CONTOS – Triste Viúva por Thainá Camilly

CONTOS – Triste Viúva por Thainá Camilly

Trajada de preto, caminha triste pelos cantos. Penelope, a mais jovem da sua descendência e líder da terceira geração. Sua família carregava uma maldição por onde quer que fosse, a morte do companheiro! Lupita, como era carinhosamente lembrada, já nasceu com essa “predestinação”. Um dia, quando pequena, ela teve um sonho. Uma “aparição” conversou com ela, disse que ela teria que quebrar a maldição. A Penelope era quem seus ancestrais esperaram por uma vida inteira. Isso causou um choque muito forte, jamais tinha sentido o peso de tamanha responsabilidade. E assim foi crescendo, de uma jovem cheia de sonhos, a uma adulta cheia de preocupações.

Como todas da sua família, era uma excelente costureira. Através de seu alinhavo vinha o sustento e o alimento de todos. Uma por todas, todas por uma! Seus pontos eram os mais lindos e mais perfeitos, podia passar horas ou até dias inteiros costurando. A linha branca era o fio vermelho de seu destino, ela conectava tudo e todos à sua volta. Numa manhã ensolarada, ela sentiu uma inspiração diferente, e ao enlace das linhas, viu um jovem muito bonito passando.

– Oi, bela jovem! Que arte incrível você tem nas mãos.

– Obrigada! Disse Lupita.

Seu coração acelerou, seus olhos brilharam… foi amor à primeira vista!

Ulisses foi visitá-la e cortejá-la todos os dias daquele mês. E certo dia, enquanto ela finalizava os pontos, ele encostou suavemente em sua fina cintura e a beijou. Ela sentiu o veneno circular em seu corpo, mas fechou os olhos e se entregou ao momento. Foi único!

Teria ela arruinado mais uma geração?!

Carregava em suas costas o peso da maldição?!

Colocara Ulisses em risco?!

O jovem cheio do gosto do amor, anunciou que precisaria viajar. Ele iria passar uma semana fora. Penelope foi às lágrimas, logo agora que estava vivendo algo tão bonito e profundo, voltaria a alimentar-se da solidão que a persegue.

Não tinha nada que pudesse ser feito. Usou o dom ao seu favor. Com seu perfeito alinhavo, fez um lenço para enxugar suas lágrimas. Todos os dias ela sentava, chorava e esperava o seu amor voltar. Ela tinha que contar para ele sobre a maldição. Quando chegava a noite, estendia o seu lenço para que pudesse chorar com tranquilidade no dia seguinte. Visitada, e cortejada por inúmeros, não queria ninguém além do Ulisses.

Dias se passaram, então ele voltou. Os dois se beijaram apaixonadamente. O calor subia! Corpos suados, pelos arrepiados e então ela gritou:

-Para! Não posso fazer isso com você! Na minha família existe uma maldição, sempre que encontramos um companheiro, ele morre. Ainda não se sabe o porquê, mas não quero colocar você em perigo.

-Deixa que eu escolho isso. Não acredito em maldições! Disse Ulisses.

E eles voltaram ao ninho de amor, até que no ápice da intimidade ele olhou para ela e chorou. Uma cena muito descritiva. Penelope nunca tinha ficado tão feliz, até que percebeu o sangue fluindo por todo o seu corpo em câmera lenta. Ulisses caía sem forças.

-Por favor, Lupita. Acabe com o meu sofrimento de uma vez por todas. Não suporto toda essa dor!

-Decepa-me, e prove que você me ama. Disse Ulisses.

Assim o fez! Entrelaçou suas linhas no corpo quase sem vida de seu companheiro, e pôs um fim em sua dor.

Parece que ela esqueceu o seu lugar! Embora não tenha hábitos canibalíssimos, ou não fosse intenção dela arrancar os órgãos genitais do parceiro, depois do ato mais caloroso de amor. Matava-os! Mais uma vez a história se repetia.

E mais uma vez, era ela…

Viúva

Negra!

Por THAINÁ CAMILLY

 

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