Até eu conseguir sentar aqui, já vieram até mim mil e um trechos de possíveis crônicas que eu poderia escrever. Todos eles escorreram para o ralo como a água que lavava meus cabelos no banho, me deixando apenas com algumas palavras soltas e frases sem contexto que, talvez, até o final desse texto venham a se encaixar.
Enquanto a água escorria e um pouco de cabelo caía, eu pensava “são mais fios brancos que hão de nascer”. Acho cabelo grisalho o auge do empoderamento que uma mulher moderna pode atingir. Depois de todos os outros caminhos já abertos — ainda meio tortos, mal iluminados, mas abertos —, romper o pacto com a “juventude eterna” e abraçar a passagem do tempo tem sido um dos “calos” da atual caminhada. Sem contar que tudo vira moda, tudo vira produto de consumo, e até quem quer sair dessa roda se vê entrando em outra sem perceber, criada quase que sob medida.
Enquanto a água escorria, minha mente borbulhava mais que meu shampoo. Não tenho escrito tantas crônicas porque tenho andado cansada demais, mas isso não quer dizer que não penso nelas. Penso muito. Penso até demais. Fazendo jus ao meu poema Borbulha, minha mente ganha de lavada do meu shampoo que espuma pouco porque é — ou tenta ser — “cruelty free”, mas tenho optado por versos.
Verso é mais fácil. É como uma explosão verbal que não precisa ser explicada. É claro que toda escrita que vem a público passa pelo algoz interno que todo escritor possui, mas ainda assim prosar tem sido mais difícil. Tão difícil que nem sei o quanto de prosa tem nessa crônica. Pelo menos na minha cabeça tem pouca — o suficiente para levar esse texto até o final.
E que final. Aberto, desconexo, ansioso pelo café que acaba de passar na cafeteira, mas que me proíbe de ir bebê-lo sem antes terminar o que comecei. Porque estou ansiosa demais termino de qualquer jeito, mas não tão sem jeito ao ponto de não dizer que foi bom trazer esse texto do início ao fim.
Por CAROLLINA COSTA