Eram famosas, embora não falassem com os vizinhos do prédio de luxo mais caro de sua cidade. Bundas típicas de brasileira; tinham admiradores… de sua nudez; artística??!
Seus nomes? Quaisquer que foram; esquecidos agora. O tempo tomou cada letra de sua identidade; a CIA muitos anos depois fez sumir seus registros do mapa da existência. Viraram lendas urbanas. E os brasileiros têm memória curta, cês sabem…
Mas seus últimos registros foram às 11:58 da manhã dos dois últimos mais recentes Iphones, que foram coletados junto às provas. Mas rápido foram superadas… Gados acham sempre outro pasto…Segue o circo.
Mesmo assim preciso falar que houve uma tentativa de reconstituição. A reconstituição da cena eram meras especulações da delegada e do perito. Mas nada podiam fazer com suas teorias materiais. Por isso entro eu; a recapitulação do Narrador. Onisciente! Onisciente!
…Soprando sob bicos, ela lufou primeiro a fumaça artificial no penumbroso quarto ao som de uma das seleções de músicas dela, nomeada “as rainhas da putaria”. Puxou e expeliu todo o vapor no rosto da sua amiga, que pareceu não ter gostado.
– Miga, não! – respondeu A – e voltou a pintar suas unhas.
– Ooô… kay – falou pausadamente B – explorando o sarcasmo debochado e desinteressante ao mesmo tempo. E a droga rolou solta nesse dia… a droga, dessa vez, era mais amena, a droga era o ócio.
Ela tirou um clack-clack e postou a primeira foto delas…
Começou a germinar um assunto com a amiga, chegou até a abrir a boca, mas antes de sair quaisquer coisas, desistiu, pois de preguiça, até bocejou. Continuou cuidando das unhas e se olhando no espelho.
Enquanto isso no outro lado da “teia”, comentários de homens se duplicavam a segundos como vírus. “Linda”, “perfeita” e outros adjetivos que no dicionário moral ainda não se pôde colocar.
A ‘A’ abarrotou sua unha do indicador, melando um pouco a tela com o seu intenso esmalte carmesim sob o intento alvoroçado de registrar sua nova arte. Mirou a suas mãos, não tão lindas, mas maquiladas por uma espécie de filtro que ruminava a dar ares vinte anos mais novos de suas mãos que já mostravam sinais de rugosidades de pessoas da sua idade.
Na lente óptica do seu aparelho, deu mais um “click” enquanto enquadrava suas “nails” sob uma decoração um pouco mais adequada às necessidades ambientais e estética da sua rede social enfiltrada na poesia visual da mediocridade.
E colocou em sua legenda: “artistas de teclado é assim… não esperam nem a unha secar”…
Ela sabia que artista era demasiada forçação de barra. Mas guardou para si mesmo a culpa da apropriação cultural-intelectual daquilo. E postou então… mostrando sus unhas de quase realeza de luxo, em um ambiente que parecia frio e artificial. As luzes brancas incandescentes não conseguiam disfarçar a falta de real beleza e alma do quarto.
Mas o dia tinha nascido diferente, sobretudo. A beleza estava demasiadamente linda lá fora. O céu, os pássaros, o sol acalentador. Mas claro, nenhuma das duas perceberam. Se entornavam em quimonos e luzes brancas de led sob vários “aneis de celular”, uma escrivaninha com a segunda gaveta quebrada onde colocavam seus consolos elétricos. Estavam sentadas em cima de uma cama de casal fazendo um peso ameno a força dessa cama que já aguentou muito mais.
B puxou mais uma vez o vidro de Nargilé, dessa vez instigando a sua amiga também fazer o uso.
Até que Boom!
Mistérios irresolutos da tão aclamada física. Saira nas páginas dos jornais, caso arquivado e sem provas. Horror e Mistérios do nível das Combustões Humanas Expontâneas e outras cositas mais.
Mas há o eulírico porém, e ele sabe! E recapitulará segundo a versão do observador.
…É simples; quando preenchemos o sagrado tempo em perder o riso da primavera que foi nos presenteado pela divina e sagrada mãe natureza, pagamos o preço. A natureza não pode ser maquilada com filtros e futilidades… poder até pode; mas não por muito tempo. Cultivar seu ócio nada criativo ali pode ser pesado, e principalmente sob a primeira lei do Cronos; preste atenção onde põe a sua boca.
Mentira; inventei essa lei agora! Mas o fato é que uma hora o Cronos clama. Clama… De fato, o Nargilé acabou – o Nargilé era o Tempo em forma de relógio-ampulheta. – De Cronos! – O Postal de Saturno!
As bocas no lugar errado e na hora certa. Cês sugaram o relógio-ampulheta de Cronos… queriam o quê?! E não era a primeira vez que marcaram suas beiças nos limites dos ignóbeis.
Semana passada reversavam o sugar um outro tipo de cano, um de carne esponjosa sobre o Rec e Rec. Retrasada era outro; um do tipo recheado, mais verde-natural. No carnaval último reservavam o sugar de um vidrinho de “Desorodante”. “Ficaram louconas!”.
Ei Madonas, Senhoritas!? O que fazes com tantas maquilagens para cobrir sujeira das suas poluições d’alma?! O que queres consumir em suas entranhas?! Só um pouquinho de Nargilé, né?! E receberam o Nargilé da boa morte.
Competiam em uma forçada sincronizada pelo último orvalho da sintética droga cor de maracujá. Estavam felizes. Receberam tal recipiente de um fã via correio. Inauguraram bem… cada uma em uma mangueira oposta, finalizaram o pote. Sugando como em outros carnavais… muitos, aliás!
Mas tudo tem um fim. Acabou. Suas bocas infláveis, suas bundas postiças e unhas com tinta europeia. Tudo tem um fim, até a beleza. Limite-se a acabar com classe, garotas! Cês não sabiam que competiam pelo objeto perdido e mágico do Deus Cronos.
Acabou. Ainda não entenderam?! Vou resumir… As brumas de baunilha minguaram do recipiente outrora cheio e agora vazio; tão quão as mentes das sugadoras de plantão. Seu conteúdo estava ligado ao tempo de vida de cada qual que estava ali. E como o tempo devora o homem, elas foram sugadas pelo Saturno que aspira aos seus filhos inexoravelmente certo como as inflexíveis necessidades do agir do tempo sobre a morte. E cuspiram de volta os excessos; as roupas, os celulares e as unhas postiças de realeza. Acabou-se o tempo queridas…Infelizmente ele desistiu de vocês.
O jornal lembrou delas. E seus ex fã club riram! Por fim restou as roupas e a história. Essa é a história delas… e de muitas.
Por VICTOR DE SOUSA