Estou lendo As coisas Humanas, da Lya Luft, um livro de crônicas, muito gostoso de ler. A Lya tem uma prosa poética encantadora, parece voz de avó contando casos de uma infância que ficara para trás, mas que nos enche de nostalgia até das coisas que não vivemos. Durante uns poucos dias de folga, sentei-me à beira-mar e comecei ler. O dia estava lindo, uma brisa suave beijava meu rosto, o sol estava morninho… de vez em quando tirava os olhos do livro e contemplava as crianças construindo castelos de areia, e as ondas em sua movimentação. Até que uma crônica me atingiu como bala perdida.
Quantos eufemismos a morte possui? Muitos, seja na literatura ou no cotidiano, parece que morte é uma espécie de palavra feia, proibida, tem gente que acredita que o simples proferir traz um mau agouro. “Essa que não queremos falar”, foi o eufemismo usado pela escritora. Só uma mulher que passou por tantos lutos tem a capacidade de falar sobre essa “indesejada das gentes” de uma forma tão profunda. Enquanto eu lia, lembrei dos meus amigos, que assim como ela, perderam seus filhos. Meus olhos marejaram… é tão antinatural os pais enterrarem seus filhos. Acho que é uma dor crônica, às vezes acalma com remédios, mas nunca vai embora.
Chorei o luto dos outros, também já chorei os meus. Finalizei a leitura, ainda com um nó na garganta, os óculos escuros se encarregaram de esconder as recentes lágrimas. Sentada na minha cadeira de praia, eu estava entre o mar e a morte, entendi que nesse espaço a vida acontece.
junho, 2021
Por FLÁVIA JOSS