CRÔNICAS TONS DO COTIDIANO – Microcrônicas Edição Mai e Jun 2024

CRÔNICAS TONS DO COTIDIANO – Microcrônicas Edição Mai e Jun 2024

Mais uma edição desta revista e desta vez eu convidei uma amiga querida, a escritora Elaine Perez.

Falamos muito sobre ser bom e a bondade, mas será que refletimos bem sobre este tema? Vejamos:

Autora convidada: 

Elaine Perez, Nascida em Sorocaba/SP. Educadora aposentada, pesquisadora das infâncias, escritora e compositora sorocabana. Escreveu as obras: Caminhos Poéticos de uma educadora, Estudo poético da Mediunidade, A pedra dos meus olhos, Artmada, Na rede eu conto e Floral. Participou de antologias de poesia e contos. É integrante do Grupo o Ato de Escrever, do Coletivo Escreviventes e participa das oficinas e da mentoria com Mell Renault.

 

Bondade que deixa crescer ser mãe, ser filha

De repente aquele filho(a), que tanto buscou-se proteger, é capaz de avança e ferir, pois não aprendeu o limite do seu próprio caminhar.

Qual a fronteira entre a bondade e o deixar fazer sem nenhuma intervenção?

Tarefa difícil essa, disfarçar as fragilidades do filho (a), na ingênua ilusão de que é possível poupa-lo (a), dos desafios que os passos de quem caminha traz ao ato de movimentar-se pelas próprias pernas.

Tenho percebido que a proteção que possibilita ao outro expandir sua potência é a confiança e o ato de conseguir frear em nós, mães, o impulso de super proteger àqueles a quem temos por compromisso e responsabilidade, deixar crescer integralmente, ou seja, crescimento físico, mental, psicológico, moral e espiritual.

Que possamos ser pais que mesmo sentindo o impulso de proteger e blindar nossos filhos, da vida como ela é, sejamos sim, alavancas que possibilitem que eles transponham seus desafios.

Que possamos ser filhos que no ato concreto da gratidão, acolhem e cuidam de seus pais.

Sou e serei eternamente grata aos meus pais.

Qual a imagem de bondade que anuncia escolhas? Quais denunciam seus incômodos?

Elaine Perez

 

 

 

Bondade não faz reféns

Bondade não faz reféns, estou a um mês com esse tema na minha mente, depois de assistir o vídeo do Fred Elboni. Sim, tudo que é dado deve ser de forma despretensiosa, inteira e sem barganha. Mas eu penso no Bert Hellinger e lembro da balança da reciprocidade. Amor é medida exata entre dar e receber. Sim, posso dar sem exigir o retorno forçado, mas não posso seguir em igualdade se estiver seca de tanto dar e nada retornar. Não poderei gritar em carro de som: devolva o que te dei como na canção da Calcanhoto, mas tampouco serei refém de algo unilateral. Sim, eu sei, fica o cheiro das rosas nas mãos que ofertam. Mas sou humana e preciso sentir o afeto devolvido para poder ser livre em doar um pouco mais. Ou não? Sigo refletindo.

  Danyelle Schetine

 

 

Nada melhor do que refletir a beleza e o sublime após tentar dialogar com a bondade. Eu penso que sim, então seguimos.

 

 

O belo e o sublime: pinceladas que colorem o cotidiano

O belo se abre ao amor e nos chama a vida.

Acordar, se perceber desperta.

Para onde leva seu olhar no dia-a-dia?

A arte te convida a celebrar, festejar, criar, pintar novas forma de ver ?

Razão, tempo, consumo, sobrevivência, consumo, tempo, sobrevivência, razão.

Amanhã, começa tudo de novo?

Venho me perguntando se o belo ultrapassa a razão. Se a minha percepção da beleza possui asas, ou está formatada, presa, acorrentada.

Quando leio em voz alta um poema carregado de boniteza, crio asas. São instantes de presença no cotidiano.

O sublime me convida e me chama a contemplação.

Seu toque chega nas profundezas, os pensamentos buscam a transcendência.

Há estética  na transcendência? Ética na justiça? De qual justiça fala o sublime?

Se vivemos a vida em uma linha do tempo.

Há espaço no tempo Chronos para reverência?  O que e quem reverenciamos?

O que e quem afastamos?  O hediondo?

Me causa repulsa a força nefasta que se alimenta da inércia de emoções que se engasgam em constantes suscetibilidades.

Linguagem do medo e do ataque.

A força da arte me chama, derrama  beleza e sublima.

Espalha luz e faz ver as sorrateiras investidas do tenebroso.

A arte com suas múltiplas linguagens é floresta pulsante, mar aberto, florada e canto de passarinho.

Hoje, já se embelezou de vida?

Elaine Perez

 

 

Bem, bom e Belo

Belo para mim é a generosidade, nas banalidades do meu dia e das pessoas que me cercam. Sublime é o amor, força que surge de forma inexplicável e toma todo meu corpo e mente. Belo é amanhecer o dia. Sublime é pensar o criador. Belo é a humanidade, sublime a arte produzida. Nem por isso digo que não me assuste, apavore, desespere, mas ainda assim persigo como desejo o sublime na minha vida. Com coração disparado, dedos gelados, e sentindo o mundo esvanecer, ainda assim quero tocar o bem, o bom, o belo e o sublime em cada momento que estiver consciente desta existência. Sapere aude, incitaria Kant, e eu ouso tentar saber. Porém lembro que nada sei, e aumenta ainda mais o meu desejo pulsante de viver.

Danyelle Schetine

 

 

Ser bom, belo e sublime. Hospitalidade é uma palavra que combina ou não com este diálogo? É o que iremos descobrir a seguir:

 

Hospitalidade

O que e quem chega pelo quintal, entra e se faz presença?  O que e quem não encontra a porta de entrada?

Jacques Derrida faz uma distinção entre a hospitalidade condicional ligada ao campo do direito e da política e a hospitalidade incondicional, ilimitada, movimento de abertura ao inesperado, ao estrangeiro.

Hospitalidade que acolhe sem impor condições a quem chega. Porta aberta antes mesmo de perguntar o nome de quem chega.

Como acolher o estrangeiro que bate à porta, de tal maneira que esse outro venha por inteiro, singular, com sua língua, sem precisar responder na língua do hospedeiro?

O conceito de hospitalidade a partir dessa tensão proposta por Derrida, abre possibilidade para o impossível.

Movimento fugidio, que surge da e na tensão, capaz de romper com as leis de hospitalidade condicional, leis de território, das nacionalidades, leis religiosas, lei de sangue, leis constitucionais, leis de imigração, leis de refugiados, leis de fronteiras e tantas outras e avançar no campo do impossível. Chegar à lei da hospitalidade incondicional, da acolhida, do afeto. de estar afetado, cativado, daquilo que nos atravessa.  Portas abertas, que recebe pelo quintal, colhendo fruta no pé e com a chaleira de água quente sempre pronta a acolher novas ervas, novos temperos e aromas. 

Elaine Perez

 

 

Hospitalidade

Na semana da Mulher fiz uma viagem para conhecer o projeto Letras no Sertão em Santana do Ipanema e fui surpreendida positivamente por gentilezas. Óbvio que  como convidada para um evento a gente sabe que irá encontrar atenção e boas vindas calorosa. Não é sobre isso que eu falo. Vi homens agindo como deveria sempre ser: abrindo a porta do carro, levando até um local de sombra, cedendo a cadeira para sentar. Já disse antes gentilezas me desorientam. Eu carrego as compras, puxo minha cadeira, entro no uber e desço com mil coisas e não costumo ver momentos de gentileza ao meu redor. Sou cercada de banalidades profundas pelas pessoas que lido todos os dias, mas nunca com desconhecidos. Voltei para casa repleta de amor por essa hospitalidade que encontrei. Uma parte de mim começa a não querer menos do que isso do mundo. Gentilezas.

                                                Danyelle Schetine

 

E com muita bondade, beleza e hospitalidade reflexiva neste coração cheio de gratidão e que aprende a ser gentil que me despeço de vocês. Foi um café muito produtivo!!

 

Por DANYELLE SCHETINE

Pular para o conteúdo