Dentro das obviedades pertinentes um aspecto é sobressalente:
Estultamente seguimos em crença estoica de busca moral, deixando passar por despercebido que é, o que sempre foi, e, que talvez, sempre será, nossa real serventia no engenhoso mecanismo do ócio e do vício. Embrenhados no estado das coisas, certamente não atravessaremos incólumes ante as sevícias que, sistêmicas, contaminam-nos o corpo, a mente e a alma. Prosseguimos na pedintaria humana como simulacros de uma vã postura impávida inquebrantável, numa retangularidade sem ângulos, numa via que a nenhum lugar nos leva, numa conformidade congênere que tanto se esforça em abduzir-se de sua natureza análoga. E, como nada que pudesse passar pela peneira da eterna perpetuidade dantesca enquanto efêmera, somos o que somos já não sendo tudo o quanto ignoramos, numa revolução sem armas, sem causa e de exclusivo sofrimento, nesta nossa urgente pujança, consumiremos toda e qualquer força que restar-nos-á até que então, sem que possamos enxergar as limítrofes fronteiras de nossa prisão e, tampouco pressentir nosso destino final, também não nos será revelado, nem jamais por nós compreendido, esta nossa meta enquanto filosofia na busca por razão, em criar-se o que se cria, sem suspeitar que, de fato, nada criamos. Somos o que somos já não sendo nada o que pensamos, ou sequer cogitamos. “Morienti cuncta supersunt”. (Ao vivo tudo falta e ao morto tudo sobra.)
Por RENATO CRESPPO