“Deitada cantava e em cada som recordava o cheiro de seu amor, o sentia ao seu lado, livre quanto o vento e poético quanto o céu.”
Por mais difícil que seja o ano, e a sobrevivência do dia a dia, por mais explosivo e confuso que esteja o mundo, por mais que as pessoas percam as esperanças, percam as docilidades em estarem umas com as outras, existe o Natal, com grandes ou pequenas árvores cheias de enfeites e luzes que piscam. Tem gente que só encontramos no Natal, e não resta dúvida é uma emoção, que nos deixa com brilhos nos sorrisos.
O mês de novembro chega e logo tudo se modifica: ruas mais iluminadas, casas, a árvore de Natal nova ou antiga e os sonhos renascendo começam a esculpir nossos sorrisos, nossos olhares, nossos desejos. Muitos pensam nas comidas, o vinho, o champanhe para a ocasião, os convidados… e outros apenas aguardam a noite do dia 24 de dezembro e o dia 25 de dezembro como datas festivas.
Para quem vive repleta de sonhos de amor pode ser uma data surpreendente, como foi para Cristal, uma moça romântica que pensava no que podia de surpreendente acontecer para ela na noite de Natal. Ela estava com palavras, mensagens e imagens desenhadas nos silêncios de seus pensamentos.
Tudo para ela era tão árido, parecia que vivia caminhando diariamente por desertos, sentia dores no corpo, na alma e no coração, como se um mar de solidão se abrisse em plena luz do dia, saindo de dentro de suas vestes. Ela não estaria em mais um Natal na companhia de seu querido amor para receber e também dar longos e calorosos abraços. Amaria escutar os bons desejos na voz de cada beijo apaixonado, e juntos admirarem a linda árvore com luzes tão bonitas.
O tempo foi passando, todos pensavam nos presentes. Pensavam na magia da árvore-de-natal com vários enfeites e os presentes embaixo, todos lindamente enfeitados com laços de fitas e papeis temáticos.
Cristal pensava no seu Natal, que para ela poderia ser tão bonito, se o amor que sonhava, à meia-noite, pudesse escutar o sininho dourado tocando e ela gritaria em um abraço de dois braços com uma só voz. Feliz Natal!
Tudo poderia ser especial, alegre e carinhoso. Cristal pensava em seu vestido vermelho e de cabelos longos, negros e perfumados, dançaria com o seu amoroso namorado, com uma música alegre tocando e os dois adorando aquela noite natalina.
No dia de Natal, seu olhar foi para o horizonte que na sua visão formava imagens que a encantava. Com olhos brilhando, ela via uma escrita com letras vistas nas lindas histórias de amor. Via o sol, brilhando na renovação das folhas e sentia energias diferentes. Cristal preparou um saboroso jantar, também escolheu a sobremesa preferida que o seu amor querido apreciava e sozinha, mas apaixonada por um amor que não tocava, mas que o sentia em suas imaginações, em sua vida, na sua alma, separou a garrafa de vinho.
Era Natal e o amor continuava e ela precisava conviver com a brevidade do momento em que se inspirava pensando nele. Sentia que o seu Natal estava virando trevos da sorte, lindos com promessas de felicidades futuras. Essa era a sua fotografia imaginária, que modificava o seu ânimo de viver os festejos natalinos. Ela amava um amor que cabia em todas as caixas de presentes, um amor de tanto tempo, que nessa noite tinha as cores de sua paixão. Que desde o primeiro encontro com o homem amado, nunca havia perdido a admiração e o fascinante desejo, a sedução das cores natalinas, nada iria tirar de Cristal a vontade de ser surpreendida naquele Natal.
Ela sabia o que queria e com uma indomável vontade pertinho da árvore de Natal sentou-se, com os pés livres de sapatos de salto alto. Cristal sentia-se linda, querendo que os momentos felizes fossem fartos como muitas mesas nos festejos natalinos.
Oh! Meu amoroso amor invisível, onde estas? Cristal tentava acalmar seu coração. E no seu quarto foi encontrar seus sonhos. Deitada cantava e em cada som recordava o cheiro de seu amor, o sentia ao seu lado, livre quanto o vento e poético quanto o céu.
Venha para a minha vida, eu quero ser a tua alegria em poder fazer-me tua, eu sou a sua Cristal que consegue sonhar sozinha, estou aqui a tua espera. Um silêncio ensurdecedor de coração vazio novamente penetrava em seus pensamentos e sozinha Cristal prometia ao seu amor um presente que não teria limites e nem regras, ela prometeu dar-lhe o sol de seu coração, e o bem-estar de seu corpo saudoso.
Na manhã do dia de Natal, Cristal viu o céu em floração, tudo estava em paz, uma paz que ela desconhecia, sentia a gratidão em estar renascendo novamente naquela manhã. Seus olhos encheram-se de lágrimas por tanta gratidão. Ela agora tinha certeza de que o vazio a ensinava e esse era também um presente inesperado, porque ela se encontrava com as suas verdades, suas profundidades, foi um grande Natal de encontros e de amor continuado. Uma espécie de vício natalino como comer chocolates e panetones. Nada estava escondido, os sentimentos de um Natal incompleto pela ausência estavam recarregados com novas energias. Amar é o que ela mais desejava e com esse amor continuaria conversando com seus sonhos de desejos nas euforias do Natal.
De repente, percebeu que havia nela uma plantação de poesias que tinham virado um jardim no seu coração. Sentiu- se merecedora por tantos bons sentimentos que sentia naquele momento. Esperou o seu amor para lhe tirar de um vazio mesmo sendo intocável, mas para ela, era importante sentir o perfume com cheiro de flor da pele, reconhecendo o cheiro do seu presente de desejos entre milhares. Existe um sorriso e um olhar que ela não encontrava em nenhuma parte do mundo, porque em seu amor profundo só o silêncio era seu cúmplice.
Saindo de suas angústias, o Natal de desejos, agora era renovação, as folhas secas precisavam dar lugar para as flores natalinas com a energia de uma eterna primavera colorida. O presente inesperado, sem laços de fitas ou caixinhas de presentes, era um plantio de sentimentos com rosas e flores de muitas cores. A árvore de Natal de seus desejos estava ali, forte, brilhante, reveladora, com um amor maior do mundo em dia de festejos natalinos.
Cristal amava as músicas, o tempo, os olhares, a liberdade de pensar e sonhar. Menina-mulher tão pequenina e tão grandiosa de amor, sem regras ou limites, como é bom acalmar as angústias, porque a solidão podia ser preenchida com os melhores textos de nossas mentes. Tinha certeza que os olhos de sua alma era os olhos de seu amor.
Cristal muito sensível, adorou o seu poético universo de sonhos e desejos natalinos, e com aquela surpresa floral no seu coração, tinha uma visão incrível do Natal e sorrindo disse para si mesma:
Eu acho que minhas lágrimas têm gosto de “eu te amo, meu Natal de desejos”!
Por STELLA GASPAR