Sempre gostei de viajar. Não importa o meio de transporte, seja por terra, por mar ou pelo ar, o que vale é soltar as asas e colecionar vistos em nosso passaporte. Há alguns anos atrás, em um desses percursos, ao pegar um avião, deparei-me com uma situação que, a princípio tornou-se um pesadelo, logo após, essa situação apresentou-se como uma aprendizado para uma vida inteira.
Na época, eu estava fazendo uma viajem no velho continente com a família. Lá os voos de baixo custo são uma das características de certas companhias – sendo assim, eu e minha família resolvemos aproveitar essa oportunidade – No entanto, um bilhete mais barato tem as suas limitações. Os lugares não são pré-marcados, os lanches até têm, mas precisam ser pagos. A bagagem, se o passageiro não quiser pagar uma taxa altíssima, terá que seguir normas rígidas de medidas e peso.
Como na Europa os países são relativamente próximos, e as viagens costumam demorar poucas horas. O fato de os bilhetes não serem enumerados, para nós, esse fato não tinha muita importância, afinal podíamos fazer ótimas amizades no caminho ou simplesmente curtir uma música, ou até ler um livro. Porém, fazer caber em uma pequeníssima mala, com peso controlado tudo o que levaríamos para permanecer durante semanas, naquela época, foi um verdadeiro desafio.
Lembro-me que era um final de abril, primavera no velho continente. O frio já estava indo embora, e começavam as temperaturas mais amenas. Os grossos casacos já poderiam ser substituídos por roupas mais leves, menos volumosas e que consequentemente ocupariam menos espaço – o que para nós tornou-se um alívio. As enormes malas que, normalmente, nos acompanhavam em outras viagens deveriam encolher, para adaptarem-se as exigências da companhia aérea, ou não poderíamos alçar voo.
O desafio estava feito e levamos o projeto à risca. Lembro-me que compramos até uma balança para nos certificarmos do resultado. Cada mala não poderia exceder o tamanho e peso, cada centímetro era estudado, cada espaço era disputado à exaustão.
Recordo que os primeiros objetos a serem colocados no pequeno espaço foram os de higiene pessoal: a pasta de dente e a escova de dente. Depois vieram as roupas íntimas e, após isso, as vestes estritamente necessárias. Cada bagagem que atingia o peso e as exigências necessárias era comemorado como se fosse uma conquista pessoal, minha, e da minha família.
No decorrer da viagem nos demos por conta que o pouco que levamos supriu todas as nossas necessidades. Aquele pesadelo inicial de limitar a nossa bagagem esvaiu-se, aos poucos, no decorrer da viagem. De repente, acordamos para o fato que carregamos muitas coisas desnecessárias não só em nossas viagens como em nossa vida.
Posso dizer que aquele voo com uma passagem de baixo custo modificou a nossa maneira de pensar. Outros destinos para onde nos deslocamos, após essa experiência, mesmo não sendo com tickets econômicos certamente começaram a ser mais leves, mais soltos, com menos bagagem, mas, nem por isso deixaram de ser maravilhosos e intensos.
Hoje quando abro a porta de meu roupeiro e vejo uma enorme quantidade de roupas, calçados e objetos pessoais, lembro-me imediatamente daquela viagem com ticket econômico feita anos atrás – e faço uma pergunta para mim mesmo. Qual a dimensão e peso necessário dos itens para nossa viagem através da vida? Talvez sempre sobrará algum item para ser retirado e diminuir o peso da nossa bagagem tornando mais leve a nossa viagem.
Por NERI LUIZ CAPPELLARI