O passado que está presente na vontade daquela mulher é a memória de tudo que já viveu, mesmo que já tenha ido…
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Débora tem 57 anos, é advogada e trabalha naquela rotina de idas e vindas ao fórum desde os 25 anos. Quantas eras sobreviveu?
O mundo mudou e ela também. Trabalhou horrores , acumulou provisões para uma vida confortável, mas isso não basta. Resolveu desacelerar! Há muito anos está divorciada, casou-se logo após a formatura e teve dois filhos. Todos estão bem. O ex é um grande amigo e os filhos são muito queridos. Não houve espaço para ressentimentos. Começou e terminou em paz!
Os abalos estiveram sempre nela ou em sua falta de tempo para si. Débora foi aquela mulher viciada no trabalho. Ao ofício e aos meninos, durante anos, dedicou todos os riscos. Agora quer mudar de ares. Respirar noutros lugares. Semana passada mudou o penteado: fez um novo corte e assumiu o grisalho. Hoje reconhece que toda revolução é um recomeço. As vezes basta mudar o cabelo ou passar um batom pra você desfazer amarras em sua vida.
Tem tempo, que ela anda de saco cheio de salto alto. Ela deseja mãos e pés livres, fazendo parceria com a cabeça. Débora quer ter a cuca mais fresca. Quer estar leve.
Nesse instante, uma quarta-feira, ela está retocando o batom na frente de um espelho de bar. Vai voltar pra mesa. Lá, lhe esperam suas parceiras: as amigas e a cerveja que escutam seus novos planos. Agora, isso é quase tudo que ela deseja. Mas, de longe, ela ainda não notou, tem alguém admirando até sua respiração.
Por RENATA LIMA