CRÔNICAS – Ouro Preto é nossa por Filipe Salomão

CRÔNICAS – Ouro Preto é nossa por Filipe Salomão

Viajar em casais é uma delícia.

Viajar para ouro Preto, Minas Gerias, também.

Em algumas horas de estrada entre São Paulo e Minas você faz uma viagem no tempo.

Igrejas com mais de 300 anos, casarões, cultura dos colonizadores e histórias, um berço de histórias.

Sinos tocam a todo momento em suas dezenas de igrejas.

Andressa e Leonardo, Patrícia e Vinicius, Samantha e Henrique, amigos de São Paulo toparam fazer essa viagem no tempo.

Se impressionaram assim que chegaram a cidade; ladeiras e ruas estreitas. As caminhadas iriam valer horas perdidas na academia.

Toda cidade têm os seus fantasmas, mas como em toda cidade turística, as vezes os fantasmas são vivos.

As ladeiras, igrejas e casarões centenários nos fazem ver a história passando na nossa frente. As minas atraindo pessoas gananciosas atrás de ouro, e os vários vestígios dos escravos que trabalhavam nessas minas.

Mas tirando tudo isso que ficou no passado, os seis são abordados a todo momento por pessoas oferecendo passeios, indicando restaurantes, vendendo lembrancinhas etc.

Os turistas tentam ser simpáticos, mas às vezes ser um pouco mal-educado facilita para ter um pouco de paz. É o que faz Leonardo ao ser abordado mais uma vez.

– Campeão, vão almoçar? Tenho o melhor restaurante da região – Um homem alto, bermuda rasgada, estilo flanelinha, entra na frente dos casais interrompendo a caminhado próximo do meio-dia.

– Camarada, vamos encontrar nós mesmo nosso restaurante, obrigado – Responde Leo de maneira ríspida.

– É isso aí, tudo bem – Fala o estranho, com um olhar meio ofendido – Aproveitem a cidade, temos muito a oferecer, Ouro Preto é nossa.

Todos se afastam.

Os seis se olham. Ouro Preto é nossa soa de maneira diferente, quase que ameaçadora. Mas a fome bate forte e vão procurar um restaurante para o almoço.

O almoço é delicioso, feijão tropeiro, linguiça, ovo frito e couve, comida mineira, deliciosa.

O passeio continua por várias igrejas, São Francisco, Nossa Sra. Das Mercês, Santa Efigênia, passeiam na praça Tiradentes, que tem esse nome pois foi lá que foi exposta a cabeça do inconfidente mineiro, terrível, não?

O sobe e desce de ladeiras continua até que vão para o hotel, um casarão, piso de madeira, móveis antigos, bem ao estilo da cidade,

Cada casal vai para o seu quarto, sem antes combinarem a hora de sair para o jantar.

Terão 3 horas de folga até às 19, hora do jantar, viajar em casal é uma delícia, mas as vezes você precisa de um tempo a sós.

Assim, quem quiser ir transar, vai transar, quem quiser ir dormir, vai dormir.

Às 19 todos estão prontos, alguns com cara de cansado, outros mais felizes.

À noite, no hotel, não tem mais recepcionista, cada hospede leva sua chave e fica responsável pelo abre e fecha dos portões.

Em Ouro Preto a noite realmente é noite, é tudo bem escuro, o que durante o dia é lindo, as igrejas, as luzes e os sinos refletem a fé, a noite, o barulho do vendo, as sombras, os sinos e igrejas, deixam tudo com um ar fantasmagórico.

A mistura dos ventos com os sinos não seria conseguida nem em um filme de terror.

A temperatura cai bastante para aumentar também os arrepios.

Enquanto os seis discutem onde será a janta, cada um com um aplicativo ou um site turístico diferente, o flanelinha aparece novamente meio que saindo do nada.

– Boa noite!

– Boa noite – Responde Leonardo já de maneira ríspida novamente.

– Sei que não querem sugestão, só quero que saibam que podem aproveitar tudo de Ouro Preto, Ouro Preto é nossa, aqui não tem bandido, ninguém aqui quer o celular ou o dinheiro de vocês. Aproveitem. Sou Edcarlos, tenham uma ótima noite, que ela seja divertida. Ouro Preto é nossa.

Ouro Preto é nossa, e o estranho se afasta.

Vão para um restaurante bar da cidade, a vista mostra tanto a Igreja de São Francisco como da cidade morro abaixo e morro acima.

Comem uma das especialidades de Minas, pastel de angu, queijos, tudo regado a cachaça mineira.

Aproveitam Ouro Preto, brincam que são os donos de lá, afinal, Ouro Preto é nossa.

Os casais se separam.

Andressa e Leonardo voltam para o casarão hotel para dormirem.

Patrícia e Vinicius vão ao teatro local ver uma peça amadoras sobre escravidão.

Samantha e Henrique vão para um pub que fica no subsolo de uma casa, praticamente escondido, para continuarem a bebedeira.

As horas passam, os fantasmas vivos dão as caras.

Enquanto isso, uns dormem, outros assistem escravos encenando em uma peça, e outros ficam cada vez mais bêbados.

O estranho em algumas cidades é que chega certa hora da noite, e praticamente não se vê mais habitantes locais, como se eles se retirassem das ruas, como se soubessem de algo a mais.

A peça acabando, o teatro pequeno abriga mais atores do que visitantes, ao fim, os escravos começam a correr em volta da plateia, se tornam muitos, arrastam as correntes, mas por pouco tempo, eles as quebram, fazendo alusão a sua libertação, alguns aplaudem, mas então as luzes se apagam. Eles trancam as portas do teatro, no meio da escuridão um grito em uníssono arrepia a todos, e aterroriza Patrícia e Vinicius.

– OURO PRETA É NOSSA!

No pub, ao notarem que são os últimos, Samantha e Henrique pedem a conta, que não vem, vão até o caixa tentar pagar por lá mesmo. Mas não há mais ninguém lá atendendo.

Nas escadas o segurança já não parece querer passar segurança. Transmite um olhar zombeteiro e agressivo.

Mais ainda quando fecha a porta do pub deixando os dois lá dentro.

– OURO PRETO É NOSSA!

No casarão, Leonardo escuta os portões se abrirem, os passos fazem os pisos rangerem. Imagina ser um de seus amigos chegando.

Após alguns segundos de silêncio a porta do seu quarto é arrombada de maneira violenta. Andressa acorda de sobressalto.

Na porta está Edcarlos…

– OURO PRETA É NOSSA, mas vocês pertencem a mim!

Por FILIPE SALOMÃO

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