CRÔNICAS – Carta para a tia por Paulo Bunga

CRÔNICAS – Carta para a tia por Paulo Bunga

 Antes de mais, receba de bom grado, querida tia, a minha cordial saudação! Meu pai é quem escreve, mas eu é quem falo, quem sou eu?! prazer em conhecer, eu sou o Paulucho, o seu sobrinho. Sou um menino lindo e forte que não queria perder o brilho da lua dos poetas, cheguei recentemente ao mundo para contemplar a lua desta noite.

 Querida tia, as coisas aqui fora são muito lindas, gostei de ver o clarão da lua cheia da noite de 16 de abril, dia que também vi pela primeira vez o nascer do sol num dos bairros longínquos da cidade do Uíge, em Angola, cujo nome é Bairro Bem-vindo, onde nasci na modesta casa da Mama Suza, como é carinhosamente chamada a parteira tradicional que assistiu a mamãe desde o terceiro mês de gestação até o trabalho de parto na manhã do dia 16 de abril de 2022, quando o relógio no pulso do papai marcava 6h. Segundo o papai, tive de ser muito forte para sobreviver, pois que os três primeiros meses de gestação foram de muito risco, mamãe teve sérios problemas do colo do útero que os nossos profissionais de saúde não conseguiram solucionar até a Mama Suza intervir e, como se não bastasse, querida tia, mamãe recebeu a primeira dose de uma das vacinas contra a Covid de vetor viral que posteriormente causou outras complicações, no entanto, estou muiiito bem felizmente, nasci forte e saudável.

 Querida tia, puxei ao seu irmão, somos tão parecidos que nariz de dez recém-nascidos estou a carregar sozinho, meu nariz é tão grande e achatado como o do seu irmão e presumo que o seu também seja hahaha, olha que as nossas semelhanças não se limitam apenas no nariz, na verdade, vão da ponta do cabelo até as unhas do meu pezinho.

 Querida tia, estou tão empolgado para conhecer a senhora, papai disse que a senhora é bem legal e linda e, ele deve estar certo! pelo visto ele gosta muito da senhora, os seus olhos brilham sempre que fala de ti. A senhora não precisa se preocupar, o seu irmão está em boas mãos, eu não serei uma dor de cabeça para ele muito menos para a mamãe, dou a minha palavra a senhora que serei um menino bondoso e obediente.

 Querida tia, vou contar algo para a senhora: certo dia, enquanto ainda estava no ventre, ouvi sem querer da mamãe que o papai é escritor, especificamente um poeta, acho que também serei um, deve ser bem legal exprimir as emoções por meio das palavras. Razão pela qual, jamais fugarei a escola ou matar aulas, vou dedicar-me aos estudos para ser um grande homem no futuro, de modo que a minha assinatura venha a ser um autógrafo, um dia escreverei com muito carinho o seu nome na dedicatória do best-seller que publicarei, até lá, cuida-te e saúda a prima Judi, a sua filha, decerto que seremos cúmplices na vida. Contudo, até, querida tia, espero ver-te em breve para fazer cocô no seu colo.

 Beijinhos!

 De seu sobrinho Paulo Bunga, com muito amor e carinho!

Uíge, aos 17 de abril de 2022

Por PAULO BUNGA

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