Ouço o silêncio passeando pela casa deserta.
Seus passos têm a cadência de indecisos movimentos que procuram sem sucesso a dona de tantas esperanças perdidas.
Vejo o sussurro do vento esquivando-se dos olhares aflitos que pedem abrigo nas entrelinhas da saudade.
Turbilhão de incógnitas me pressionam contra janelas escancaradas de sentimentos latentes que lambem meus medos mais profanos…
Vontade de me buscar em mim.
Fazer minha voz rasgar as paredes frias e despetalar a certeza que me acorrenta os olhos. Emergir trêmula de desejo.
Deitar na água mansa do mar sentindo o sabor da chuva cobrindo minha pele.
E ao final entregar-me ao tic tac, moroso do instante que escorre da boca de Cronos. No ritmo do nada que brotou por baixo da minha pele, desenhando desconexas manobras.
Fugidia obra-prima pendurada no tapete da sala de estar, por onde o silêncio passeia e eu me encontro…
Por CRIS GOMES