CRÔNICAS – Carta ao meu Pai por Rilnete Melo

CRÔNICAS – Carta ao meu Pai por Rilnete Melo

Querido pai, quando eu penso em abraço, de olhos fechados eu vejo um guardião com sua menina no colo a cantarolar uma canção. Ao rebuscar lembranças nos recônditos existenciais, sinto as batidas do seu coração no calor do seu abraço a me afagar e me ninar.  Nos labirintos implacáveis da saudade eu vejo a força desse movimento sentimental e dessa conexão, em cada idade vivida.

Sabe pai, quando eu era criança o lugar onde eu me sentia mais segura e protegida era no quentinho do seu abraço. Lá onde os meus medos, insegurança e birras sempre desapareciam, onde as minhas lágrimas pueris eram sempre enxugadas, onde eu sentia você dentro do meu mundo. E quando eu fiquei adolescente esse abraço estendeu-se em outras direções…Lutaram entre os músculos e o cansaço dos braços para  custear meus estudos, manter meus mimos e vaidades , e por vezes ,desfazia-se a  balançar com severidade as mãos, para dar-me puxões de orelhas e broncas,  que mais tarde iriam orientar os meus caminhos  , mostrando-me direções e certezas na minha maturidade!  Ah! Como sou grata por esse abraço!

Esse abraço singular que a cada passo que eu dava segurava-me, para que mesmo que eu tropeçasse, não perdesse os meus valores, tais valores herdados do seu caráter e da sua retidão!

Haverá abraço mais forte? …Abraço de médico, de professor, de amigo, de psicólogo e de super-herói…Obrigada paizinho por me fazer conhecer infinitos abraços!

Saiba que conseguir absorver todos os abraços e no espelho da minha casa vejo o reflexo do ser humano fortalecido por esse seu gesto paternal.  Vejo-os também na filha apaixonada, na mulher forte e guerreira, na profissional determinada, na mãe dedicada, e na escritora inspirada.

Embora   entre cansaços, murros na mesa e socos na vida, seus braços não perderam o vigor do abraço paterno, mesmo na fragilidade dos seus 82 anos e o tremor do Parkinson, é nele que eu sinto força e o verdadeiro sentido do amor.

 Oh! Pai Amado! Acaso fosse o tempo uma mágica, eu ergueria uma varinha de condão e eternizaria você no meu abraço!

Por RILNETE MELO

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