CRÔNICAS – Jogo da vida por R. J. Bombardi

CRÔNICAS – Jogo da vida por R. J. Bombardi

Nunca fui bom em esportes. Depois que parei de jogar futebol, nunca mais voltei. Mas sempre gostei de acompanhar. Apreciar um bom jogo me fazia esquecer dos problemas. E eu sempre tive vários problemas que queria esquecer. E lá estava eu, sentado na arquibancada, assistindo ao meu irmão e seu time disputarem um jogo contra os meninos do bairro vizinho.

Estava no meio do segundo tempo e o placar não saía do zero a zero. Algumas tentativas de gol aqui, outras acolá. Não que o jogo valesse, de fato, algum prêmio. Mas é importantíssimo ressaltar que o jogo sempre era jogado como se valesse o maior prêmio anunciado.

Meu irmão não era dos piores. Disse-me, antes de iniciar a partida, que seu sonho era ser jogador profissional. Tive vontade de rir, mas não tive coragem de desacreditá-lo daquela forma naquele momento. Contive-me e o mandei entrar na quadra, pois o jogo estava prestes a começar. Às vezes, me pego pensando se esse sonho seria possível em uma realidade diferente.

— Ei, foi falta! — gritei.

Éramos filhos de mãe solteira. Nosso pai foi ao bar assistir a um jogo e nunca mais voltou. Que ironia. Devia ser qualquer jogo, menos futebol. Não… O futebol nunca foi sobre isso. Desde então, aprendemos a nos virar.

Eu, como mais velho, sempre tive mais responsabilidades na vida. Já trabalhava desde os 12 anos. Meu irmão, como mais novo, sempre teve esse perfil de sonhador. Tinha 14 anos e ainda achava que seria jogador profissional. De trabalho, só conhecia aqueles que lhe eram passados na escola. Os quais, que fique dito e documentado, quase nunca eram feitos.

— Tá impedido! Marca direito isso aí, juiz, pô!

Fiquei observando como meu irmão realmente tinha vontade de vencer. Corria atrás da bola como se sua vida dependesse disso. Eu sabia que não dependia, que não tinha como. Mas, e se dependesse?

— Foi escanteio!

De qualquer modo, como torcedor, eu não estava ali para fazer comparações e suposições. Eu estava ali torcendo. Torcendo pelo meu irmão. Torcendo para que ele vencesse na vida. Vencesse do jeito que quisesse. Acho que o papel do torcedor é apoiar aquele que se ama. E eu o amo.

— Gol! — Finalmente, tinham aberto o placar.

Cada gol feito era como uma pequena vitória na vida. Cada gol sofrido, como uma pequena derrota. Os lances impedidos, ações equivocadas que fazíamos sem perceber. Os tiros de meta, novos recomeços após pequenos atentados aos nossos sonhos. E assim, o jogo da vida seguia em frente.

 O árbitro apitou. Fim de jogo. Fim de jogo?

Por R. J. BOMBARDI

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