CRÔNICAS – Pensamos em abundância mas sentimos quase nada por Rilnete Melo

CRÔNICAS – Pensamos em abundância mas sentimos quase nada por Rilnete Melo

Eu segurava na mão do meu menino agora já barbudo e tirava a ferrugem das juntas. O bolor do cérebro também se extinguia.

Era finalzinho de tarde de jornada (Trabalhávamos juntos) e no assento do ônibus impregnava o suor, a inquietação e o cansaço. E o grande veículo não se movia!

 A cidade estava engarrafada. O trânsito caótico nos levava ao estresse extremo. Descemos do coletivo e nos tornamos apenas dois a caminhar e livrar-se da espera, do celular, do calor e do aprisionamento.

A época é de velocidade, mas estamos presos e algemando o tempo na tecnologia. Pensamos com abundância, mas sentimos quase nada!

– Eu segurava a mão do meu menino e ainda faltava muito para chegarmos ao nosso lugar de destino. Os pés e as costas doíam, mas naquele momento eu só queria chegar em casa ou sentir a liberdade do vento tocando na minha pele, ou na alma…. Eu extinguia todas as recomendações médicas sobre minha hérnia de disco e o bico de papagaio, e caminhava… E caminhava.

 Era vento de inverno e outro vento soprava no meu cérebro retirando todo o bolor. Soprava aos meus ouvidos a voz da realidade refletida no que eu via naquele momento: Condições sociais precárias, prostituição, trabalho infantil, meninos no sinal de trânsito, drogas…

Chega né?

A época é de velocidade, pensamos em abundância, mas sentimos quase nada…

E eu sentia… As minhas pernas e minha hérnia de disco!

Eu segurava na mão do meu menino agora já barbudo e imaginava-o quando criança a me deixar sentir em abundância e pensar quase nada.

 A época é de velocidade, mas estamos enclausurados em seu interior. Há muitos caminhos a percorrer até chegar ao nosso lugar de destino…

Eu, Você e meu menino!

Por RILNETE MELO

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