Precisava partir. Os minutos se esvaiam ligeiramente e os outros, de longe, a apressavam.
Permaneceu sentada no banco de madeira polida, seus lábios pressionados e sua perna, que persistia inquieta, deduravam sua ansiedade pouco bem-vinda. Queria dizer alguma coisa, nem que fosse uma barbaridade, mas sua boca sequer se abriu, como se tivesse sido trancada com um cadeado de uma chave que ela não possuía.
“A gente sempre fica sem o que falar no fim.”
Ele disse em um suspiro. Ela concordou sem ousar encará-lo, temerosa do que talvez pudesse acontecer, suas bochechas queimavam, seu coração era como um forte tambor em seus ouvidos e suas mãos eram frias, uma vez que, por timidez, havia decidido largar a palma quente do rapaz.
A moça então o analisou rapidamente de viés e, naquele último momento, com um nó preso em sua garganta, sentiu a extensão de seu pescoço se contrair em desconforto quando se despediu com um breve abraço que não foi capaz de demonstrar suas emoções.
Nunca mais o viu.
Mas muito pensava no toque que nunca acontecera, que apenas chamuscou à vontade em seu peito para então decidir se conter.
Das palavras que são mais especiais quando ditas sem intermediário, mas que nunca disse.
De olhá-lo nos olhos a fim de tentar enxergar sua alma.
Da carícia.
Pensava naquilo que um dia fora a sua vontade. Que ainda era, pois não o tinha esquecido, não totalmente. Seu rosto agora era como um borrão porque não havia o apreciado por tempo suficiente para decorar seus traços. Sua risada era um eco distante e jocoso, assim como sua voz carregada de um sotaque gracioso. Era amargo lembrar.
Queria ter dito que sentiria saudade.
Por ANNA CLARA CARDOSO