CONTOS – Uma noite tempestuosa por Elisabete Leite

CONTOS – Uma noite tempestuosa por Elisabete Leite

Era inverno e o vento soprava em todas as direções; raios argênteos riscavam o céu e deixavam o cenário cinzento e penetrante. Helena procurava um local seguro para atravessar o pontilhão de ferro, única via de acesso ao vilarejo onde morava, saiu passando por cima de um emaranhado de ferros e lixos que ocupavam todo trajeto. A garota tremia de frio e medo, pois o local estava mal iluminado e bastante perigoso. De repente, um barulho estridente quebrou o silêncio, a jovem quedou-se, paralisada, e logo depois saiu correndo. A chuva continuava forte, misturando suas lágrimas aos seus cachos loiros, obrigando a se proteger sob a marquise de um velho armazém abandonado. Eram vinte horas e trinta minutos, Helena olhou para um ponto qualquer, foi quando uma voz tremida a despertou daquele momento de transe:

           – Boa Noite, moça! O que a senhorita faz por aqui? O local parece ser muito periculoso. Dizem que um paciente de um hospital psiquiátrico fugiu agora mesmo.

          A moça olhou para cima e viu um homem que falava com ela; ele trajava um macacão azul bufento, e tinha um cheiro forte de cerveja choca. Helena desviou seu olhar, porém não consegue livrar-se das mãos calejadas do homem que a segurou pelo braço, e continuou falando:

          – Não quer ajuda, senhorita?

          – Não, obrigada! Eu moro logo mais adiante e já estou atrasada. Disse-lhe.

           Helena despediu-se e deu-lhe as costas. A roupa molhada revelava seu corpo esbelto e seu andar de naturalidade, mesmo naquele instante que o medo a dominava. Ela procurava apressar os passos, mas a chuva deixava o barro molhado, dificultando assim a sua locomoção. Foi quando o inesperado aconteceu, braços musculosos a envolveu em um forte abraço, jogando-a no chão totalmente encharcado. Helena lutava para se livrar, e quase chorando falou:

           – Solte-me, por favor! Eu já falei que não quero sua ajuda.

           Foi quando percebeu que o homem que estava por cima dela não era o mesmo que ela havia se deparado há pouco tempo atrás. Ela continuava lutando para se soltar, enquanto o indivíduo procurava apalpar todo o seu corpo.

          A garota chorava de tanta aflição e a chuva insistia em continuar caindo, parecia até que eram lágrimas de comoção daquela jovem aflita. Já sem forças parou de lutar, e em seguida desfaleceu. Subitamente, alguém puxou o indivíduo de cima dela; foi quando percebeu que o homem de macacão azul bufento tinha a salvo daquela situação tenebrosa. Logo depois, uma Kombi do Hospital psiquiátrico, parou e levou o indivíduo que estava desmaiado ao seu lado. Helena olhou para cima, e viu o mesmo homem de macacão azul bufento, com seus olhos esbugalhados olhando para ela. Ela quebrou o gelo, e falou:

           Senhor, desculpe-me! Não sei como agradecer-lhe pelo seu ato de bravura e coragem!

           O homem olhou para Helena, e respondeu-lhe:

           – A senhorita não precisa me pedir desculpas. Deposite sua confiança em mim, e deixe-me acompanhá-la até um local seguro.

           Os dois foram driblando os buracos pelo caminho, ele calado e cabisbaixo e ela envergonhada e triste pelo fato ocorrido. Ele a deixou em segurança na casa dos pais da garota, e em seguida foi embora.

          Aquele incidente daquela noite tempestuosa de inverno, havia marcado a vida daquela jovem quase definitivamente. Agora, Helena vivia mais tempo recolhida.

          Os tempos passaram, a jovem Helena voltou a sua rotina quase normal… Certo dia, ela estava comprando pão, em uma pequena mercearia, quando aquele homem de macacão azul bufento se dirigiu ao balcão e pediu seis pães francês e foi lavar as mãos, e quando voltou, o balcão está repleto de pães, bolo, torta, biscoitos, bolachas e leite; ele olhou para o atendente, e falou:

          – Senhor, eu não pedi isso tudo!

          O atendente do balcão olhou para ele, e respondeu-lhe:

          – Moço, foi àquela moça que comprou, pagou e disse que era para o senhor.

          O homem de macacão azul olhou para porta e viu Helena salpicando um sorriso para ele, e ele retribui-lhe com um largo sorriso. A garota se aproximou dele, o ajudou a carregar os comestíveis. Sorridentes, eles saíram andando empolgados, pela estrada de barro, embora o local lhes fosse acidentado.

          Não devemos fazer um julgamento prévio pelas aparências.

Por ELISABETE LEITE

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