– A empregada disse que viu sua mãe lhe batendo, o que houve?
– Não aguentava mais vê-la chorando tanto, então pedi que ela parasse e disse que meu pai não merecia tanto, ela não gostou, mas depois eu me arrependi.
– Ah sim. Por enquanto é só. Obrigado. Peça a sua irmã para entrar por favor.
– Tá bem. – Quincas saiu e dois minutos depois Alana entrou.
– Dona Alana a senhora ficou o tempo todo perto da sua mãe durante o velório, certo?
– Sim detetive.
– Em algum momento a aliança caiu do dedo da sua mãe?
– Algumas vezes.
– Então pode ter caído, alguém com más intenções pegou e as senhoras não perceberam nada, não é?
– Pode.
– Quando foi a última vez que a senhora viu essa aliança?
– Quando iam fechar o caixão para levar para o local onde seria enterrado, minha mãe se jogou encima dele desesperada, minha irmã mais velha e uma vizinha me ajudaram a tirá -la de lá e eu vi, de relance, a aliança na mão dela.
– O que aconteceu depois?
– Ela desmaiou, nós a trouxemos para casa e lhe demos um calmante quando ela despertou porque estava muito nervosa, logo ela dormiu e só acordou hoje de manhã.
– A senhora foi a última a ver a aliança, além da sua mãe, então pense bem e me diga, viu ela cair em algum momento enquanto ajudava sua mãe a soltar o caixão ou quando a trouxe para casa? – Alana pensou por alguns instantes e respondeu.
– Não, mas…
– Mas?
– Acho que ouvi alguém dizer “caiu alguma coisa aí dentro” quando a desgrudamos do caixão.
– Como sabe que era com a senhora que estavam falando?
– Vinha das minhas costas, parecia que a pessoa estava falando no meu ouvido, mas ela falava alto. Só percebi isso agora.
– E esse “aí dentro” se refere a?
– Não sei… O caixão, talvez? – os olhos de Alana, de repente, se arregalaram: – Oh, não!
O detetive Rossi balançou a cabeça afirmativamente, pensando a mesma coisa. Reuniu todo mundo na sala e contou sobre sua suspeita, todos ficaram chocados com ela. Dona Irene não queria nem saber, queria a aliança de volta de qualquer jeito, então mandaram exumar o corpo e lá estava ela, no peito do falecido.
O detetive Rossi recebeu seu pagamento e foi embora, não sem antes deixar um bilhete para Valéria, a empregada, com seu nome e seu celular escrito nele. Depois do trabalho viria a diversão.
Por MONIQUE BISPO