“A crônica não deseja retratar ou capturar a realidade, mas recortá-la e reinventá-la.” Rubem Braga
Quando penso em crônicas, talvez pela prática que tenho com esse gênero literário, é quase automático aludir a uma conversa entre amigos, uma situação vivenciada em casa, no trabalho, na rua, um dia em família, a algo que me leve nas malhas do humor ou da reflexão. Os acontecimentos mais singelos do cotidiano são um deleite para os cronistas.
Em sua origem, a palavra “crônica” está associada à palavra “khrónos”, do grego, que significa tempo. No latim existia a palavra “chronica”, para designar o gênero que fazia o registro dos acontecimentos históricos e verídicos.
A crônica contemporânea situa-se entre o jornalismo e a literatura, e embora apresente uma linguagem leve e próxima do leitor, revela os fatos promovendo uma reflexão poética e/ou filosófica sobre os valores humanos. O cronista narra os fatos cotidianos através de seu olhar subjetivo, num tom de conversa com o leitor, atenuando assuntos tensos, podendo provocaro humor. De acordo com crítico literário Antônio Cândido, a crônica pode servir de caminho não apenas para a vida, mas para a literatura.
Por meio dos assuntos, da composição aparentemente saltada no ar, de uma coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo dia, principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural.
Por apresentar as mesmas características narrativas que o conto, é comum a dificuldade para diferenciar os dois gêneros. Talvez a diferença mais acentuada, seja quanto ao conteúdo: o conto é ficcional, a crônica é um fato verdadeiro, recontado.
Nesta edição trago duas crônicas, em ambas a temática do mar está presente. A primeira escrita por mim, a segunda escrita por um dos maiores cronistas brasileiros, Rubem Braga (1913-1990).
Por FLÁVIA JOSS