DESNUDA EM PALAVRAS – Entrevista com Joanne Harris

DESNUDA EM PALAVRAS – Entrevista com Joanne Harris

 

 

Joanne Harris, Nascida em Barnsley, Inglaterra, em 1964, é uma escritora de rara sensibilidade e versatilidade. Dona de uma prosa que combina emoção e profundidade, sua obra mais célebre, Chocolat, encanta ao explorar os desejos e transformações humanas em um universo rico em sentidos e atmosferas.

Com raízes francesas e britânicas, Harris transita com maestria por gêneros que vão da ficção histórica à fantasia, sempre unindo narrativas envolventes a uma celebração da complexidade humana. Além de escritora, é também musicista, encontrando na música e na literatura dois caminhos para revelar a alma e conectar culturas.

Cada página que escreve é uma ponte entre mundos, uma celebração dos sentidos e das contradições que fazem parte de ser humano.

 

A Mestra da Narrativa Sensível e Multicultural

Joanne Harris, nascida em Barnsley, Inglaterra, em 1964, é uma alquimista das palavras, capaz de transformar emoções e cultura em histórias que encantam e provocam. Com raízes francesas e britânicas, ela tece narrativas que transcendem fronteiras, explorando a identidade, o desejo e as complexas relações humanas com rara sensibilidade.

Seu romance mais icônico, Chocolat (1999), imortalizado no cinema, é uma celebração dos sentidos, onde sabores e sentimentos dançam em perfeita harmonia. Mas sua maestria vai além: seja na ficção histórica, na fantasia ou no suspense, Harris imprime um estilo único, entrelaçando o sensorial ao profundo em cada obra.

Além de escritora, é uma defensora apaixonada do poder transformador da literatura, acreditando que histórias são pontes que conectam culturas e unem almas. Com elegância e intensidade, Joanne Harris continua a desafiar e encantar leitores ao redor do mundo, celebrando a essência mais pura das emoções humanas.

 

A Musicista da Alma Literária

 Joanne Harris não é apenas uma escritora consagrada; é também uma musicista que transforma palavras em melodias. Com formação em piano e teoria musical, sua escrita ecoa a precisão e a emoção de uma composição clássica.

Cada obra sua é como um concerto, alternando entre ritmos suaves e intensos, criando uma sinfonia literária que encanta os sentidos. Em Chocolat e outras histórias, a música surge como pano de fundo invisível, moldando atmosferas e intensificando emoções.

Para Harris, literatura e música são artes irmãs: ambas conectam almas e traduzem sentimentos universais. Com elegância e sensibilidade, ela une notas e palavras para tocar o mais profundo da experiência humana.

 

Entrevista

1

 

REVISTA THE BARD: O que a inspirou a começar a escrever e como começou sua jornada como autora?

JOANNE HARRIS: Sempre escrevi, desde que era pequena, quando percebi que pessoas reais escreviam livros. Minhas primeiras memórias são de estar deitada na cama, contando histórias para mim mesma. Nunca pensei nisso como uma possível profissão, porém; essa ideia veio muito depois. Meus pais eram ambos professores; todos os amigos deles eram professores; desde o começo, era entendido que eu também me tornaria professora. E eu me tornei, mas continuei contando histórias também.

 

2

REVISTA THE BARD:  Seus romances frequentemente exploram temas de identidade e pertencimento. Como essas ideias influenciam sua narrativa?

 JOANNE HARRIS: As histórias muitas vezes são movidas por pessoas extraordinárias; e pessoas extraordinárias geralmente são outsiders, que dividem comunidades ou ousam fazer coisas que outros não fazem. Os personagens dos meus livros frequentemente são pessoas complicadas, também; pessoas que desafiam a sociedade e a maneira como a sociedade as vê, ou que carregam o peso do passado de uma forma que afeta suas escolhas. Eu escrevo esses personagens porque eles me interessam; porque gosto de explorar por que as pessoas agem ou acreditam como fazem, e porque gosto de escrever personagens que impactam o mundo ao seu redor e que catalisam mudanças nos outros.

 

3

REVISTA THE BARD:  Seu livro Chocolat é amado mundialmente. Qual foi o processo criativo por trás de seu desenvolvimento?

 JOANNE HARRIS: Eu não tenho ideia: escrevi o livro em quatro meses, uma velocidade tremenda comparada aos meus dois trabalhos anteriores, e foi muito diferente de qualquer outra coisa que eu havia escrito. Comecei com minha herança dupla, francesa/britânica, e o conceito de jejum e festa; uma contradição aparente, mas que é uma parte central de como celebramos a Páscoa. Explorei as crenças e mitologias associadas a isso, revivi minhas memórias de infância das férias de Páscoa na França, e criei uma fábula na qual o chocolate desempenha um papel central, e todos os outros personagens são definidos pela sua atitude em relação a ele.

 

4

REVISTA THE BARD: Qual você considera a parte mais desafiadora de ser escritora no mundo literário de hoje?

 JOANNE HARRIS: Viver como escritora nunca foi fácil; mas hoje, com a pirataria, descontos profundos e as ameaças adicionais que a IA generativa impõe aos criativos, está ficando cada vez mais difícil para muitos escritores seguirem em frente. Em uma indústria que gera £125 bilhões por ano para a economia do Reino Unido, a maioria dos escritores profissionais no Reino Unido ganha menos que o salário mínimo.

 

5

REVISTA THE BARD: Como você equilibra os aspectos literários e emocionais de suas histórias para cativar os leitores?

 JOANNE HARRIS: Eu não vejo por que esses aspectos precisem de equilíbrio: boa literatura é sobre criar uma conexão emocional com o leitor. Para mim, o que importa é essa conexão; espontaneamente, de forma autêntica e com o mínimo possível de ego.

 

6

REVISTA THE BARD: Sabemos que você toca baixo em uma banda. Como essa experiência musical impacta sua abordagem criativa, tanto na música quanto na literatura?

 JOANNE HARRIS: A criatividade tem muitas saídas. Escrever é uma ocupação solitária, mas tocar música é uma disciplina criativa diferente. Eu gosto de trabalhar criativamente com outras pessoas, e a música me dá essa oportunidade. Escrevemos músicas juntos; tocamos juntos; nos conectamos com o público de uma maneira diferente; e, ainda assim, ambas as atividades envolvem contar histórias, assim como escrever livros envolve um elemento de performance.

 

7

REVISTA THE BARD: A música é uma paixão pessoal para você, ou você a considera também como parte da sua carreira artística?

 JOANNE HARRIS: Eu vejo ambas as coisas como conectadas; tanto a minha música quanto a minha escrita são formas de levar narrativas e conceitos às pessoas através de diferentes tipos de mídia.

 

8

REVISTA THE BARD: Existem artistas ou bandas que influenciaram profundamente sua jornada, seja como escritora ou musicista?

 JOANNE HARRIS: São tantos que agora é impossível isolar suas várias influências: mas sou atraída por artistas que tiram inspiração de suas próprias experiências autênticas, que são fascinados pela linguagem (musical ou não), que entendem a importância da emoção sobre a técnica pura e que não têm medo de ser diferentes, fora de moda ou de correr riscos.

 

9

REVISTA THE BARD: Se você pudesse descrever sua vida como uma trilha sonora, que músicas ou estilos estariam nela?

 JOANNE HARRIS: Minha infância vem com a música de Georges Brassens e Jacques Brel, a música que minha mãe tocava quando chegou à Inglaterra. De meu avô francês (um músico apaixonado), a música de Beethoven e Bach; de meus avós ingleses, as canções de música-hall. Da minha adolescência, bandas clássicas de prog-rock; da minha infância, teatro musical. Mas a trilha sonora está sempre em construção; ainda gosto de descobrir novas músicas, novos sons.

 

10 

REVISTA THE BARD: Que conselho você daria para aqueles que querem explorar múltiplas formas de expressão artística, como literatura e música, ao mesmo tempo?

 JOANNE HARRIS: Simplesmente explore. Simplesmente faça arte. Não se preocupe em se comparar com os outros, ou tentar ser comercial, ou se encaixar nas tendências. Faça o que você ama. Dessa forma, talvez outras pessoas também amem.

 

11 

REVISTA THE BARD: Joanne Harris, o que você gostaria de dizer aos leitores do DesNUda em Palavras no Brasil?

 JOANNE HARRIS: Olá! Estou encantada em conhecê-los: adoro meus leitores internacionais, e sou eternamente grata aos brilhantes tradutores que trabalharam tanto para levar meu trabalho até vocês…

 

 

TRECHO DO LIVRO DE  JOANNE HARRIS

Em 2025 seremos agraciados com mais uma linda obra dessa Maravilhosa escritora Joanna Harris. Ela Carinhosamente deixou um trecho do seu novo livro que será lançado em 2025, “Vianne”

 “Abro o livro de mapas ao acaso. Às vezes, ela costumava fazer isso, só para ver que sincronicidades poderiam surgir. Espalhadas diante de mim, as páginas revelam uma seção do rio Baïse, com um punhado de pequenas bastides agarradas a ele como folhas numa videira. É uma parte da França que eu não conheço bem, mas à qual voltei finalmente, quase como por instinto.

Uma das bastides tem um nome feminino: Vianne. Gosto do som disso. É quase o meu nome, mas não exatamente; um nome como um broto crescendo de uma árvore. Um sinal, talvez, do que está por vir. Um lugar de reinvenção. Parece um bom lugar para ir, pelo menos até que algo melhor aconteça. Sim, talvez eu vá para Vianne e me encontre ao longo do caminho.”

 

 

FRASES DA ESCRITORA JOANNE HARRIS

Felicidade. Tão simples como um copo de chocolate ou tortuosa como o coração. Amarga. Doce. Viva. Joanne Harris

“Eu nunca fui muito bom em deixar coisas para trás. Eu tentei, mas sempre deixei fragmentos de mim lá também, como sementes esperando sua chance de crescer.” —  Joanne Harris 

“Eu vendo sonhos, pequenos confortos, doces tentações inofensivas para derrubar uma multidão de santos que se chocam entre as avelãs e os nougatines” —Joane Harris, livro Chocolat Fonte: Chocolat

Eu poderia fazer um pouco mais de excesso. De agora em diante, serei imoderado e volátil. Apreciarei música alta e poesia sensacionalista. Serei desenfreado.” —Joane Harris, livro Chocolat Fonte: Chocolat

“É um sentimento que me diz que qualquer mulher pode ser bonita aos olhos de um homem que a ama.” —Joana  Harris , livro Five Quarters of the Orange Fonte: Cinco Quartos da Laranja

 

Nota da Escritora e Colunista Tônia Lavínia

Joanne Harris é uma autora que vai além da narrativa simples, criando mundos onde emoções, cultura e mistério se entrelaçam. Em Chocolat, ela transforma o chocolate em um símbolo de sentimentos e desejos ocultos. A protagonista, Vianne, ao preparar esse doce mágico, desperta uma sedução suave nas pessoas, criando conexões emocionais profundas.

Sua escrita é uma alquimia literária, misturando magia e cotidiano com sensações vívidas. Cada gesto, como acender uma vela ou preparar um prato, adquire uma nova dimensão, refletindo a complexidade humana e suas relações.

Mas Harris não se limita a Chocolat. Ela explora a alma humana e seus desejos em obras como Runemarks e The Lollipop Shoes. Sua escrita vai do profundo ao iluminado, sempre desafiando o leitor a olhar para o mundo de uma forma mais sensível e rica.

Joanne Harris é uma verdadeira observadora da humanidade, convidando-nos a refletir sobre as sombras e luzes da experiência humana, com uma escrita que continua a nos desafiar e inspirar.

Por TÔNIA LAVÍNIA

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