A cidade de Tenebris, na Dinamarca, era conhecida por suas ruas estreitas e sinuosas, cercadas por antigas construções góticas e nebulosas. A atmosfera misteriosa que pairava sobre a cidade adicionava um toque de suspense e obscuridade ao lugar. No coração de Tenebris, havia uma mansão luxuosa, pertencente à família Tullegown, a mais renomada da cidade. A linhagem era chefiada por Maurice Tullegown, um aristocrata cuja presença imponente era a personificação do poder e da influência que sua família exercia há gerações. Como patriarca, Maurice era conhecido por sua dedicação à tradição e aos valores aristocráticos. Apesar de sua aparência rígida, Maurice usufruía de um coração caloroso e um amor inabalável por suas filhas gêmeas. Ele dedicou sua vida a garantir que elas recebessem a melhor educação e oportunidades possíveis, preparando-as para assumirem seus lugares na sociedade futuramente.
Marion Tullegown era uma jovem de beleza radiante e um coração cheio de bondade. Ela era uma das gêmeas idênticas Tullegown, mas seu espírito gentil e sua natureza amorosa a diferenciavam. Marion aprendeu desde cedo o valor da honestidade e do amor ao próximo. Apesar de sua vida aparentemente perfeita, Marion carregava consigo o distanciamento de Muriel. Desde a infância, notava indiferença no tratamento fraterno entre elas, principalmente em seu aniversário de 18 anos. Na data em questão, Maurice declarou que a primeira filha a se casar receberia a maior parte da herança. Muriel Tullegown, que desfrutava de uma personalidade sensual e manipuladora, não estava disposta a ceder. Com seus olhos frios e expressão calculista, ela era capaz de esconder suas verdadeiras intenções por trás de um sorriso falso e encantador. Era uma mulher astuta e determinada, disposta a fazer qualquer coisa para obter o que desejava.
Durante uma festa de gala realizada na mansão para comemorar as bodas de esmeralda de seus pais, Marion transmitia sua essência romântica, optando por um vestido longo e fluido em tons pastel, feito com tecidos delicados de chiffon. Para completar o look, calçava sapatilhas em tons neutros, proporcionando conforto e delicadeza aos seus pés. Sua maquiagem suavemente produzida, com tons de rosa nas bochechas e lábios, realçava sua beleza natural. Observou atentamente um jovem de olhos azuis e sorriso encantador que estava próximo a biblioteca. Ela nunca tinha o visto antes, porém sua presença carismática e postura confiante lhe chamavam atenção. Ao sentir que estava sendo observado, o jovem foi de encontro com cada um dos dois órgãos de visão da moça ruiva. Aproximando-se lentamente, os dois começaram a conversar e descobriram que tinham muitos interesses em comum. O jovem misterioso chamava-se Matteo Honeymoon, um advogado recém-chegado na cidade conhecido por sua inteligência afiada e habilidades excepcionais, o que o tornava um profissional respeitado e admirado por seus colegas. Era um ser humano de princípios e estava disposto a lutar pelo que acreditava, principalmente o amor.
Muriel, que tinha optado por um vestido justo e provocante de seda, nas cores vinho e preto, com decotes profundos e maquiagem marcante, observava a cena insatisfeita. Conforme os encontros entre Marion e Matteo se tornavam mais frequentes, eles começaram a compartilhar não apenas suas visões de mundo, mas também suas histórias pessoais e sonhos. A admiração mútua crescia, dando lugar a uma conexão emocional profunda. Assim, o amor floresceu entre Marion e Matteo, alimentado pela pela conexão especial que eles compartilhavam. Eles se tornaram uma fonte de inspiração um para o outro, nutrindo um relacionamento baseado no respeito, na admiração e no desejo de criar um futuro juntos.
Matteo estava nervoso, mas determinado. Ele havia planejado meticulosamente o pedido de casamento para Marion, o amor de sua vida. O momento perfeito havia chegado, e ele se ajoelhou diante dela, segurando uma caixinha de veludo com um belo anel de noivado. O coração de Marion disparou de emoção quando Matteo pronunciou as palavras mágicas: “Você quer se casar comigo?” Enquanto isso, Maurice observava a cena com um sorriso orgulhoso no rosto. Ele abençoou o casal, expressando sua felicidade e desejando-lhes uma vida cheia de amor e prosperidade.
Não havia dúvida de que a criação do vestido de noiva seria feita pela mãe de Marion, Melina Tullegown. A socialite era uma estilista conhecida por sua habilidade excepcional em criar modelos deslumbrantes. Sua paixão pela moda e seu talento inato a levaram a se tornar uma das estilistas mais procuradas de Tenebris. Por outro lado, a inveja de Muriel era alimentada pelo fato de Marion ter encontrado a felicidade em um relacionamento, enquanto Muriel sentia-se presa em sua própria busca por poder e satisfação pessoal. Ela não conseguia compreender como sua irmã, que ela considerava inferior, poderia ter conquistado algo que lhe era tão desejado. Usava da luxúria como um instrumento para atrair e controlar aqueles que caíam em sua teia. Sua presença exalava um magnetismo sensual, que envolvia as pessoas em um jogo perigoso de desejo e tentação. Portanto, Muriel estava disposta a fazer qualquer coisa para obter o que deseja, mesmo que isso envolvesse medidas drásticas.
Chegara o dia da prova do vestido e Marion se mostrou empolgada. Melina confeccionou o traje nupcial em um tecido branco radiante, com detalhes delicados de renda e pérolas. O corpete ajustado realçava a silhueta da filha, enquanto a saia longa e esvoaçante adicionava um toque de elegância e romantismo. Cada detalhe do vestido era meticulosamente planejado, desde o decote princesa até a cauda longa e majestosa. Uma verdadeira obra-prima. A jovem noiva se admirava no espelho. Ela sabia que estava prestes a embarcar em uma nova jornada e se imaginou diante do altar ao lado de seu amado.
Distraída pela beleza do vestido e pela emoção ao ver seu reflexo, Marion não percebeu quando Muriel entrou sorrateiramente no ateliê. A gêmea má, vestida de preto e com uma expressão enigmática no rosto, observou Marion por um instante. Uma sombra de inveja e ressentimento passou por seus olhos. Sem hesitar, Muriel sacou o revólver, fazendo com que Marion virasse rapidamente pelo susto. O som do disparo ecoou pelo ateliê, o vestido branco foi manchado pelo líquido sanguíneo, criando uma imagem chocante e perturbadora. O tempo parecia congelar enquanto a vida da noiva escapava do mundo dos vivos, deixando para trás um rastro de dor e desespero. Muriel, com suas luvas pretas a fim de não deixar digitais, colocou a arma cuidadosamente na mão da morta. Com um semblante diabólico, ela saiu silenciosamente do local, dando uma última olhada no corpo inerte no chão.
Com o ruído questionável vindo do ateliê, Melina retornou depois de um breve momento de ausência para que Marion ficasse à vontade. Ao entrar no cômodo, seu coração se encheu de pavor ao deparar-se com a cena trágica diante de seus olhos. Sua amada filha, estava caída no chão, aparentemente vítima de um suicídio. A dor e o choque tomaram conta de Melina, que se ajoelhou ao lado do corpo, incapaz de conter as lágrimas. Seu mundo desmoronava diante dela, e a perda irreparável deixou um abismo profundo em mente. Enquanto tentava processar a terrível realidade, Muriel, agora vestida com um elegante vestido vermelho, apareceu no ateliê como se nada soubesse sobre o ocorrido. Seus olhos encontraram o cadáver da irmã, e fingiu tristeza, escondendo cuidadosamente sua verdadeira natureza por trás de uma máscara de dor. Matteo chegou ao local acompanhado do futuro sogro, Maurice, após ouvir os gritos da matriarca. A expressão de choque e tormento tomou conta de seus rostos quando se depararam com a morte de Marion. O peso da tristeza e da perda os envolveu, deixando-os atordoados diante da veracidade. A atmosfera desesperadora pairava sobre todos, enquanto cada faceta tentava compreender o que havia acontecido e buscar respostas para o enigma que se apresentava face a face.
Os sons do sino ecoavam melancolicamente enquanto o velório seguia em andamento. O cortejo fúnebre caminhava lentamente pelas ruas, carregando o caixão coberto de flores brancas, simbolizando a pureza e a inocência perdida. Matteo, com os olhos marejados de lágrimas, segurava uma rosa branca em suas mãos, a favorita de Marion. Cada pétala delicada parecia refletir a fragilidade da vida e a beleza efêmera que se desvanece diante de seus olhos. Os amigos e familiares reunidos no cemitério estavam mergulhados em um silêncio solene, suas expressões carregadas de dor e saudade. As lágrimas escorriam pelos rostos enquanto eles se despediam de Marion, que teve sua vida interrompida de forma tão trágica. A cada pá de terra que caía sobre o caixão, a sensação de perda se intensificava. O vazio deixado por era palpável, como um eco silencioso que ressoava nos corações de todos os presentes. Enquanto o sol se punha lentamente no horizonte, as lembranças permaneciam vivas nos corações daqueles que a amavam. O pesadelo estava apenas começando, deixando uma tristeza duradoura na vida daqueles que tiveram o privilégio de conhecer e amar Marion.
Subitamente, um vento gélido soprou fazendo com que todos os presentes sentissem um calafrio percorrer suas espinhas. O céu escureceu rapidamente, como se a própria terra estivesse sendo tomada por um eclipse. Um nevoeiro denso começou a se formar rapidamente ao redor do cemitério, envolvendo tudo em uma aura de mistério e suspense. Como num passe de mágica, o espectro de Marion surgiu, vestida em seu traje de noiva ensanguentado. Seus fios ruivos flutuavam no ar, como uma sarça ardente. O cheiro cadavérico pairava nas narinas, tornando a atmosfera ainda mais opressiva. Sua voz, que antes parecia de um anjo, retumbou de forma demoníaca pelo ar, sussurrando palavras que adentrou-se na mente de todos. Era a revelação de que Marion havia sido assassinada impiedosamente por Muriel, sangue do seu sangue. O terror se intensificou quando a gêmea má, com um sorriso satisfatório nos lábios, assumiu a autoria do crime e sua verdadeira natureza maquiavélica. Seus olhos brilhavam com uma insanidade sombria enquanto ela se deliciava com o medo e o desespero que emanavam do público.
Como se houvesse um terremoto, o chão começou a tremer e rachaduras sinistras se formaram, liberando uma horda de encostos e espíritos perturbados. Eles emergiram das profundezas, com suas formas distorcidas e rostos contorcidos em agonia. Com garras afiadas e olhos vazios, eles avançaram em direção a Muriel, prontos para levá-la para o além. Pela primeira, Muriel demonstrou medo e enquanto tentava se livrar dos encostos que a puxavam violentamente. Seus dedos agarraram-se à terra, deixando marcas profundas, gritos ecoavam pelo cemitério, misturando-se aos lamentos de seus pais. O ar estava impregnado de uma energia nefasta enquanto a batalha entre Muriel e os encostos se desenrolava em meio ao sobrenatural. Finalmente, os encostos prevaleceram, arrastando Muriel para as profundezas do além. O nevoeiro espesso engoliu a cena, deixando apenas um silêncio angustiante no ar. O submundo havia cumprido seu papel, revelando a verdade sombria por trás da tragédia e levando a culpada para o seu merecido destino. Matteo, tomado pela dor e pelo evento macabro que havia presenciado, não conseguia conter as lágrimas que escorriam por seu rosto insistentemente. A visão do fantasma de Marion, combinada com a terrível revelação de sua morte, era demais para suportar. Seu coração partido e sua mente atormentada fez com que saísse correndo em meio à sua agonia, não percebendo o perigo que lhe aguardava.
O som de pneus cantando e o estrondo de metal contra a carne encheu o ar. Matteo foi atropelado violentamente, seu corpo sendo lançado para o ar antes de cair com um baque surdo no asfalto. O sangue manchava o chão ao seu redor, enquanto a vida escapava de seu corpo ferido. Enquanto Matteo lutava para respirar, sentiu uma presença suave ao seu lado. Seu espírito se ergueu da matéria e lá, diante dele, estava Marion. Sua alma emanava uma luz branca suave e reconfortante, com o semblante agora sereno e acolhedor, A marca do tiro havia sumido. Ela estendeu a mão para ele, convidando-o a se juntar a ela no céu. Ambos se olhavam profundamente, reencontrando-se em um momento emocionante. Marion estendeu um véu sobre seus ombros, como um símbolo de união eterna. Em suas mãos, ela segurava a rosa branca que Matteo havia deixado em seu túmulo durante o funeral.
E assim, Matteo e Marion seguiram de mãos dadas, deixando para trás a dor e o sofrimento que os assolaram em vida, seu amor resistiu à morte e encontrou a redenção na imensidão do paraíso. Eles se tornaram um exemplo de aliança verdadeira e inquebrável, uma história emocionante que ecoaria por toda a eternidade.
Por LÍRIO RELUZENTE