CONTOS – Massangano por Fábio Wadyanga

CONTOS – Massangano por Fábio Wadyanga

Como dizia no princípio da discussão; Angola, à semelhança doutros países africanos, possui uma imensidão de riquezas antropológicas, arqueológicas e socioculturais. Uma das mais sonantes é a sua musicalidade típica em detrimento doutras nações do continente, berço da humanidade.

Uma referência visível é o próprio quotidiano que se expressa de diversas maneiras, mas as sonoridades estão sempre presentes. Os povos africanos embora tenham diferenças socioculturais; as similitudes são maiores e irresistíveis.

Se alguém vir ou ficar atento ao ritmo Kilapanga, descobre que a sua musicalidade não é um direito exclusivo do povo angolano. A Kilapanga é uma expressão utilizada em Angola, sobretudo no centro norte e norte do país; todavia, enquanto música, pode ser vista e tocada por África adentro. Evidentemente a nomenclatura do estilo musical varia em função do país ou do grupo etnolinguístico. Em Angola é um ritmo muito popular entre os Ambundos e os Bakongos, mas com o passar do tempo disseminou-se por todo o território angolano.

Um dos instrumentos musicais típicos da Kilapanga é a marimba. A marimba é uma espécie de xilofone africano fabricado pelos povos ambundos, sobretudo em Malanje e Kwanza norte por serem o centro e o baluarte do antigo reino do Ndongo, liderado na época por Ngola Kiluange Kia Samba. Conforme os discursos proferidos por alguns mais velhos; o soberano do antigo reino do Ndongo aprecia muito o som da marimba, tanto mais que naquela época, os exímios tocadores de marimba passavam por uma formação para posteriormente ensinarem esta arte aos seus descendentes, a fim de tornar-se geracional e tribal. Assim sendo, havia naquela altura uma tribo no reinado cuja missão era exclusivamente tocar a marimba diante do soberano e nas festividades ou ritos socioculturais.

— Mwene Ngola, Mwene Ngola.

— O que está havendo, Balumuka? Soberano, está vindo uma embarcação portuguesa para as terras do Ndongo.

Avistei-os de palanque.

 — Deixa-me lá ver, Balumuka! Estavas certo, são mesmo os portugueses; certamente vêm do reino do Congo. Se eles julgam que me vão fazer troça para comprar ou adquirir mais escravos, enganam-se. Protegerei o meu povo com garras e dentes até ao final dos meus dias.

 — Ótima tarde, Vossa Alteza. O meu nome é Paulo Dias de Novais, vim em nome da coroa portuguesa para estreitar laços de amizade com o reino do Ndongo.

— Cale-se, mundele. Balumuka reúna os soldados e prendam-nos, antes que eu perca a paciência e derrame sangue diante do povo de Massangano.

Eu sempre soube das intenções dos portugueses em relação ao comércio de escravos. Se não houver precaução, a população do Ndongo desaparece e vai parar em qualquer lugar, onde os portugueses precisam de mão-de-obra.

— Professor Bungula, queria dizer que a aula foi completamente magnífica. O professor fez um enquadramento histórico incrível. Parecia uma história de cinema. Foi um casamento perfeito, associar a história de Massangano na época do reinado de Ngola Kiluange Kia Samba, a prisão do capitão português Paulo Dias de Novais e a música Kilapanga.

— Kazukuta, meu rapazola, ouça bem o que vou dizer a você. Estude e seja sempre um grande inovador e motivador de mentes brilhantes tal como a sua.

— Ngasakidila, muito obrigado professor.

Por FÁBIO WADYANGA

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