Na folha em branco há um repouso de guerra.
Está sobre a mesa, silenciosa, quase dormente, assim, alheia e tão presente.
Descansa nela ausência e céu, também um certo movimento de sonho e futuros, vê?
O desafio é o risco da palavra que vai compor a primeira presença na página. É preciso um fôlego de coragem e um sopro que impõe vida. É preciso vontade de fundar estados e provocar o salto – para dentro dessa folha inofensiva – mas que pode carregar a criação do mundo.
Assim sustento meus dias, busco a sentença exata da página. Esse é meu trabalho, a investigação daquela que será a moldura da página em branco que está sobre a mesa. Meu dever é inaugurar um sítio onde convivam realidade e delírio.
Me aventuro.
Aceito o desafio da criação. Me afirmo essa criatura que transita pelas linhas onde a história ainda vai nascer. Gosto do devir. Matéria viva que ainda vai tornar a ser.
Acredito seriamente que esse é meu exercício diário: escrever o que ainda será.
Crônica de Domingo
Por MELL RENAULT