CRÔNICAS – Viva as diferenças por Norma Brito

CRÔNICAS – Viva as diferenças por Norma Brito

Todos nos acomodamos nos assentos e logo depois, o avião decolou. Ao meu lado direito, uma senhora que rapidamente adormeceu. Ao meu lado esquerdo, um jovem bem magrinho todo vestido de branco e turbante. Como eu não tinha levado nenhum livro para ler, passei a observar o rapaz que parecia um indiano ou, no mínimo, uma pessoa excêntrica. Alpercatas de couro natural calçavam seus pés. Os antebraços ornados por duas pulseiras douradas e, nos dois braços, pulseiras de couro trançado.

A viagem transcorreu normalmente. Uma criança chorava, alguns assistiam aos filmes e outros liam. O lanche foi anunciado. De pronto, o rapaz levantou-se e pegou no bagageiro uma mochila listrada e de lá tirou algo enrolado em panos brancos. Voltou a sentar, abriu a trouxa de pano e desembrulhou um prato e uma caneca de ágata branca. A seguir, passou álcool gel nas mãos.  Esperou.

Passado alguns minutos, o lanche começou a ser servido. O moço cruzou as mãos e baixou a cabeça. Parecia fazer uma oração de agradecimento. Chegou nossa vez. O comissário nos perguntou o que queríamos para beber. Depois nos serviu um pacotinho miserável de biscoitos. Quando viu o prato do rapaz vazio ofereceu dois pacotes. Ele aceitou e abriu um pacote espalhando os biscoitinhos pelo prato. Pegou o segundo pacote e fez o mesmo. Daí foi pegando um a um até terminar de comê-los. Meio sem jeito, ofereci-lhe o meu pacote; ele aceitou e agradeceu em português carregado.

Enquanto os comissários recolhiam os utensílios, o rapaz limpou o prato com o guardanapo amarrou no pano branco, e o guardou dentro da sacola de listras coloridas. Quis perguntar sua origem, o significado dos gestos. Não tive coragem. Não sei qual interpretação ele daria a minha curiosidade.

A aterrissagem foi anunciada. Quando o avião pousou, nosso personagem levantou, pegou a bagagem de mão, a sacola listrada e mais uma bolsa a tiracolo, quiçá a única bagagem. Deu sinal para passar e saiu na minha frente. Logo adiante, ainda no finger, ele passou pela primeira porta. Fez um giro de 160 graus e continuou a andar. Ao passar pela segunda porta, ele fez o mesmo gesto e assim, sucessivamente, até chegar à sala de embarque. Daí seguiu o seu rumo. Fiquei matutando: como esse mundo é cheio de diversidades! Culturas diferentes, costumes diferentes. Graças a Deus o mundo é assim! Seria muito sem graça se fôssemos todos iguais!

Por NORMA BRITO

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