A pesquisadora britânica Aura Dreamer, da Bible University College, descobriu um novo bloco de argila, datado de 650 a.C, com inscrições cuneiformes feitas por um astrônomo sumério, de nome Pó, sobre a queda do asteroide que causou a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra. De acordo com o relato, o asteroide se chocou com o Vale de Sidim, provocando explosões, terremotos e ruína. Utilizando técnicas computacionais que reconstroem o céu daquela época (a posição dos astros) e que simulam a trajetória de queda do asteroide na região do Mar Morto, o pesquisador Parker Bond, da empresa Reinventig Accounts, concluiu que o asteroide possuía mais de um quilômetro de diâmetro. Após decifrar as anotações, a comunidade científica descobriu o que se passou na noite de 29 de junho de 1848 a.C. (calendário cristão). Alguns pesquisadores afirmam que as pessoas morreram devido à inalação de fumaça, enquanto outros afirmam que devido ao impacto da explosão. Mas não há dúvidas de que Sodoma e Gomorra foram destruídas por Deus como resposta a atos imorais praticados nas cidades.
Segundo os pesquisadores, metade do bloco é uma carta que Pó teria escrito aos pais, habitantes de Sodoma, e a outra metade (ainda não completamente desvendada) parece trazer informações sobre sua posição no momento da tragédia.
Ai, queridos pais…
Escrevo esta carta para lhes contar os motivos por que fugi de Sodoma…
Pai, eu sei que para você eu sempre fui um filho tolo. Que pena. Como foi lhe acontecer de ter um filho bom (desculpe-me, pois sei que você não gosta desta palavra) e honesto (por esta palavra eu nem me darei ao trabalho de lhe pedir o perdão) e que sempre procurou fazer com os outros o que gostaria que fizessem consigo…
Por que vocês dois são iguais a todo mundo? É o que ainda me pergunto. Lembro que todo mundo estava zombando do menino mais baixo da rua e vocês gritavam “pintor de rodapé”, “salva-vidas de aquário”. Só porque o garoto em questão era anão. Eu não queria que a sociedade agisse assim com ele! Poxa, até os pais dele zombavam dele. Coitado…
E na escola? Lá só havia desgraças: era professor molestando alunos, ensinando (intencionalmente) coisas erradas a alunas…
Na faculdade? Tudo estava desorientado e desmoralizado. E foi lá que eu conheci a minha namorada, a Mina. E como eu a amava!…
Mas vocês fizeram de tudo para eu ter um relacionamento com o Záyin. Me trancaram num quarto escuro com aquele tarado maldito. Pervertido. Mil vezes pervertido. Ali eu tive certeza de quem eram (e são) vocês: iguais a todos nessa cidade. E o Záyin era um maldito doente. E sujo: como fedia o desgraçado…
Depois que ele usou e abusou de mim (e vocês escutando tudo do lado de fora. Pior: prendendo a porta), disse que eu era um menino gostoso. Fiquei com tanto nojo…
A partir dali eu prestei mais atenção onde pisava (inclusive dentro de casa). Passei a trancar a porta do quarto e improvisei um alarme de passarinho (igual àqueles de carro)…
Outra coisa que eu não aturava, mãe, eram suas palavras. Palavras não: você manipulava todo mundo, roubava produtos do mercado, e outras coisas que você sabe muito bem…
E você, pai? Assassino, esquartejador, serial-killer, bandido, assaltante, sequestrador. Você foi capaz de matar um noivo na festa de casamento. Eu não culpo as outras pessoas por comemorarem, dizendo que sobraria mais comida pros convidados. Como censurá-las? São todas idiotas, depravadas, antipáticas. Quando eu disse que isso não estava certo, vocês não tiveram orgulho de mim, pelo contrário…
E como vocês foram capazes de servir o meu irmãozinho, Bar, como refeição aos turistas nepaleses? Onde vocês estavam com a cabeça? Aliás, isso é coisas que um pai e uma mãe fazem com o próprio filho?…
Pelos deuses! Naquele dia eu arrumei minhas malas, não é verdade? Eu dizia pra mim mesmo que o Bar estava bem, no céu…
É por isso que não voltarei a essa merda de lugar. Aluguei um barraco em Jericó e vou trabalhar como copista (Ah, se eu tivesse seguidos os conselhos de vocês, e de todos lá na escola, agora eu seria o quê, uma prostituta, igual a Mina?). Estou bem instalado. Não é a vida que pedi aos deuses, mas é bem melhor que aí. Logo, pretendo publicar um pergaminho. Todo dia escrevo um pouco. A história é de destruição. Estou preparando a destruição de Sodoma. Eu andei pensando, e acho que incluirei Gomorra também. Mão por mão, pé por pé…
Por JULIANO KLEVANSKIS