CONTOS E MINICONTOS – Teoria da fatalidade por André Mung

CONTOS E MINICONTOS – Teoria da fatalidade por André Mung

Era segunda-feira e Vieira acordou com um Bom Dia Alegria na face, levantou-se da cama e foi direto pro chuveiro, água fria no corpo cansado, água fria no corpo ainda quente do final de semana, sábado agitado, domingo enamorado, conheceu alguém, conversou e gargalhou, nem se importou com a própria timidez pra sorrir, que, pela falta de hábito, tornara-se som sem rosto, mas sentiu-se feliz ao espelho, afinal, ele foi notado, foi aceito, que dia!

Pensa no futuro, pensa mais além, pensa muito bem, já passou dos 35, a pensão tá atrasada, ainda tá sem carteira de trabalho assinada, mas tem o toque de Ogum: a vida é muito maior do que aquele pequeno quarto e ele sabe disso, ele quer a vida!

Depois do café, caminha tranquilo pela Avenida Rio Branco com uma música na cabeça, uma imagem fixa, de coração aberto, quase puro de Amor!

Enquanto isso, Pereira chega mais cedo no serviço, quase nem dormiu de tanto pensar, sonhos enamorados, o corpo quente ainda no ritmo do samba, o corpo no ritmo de outro coração, gosto diferente na saliva, cheiro de pele na pele, entregou-se, acabou-se de dançar, de beber, de explicar, nem se importou com a própria timidez pra falar, que, pela falta de hábito, tornara-se rosto sem som, mas sentiu-se feliz, reflexo do fim de semana, afinal, até piadas contou, que euforia!

Pensa no passado, pensa em quase tudo, pensa fundo, receios de se entregar novamente, não sabe o que fazer com aquele desconhecido tão íntimo, se confunde entre a alegria e o amanhã, mas tem cabelo nas ventas: sabe o que quer e que a vida é grande, é pra ser vivida!

Aproveita que as salas estão vazias e vai molhar as plantas da janela, cantando Alcione, e pensando fixamente nele decide trocar a água de uma das plantinhas, a que está dentro do potinho de maionese, quanto Amor!

O potinho de maionese caiu do 9º andar

perdeu o emprego

matara o amante.

Por ANDRÉ MUNG

Pular para o conteúdo