Dediquei parte desta noite para fazer feijão para a semana. Me fez bem. Estava meio estressado esses dias, e todo o trabalho de separar as carnes, os vegetais, colocar no fogo na ordem certa, me trouxe uma calma que não soube explicar.
Não é só mexer em cada ingrediente, ver o que está bom e o que não está, mas o cheiro que sobe quando cada um deles começa a fritar em sequência. Acho que é um ritual até mais completo que o de fazer café.
Minha mãe me ensinou a fazer feijão ainda cedo, para que eu logo pudesse ter minha independência. Acertei a maioria. Alguns, fiz com terra dentro. Outros, enchi de sal. Também já fiz com as ervas inteiras ou carne gorda demais.
Ensinei minha noiva a fazer feijão, e apesar dela nunca o ter feito antes, jamais errou o ponto, nem os ingredientes de nenhum.
Acho que é um dos motivos, inclusive, de eu estar noivo dela. Quanto a mim, vez ou outra, faço um feijão excepcional, mas volta e meia, faço coisas que acabamos jogando fora antes de acabar. O dela é bom e sempre sem invenções.
Assim como cada família italiana tem pequenos truques para fazer pasta e molho de tomate, cada brasileiro tem seu segredinho na hora de fazer feijão. “Meu feijão é bom porque eu pico as cebolas à luz da lua cheia um dia antes.” “Meu segredo é que adiciono um pouco de beterraba no caldo”, e outras coisas mais.
Isso talvez ocorra devido aos toques pessoais do que realmente se explique o porquê do feijão de tal pessoa ser ou não gostoso. Como minha noiva sabe, saber fazer feijão bem é mais saber seguir corretamente o que sempre foi feito do que tentar usar os códigos do GTA na receita.
Mas, a grande graça do ritual, é claro, é a gente achar que, o que fazemos de diferente deixa o que a gente faz ainda mais especial.
Por NICOLAS OLIVER