A coluna Desnuda em Palavras tem um prazer imenso em receber o escritor Zeka Sixx. Ao ler a sua biografia, e todo o trabalho na literatura, me deixou desejosa de saber mais sobre os seus livros, seus pensamentos quando quer colocar algo lascivo, que excita de luxuria no papel.
Zeka Sixx escreve literatura pornográfica, e a nossa entrevista foi deliciosamente excitante. Com o mercado literário cheio de personagens com biótipos parecidos com Christian Gray, da autora, Erika Leonard James, Zeka abre as portas para uma leitura intensa, não comportada, porque é isso que a maioria que procura por leituras hot buscam, apesar de que a maioria se negue.
Por exemplo, muitos escritores não gostam de dizer que a literatura hot é igual ao erótico, ou tudo é a mesma coisa, o que pra mim, é uma afirmação da parte de quem pensa assim completamente contraditória, no final tudo acaba em sexo. Seja amarrado na cama, no tapete do chão, ou em qualquer lugar que a vontade do corpo deseja ser saciada.
Acreditem, ouvi isso de uma escritora por aí. Então, fica aqui uma reflexão, para onde a literatura erótica, pornográfica ou “hot” como querem separar agora, leva.
Zeka vem diferente com a sua literatura, a qual eu tive uma pervertida e deliciosa surpresa.
Com os cabelos despenteados, arrancou o terno, rasgou a gravata, tirou os sapatos polidos, e a barba está crescendo, na medida dos desejos para quem lê os seus livros. Afinal, a literatura voluptuosa, tem que ser clara, sem confundir, levar o leitor a sentir o que os seus olhos vão descobrindo a cada página. O corpo vibra, se arrepia, da pele aos ossos, e que se não for assim, não faz sentido.
Sua ousadia literária Zeka Sixx é gaúcho, nascido em 1983 e mora em Porto Alegre. Além de escritor, é advogado e trabalha como Dj nas horas vagas.
Estreou na literatura em 2015, com o livro de contos: “O Caminho dos Excessos”, publicado de maneira independente. O conto “Impressões”, presente no livro foi adaptado para o curta-metragem intitulado “Mímesis”, dirigido por Francisco Antunes e financiado por recursos do Fumproarte.
Em 2016, lançou seu primeiro romance, “A Era de Ouro do Pornô”, pelo selo Erótica da Editora Multifoco. Este livro ganhou uma segunda edição em 2021, pela Saraquá Edições.
Em 2020, publicou o romance “Tudo o que Poderíamos Ter Sido”, pela editora Carolina. No mesmo ano, participou da coletânea “Carazinho Por Escrito”, publicada pela Editora: Os Dez Melhores, com o conto intitulado “Garota Perdida Procura”.
Em 2023, lançou seu mais recente livro, o romance “Não se Começa um Incêndio sem uma Faísca”, Pela Editora Penalux, com texto de orelha assinado pelo escritor e dramaturgo Mario Bortolotto.
Seu estilo é debochado, vulgar, por vezes pornográfico, mas ao mesmo tempo cômico, poético e delirante.
ENTREVISTA:
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REVISTA THE BARD – Antes de mais nada, agradeço por disponibilizar um tempinho para Os leitores da Revista internacional The Bard, participando da minha coluna “Desnuda em Palavras”’.
ZEKA SIXX – Olá, Tonia, tudo bem? Eu é que agradeço o convite, é uma honra poder participar da tua coluna na The Bard Internacional e poder falar um pouco sobre a minha literatura e a minha trajetória como escritor.
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REVISTA THE BARD – Como surgiu a literatura em sua vida? E como veio o desejo de escrever?
ZEKA SIXX – Quando eu tinha 15 anos, minha mãe, leitora voraz, me apresentou a obra de um escritor policial que ela gostava muito, chamado James Hadley Chase. Li dois livrinhos dele na sequência, devorando cada um em 2 ou 3 dias: “Não enviem Orquídeas para Miss Blandish” e Um Trouxa como Qualquer Outro”. Eram aqueles clássicos e irresistíveis “Pulp Fictions” que falavam de detetives durões e damas fatais.
Logo eu, que sempre gostei de escrever, me vi tentado a produzir contos na mesma levada. Um dos contos na mesma levada. Um dos contos, recheado de violência e palavrões, foi premiado em um concurso literário do colégio, o que motivou uma professora a me emprestar um exemplar de “Feliz Ano Novo”, do Rubem Fonseca. Ali foi quando descobri que havia literatura nacional de verdade, que eu lia com prazer, ao contrário das excruciantes leituras obrigatórias das aulas de literatura.
Cerca de um ano depois disso, encontrei, enquanto zanzava por uma livraria Saraiva do shopping, um livro chamado “Pulp”, de um certo autor chamado Charles Bukowski. Não tinha a menor ideia de quem era Bukowski: o que me chamou a atenção foram o título, que me remetia ao filme “Pulp Fiction”, a capa, com a imagem de um revólver e, especialmente, a contracapa, que continha um trecho do livro que começavam assim: “- O QUE, SEU CHUPADOR DE PAU?”. Alguma dúvida que o Zeka de 16 anos ia dar meu jeito de comprar o livro?
Bkowski foi minha primeira grande paixão literária, e quem sedimentou meu desejo de continuar escrevendo. Há quem venha tentando demonizar não apenas Bukowiski, mas também seus pobres leitores. Houve até patéticas tentativas de “cancelá-lo”, capitaneadas por pessoas recalcadas escondidas atrás de seus teclados e de falsas bandeiras feministas. Jamais conseguirão, porque nunca vão entender o poder transformador das palavras do velho Buk na mente de um jovem leitor, de uma pessoa que ainda está tentando encontrar um sentido em sua vida e um lugar nessa doideira chamada mundo.
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REVISTA THE BARD – Por que a literatura pornográfica?
ZEKA SIXX – Essa decisão de fazer uma literatura pornográfica foi algo que ocorreu quando eu estava prestes a iniciar a escrita do meu segundo livro, o romance “A Era de Ouro do Pornô”. Eu tinha noção de que a história que tinha em mente era recheada de passagens de sexo, então impus a mim mesmo um desafio: provar que aquela velha máxima “não existe pornô com história” era falsa. E foi o que tentei fazer: contar uma história repleta de sexo, dos mais variados tipos, mas que prendesse a atenção do leitor até o fim, que fizessem com que ele se envolvesse com os personagens, ficasse curioso para saber como a história iria terminar. Como ocorre com o excelente filme pornô, no qual o espectador não se contenta em gozar na primeira cena e, logo após, desligar a televisão.
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REVISTA THE BARD – Tem algum autor que te inspirou a escrever esse gênero?
ZEKA SIXX – Eu citaria principalmente henry Miller, um autor cujos livros conseguem misturar com maestria passagens explicitamente sexuais com outras poéticas e filosóficas. Se ainda há alguma dúvida de que uma obra com passagens pornográficas pode ter altíssima qualidade literária, os livros de Henry Miller estão aí para encerrar a questão. E existem mitos outros autores consagrados que flertaram abertamente com a pornografia em obras de altíssima qualidade literária: Philip Roth, Bret Easton Ellis, Irvine Welsh, Eileen Myles, Lolita Pille, Reinaldo Moraes, Dalton Trevisan…
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REVISTA THE BARD – Seu livro “A Era de Ouro Pornô”, você acha que ele faz um contraste com a literatura do erótico que estão nas prateleiras hoje em dia?
ZEKA SIXX – Sim, é bem provável, até mesmo porque a minha intenção com aquele livro era justamente, entre outras coisas, satirizar os romances eróticos –geralmente escritos por mulheres e para mulheres- que viviam, na época, um auge de popularidade, na carona do fenômeno “Cinquenta Tons de Cinza”.
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REVISTA THE BARD – Como tem sido as reações dos seus leitores, principalmente mulheres acostumadas com o erótico que parecem ser o mais do mesmo, já que você escreve pornografia mostrando muito além de uma leitura digamos, comportada?
ZEKA SIXX – No geral, a recepção aos meus livros sempre foi muito bacana, inclusive por parte de mulheres acostumadas ao famigerado gênero “hot”. Acho que os leitores e leitoras, via a regra, conseguiram entender a proposta dos livros e abraçaram ela. Penso que pelo o fato de meus personagens serem bem construídos, possuírem várias camadas, também tenha ajudado os leitores a compreender os motivos pelos quais eles agem como agem, inclusive no que diz respeito ao sexo.
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REVISTA THE BARD – Você teve inspiração para escrever os contos que compõem a obra: O Caminho dos excessos?
ZEKA SIXX – “O Caminho dos Excessos” é meu livro de estreia, e reúne 32 contos escritos ao longo de mais de uma década. Acho que foi uma maneira que encontrei de perder a vergonha de mostrar meus escritos ao mundo, mas a verdade é que o livro, ainda que tenha algumas boas ideias, possui um defeito: falta-lhe uma voz própria. Na maioria dos contos, estou tentando emular o estilo de autores que admiro, ao invés de imprimir meu próprio estilo, algo que só fui conseguir fazer nos meus livros subsequentes.
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REVISTA THE BARD – Seu romance seria um guia para aventuras sexuais e noturnas em bordeis de categorias ou não, da cidade de Porto alegre?
ZEKA SIXX – Se te referes ao “A Era de Ouro do Pornô”, eu diria que ele serve muito mais como um retrato de uma época – novembro/dezembro de 2012, período no qual transcorre a ação do romance – do que um guia. Quem vivenciou aquele período em Porto Alegre, vai ter uma verdadeira viagem nostálgica durante a leitura. Contudo, atualmente, 90% dos bares, bordéis e zonas de prostituição mencionados no livro não existem mais. Inclusive vários dos prostíbulos, ironicamente, foram transformados em igrejas evangélicas.
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REVISTA THE BARD – Suas histórias tem um pouco de você, ou são apenas criações de sua mente ou até mesmo vivências contadas por outras pessoas?
ZEKA SIXX – Sempre percebo que, a cada livro que escrevo, menos eu me baseio em minhas próprias experiências. “O Caminho dos Excessos” é, digamos, 60% autobiográfico. “A Era de Ouro do Pornô”, 30% “Tudo o que Poderíamos Ter Sido”, 20% e “Não se começa um incêndio sem uma Faísca”,10%. Acho que é uma espécie de desafio que me imponho, de tentar me afastar de minhas próprias experiências, fugir da zona de conforto. Então, a maioria dos meus livros mais recentes é pura invenção mesmo, com algumas coisas “chupadas” de experiências vivenciadas por amigos, conhecidos, amigos de amigos, etc. brinco um pouco com isso no meu último livro, quando a personagem Bianca diz que “escritores”, em sua maioria, são sanguessugas por natureza, vampiros de almas, criaturas vis que não se importam em roubar as vidas de todos à sua volta, geralmente transpondo-as para a ficção da maneira mais satírica e cruel possível”.
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REVISTA THE BARD – Fale do perfil dos personagens dos seus romances: “A Era de Ouro do Pornô”, “Tudo o que Poderíamos Ter Sido” e “Não se Começa um Incêndio sem uma Faísca”?
ZEKA SIXX – O protagonista de “A Era de Ouro do Pornô” é Max, um cara prestes a completar 30 anos, alcóolatra e viciado em sexo, que vive de bicos como tradutor, mas tem o sonho de ser escritor. O problema é que ele enfrenta m bloqueio criativo e, enquanto não resolve isso, gasta o seu tempo chafurdando na noite de Porto Alegre, em busca de mulheres e experiências sexuais exóticas.
Em “Tudo o que Poderíamos Ter Sido”, temos três protagonistas. Lola, uma DJ, modelo e atriz, que, ciente de que tudo o que conquistou se deve apenas a sua aparência, vive uma vida de excessos que em nada preenche o seu vazio existencial. Cesar, um advogado misógino de 35 anos, que ainda precisa da mesada dos pais para manter o seu estilo de vida. E Júlia, irmã de Cesar, uma estudante cuja vida vira de cabeça para baixo após terminar um namoro por diferenças políticas. Por fim, em “Não se Começa um incêndio sem uma faísca, são dois narradores. Bianca, uma jovem e polemica escritora de sucesso, porra-louca e libertaria, e Vic, um arquiteto de 44 anos que tem um casamento aparentemente perfeito, mas na realidade vive uma grande crise da meia idade que o leva a questionar todas as suas escolhas.
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REVISTA THE BARD – Você acha que existe diferença entre literatura erótica e pornográfica?
ZEKA SIXX – Eu vejo a diferença no seguinte sentido: A Literatura erótica tem como objetivo excitar os leitores. Já na literatura pornográfica, o que há são apenas descrições cruas de sexo, o ato como ele é, sem floreios ou figuras de linguagem. As passagens de sexo estão lá porque estão lá, não porque o autor tem como meta inserir cenas quentes para conquistar leitores que apreciam livros “hot”.
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REVISTA THE BARD – Vamos falar agora do mercado editorial, você acha que a literatura hot está melhor aceita hoje em dia, ou o escritor desse gênero atravessa ainda dificuldades?
ZEKA SIXX – Eu acho que é um nicho que se consolidou. Já vinha se consolidando antes, mas teve uma explosão com a popularidade da trilogia “Cinquenta Tons” e, passados 10 anos, não dá sinais de arrefecimento. Então, acho que a única dificuldade que os escritores do gênero enfrentam é o preconceito mesmo. Não me refiro ao puritanismo da sociedade, mas ao preconceito do meio literário, que tende a enxergar obras recheadas de sexo com tipo “menor” de literatura.
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REVISTA THE BARD – Em algum momento você passou por preconceito com a sua escrita pornográfica? Se sim, pode contar um pouco sobre o ocorrido?
ZEKA SIXX – Nunca tive mitos problemas com isso. Dizer que meus livros ficaram de fora de prêmios literários porque têm um teor pornográfico seria mera especulação – de minha parte. O único episódio que lembro foi o de uma reconhecida escritora, que na época possuía um site de resenhas literárias, que se recusou a resenhar meu livro “Tudo o que Poderíamos Ter Sido” porque o considerou pornográfico.
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REVISTA THE BARD – Qual a dificuldade para publicar sem uma editora, e quais as vantagens?
ZEKA SIXX – Meu único livro lançado sem editora foi o primeiro, “O Caminho dos Excessos”, e foi uma experiência que não recomendo a ninguém. É trabalhoso demais “abraçar” tudo sozinho: diagramação, ISBN, impressão, distribuição… Meus outros livros foram todos lançados por editoras pequenas/ alternativas, em modelos de negócios em que o autor paga, total ou parcialmente, pela tiragem. Para mim, funcionou, pois sempre consegui recuperar o que precisei investir– nenhum dos meus 3 romances me deu prejuízo (embora nenhum tenha me deixado rico também, hahaha!).
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REVISTA THE BARD – Alguns “livros de romance” populares entre as mulheres, são o equivalente à pornografia feminina?
ZEKA SIXX – Acredito que fazer essa comparação talvez seja um pouco simplista. Há muitos motivos que levam as pessoas, em especial as mulheres, a buscarem tanto esse tipo de livro, mas não acho que tudo se resume a uma necessidade, digamos…masturbatória.
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REVISTA THE BARD – Algum recado para as mulheres? E para os homens?
ZEKA SIXX – Para as mulheres: nem toda pornografia é nociva. Existe muita pornografia de qualidade, basta saber procurar. Para os homens: a vida real não é um filme pornô, mas pode ser mito melhor, basta não agir como um idiota.
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REVISTA THE BARD – E para os casais, alguma dica?
ZEKA SIXX – Não se fechem em seus próprios preconceitos. Estejam abertos a novas experiências, ainda que, seja para depois dizer: “não gostei”.
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REVISTA THE BARD – Vamos Fazer um Bate e Volta?
* Fantasia
ZEKA SIXX – Transar em um conversível antigo, no meio do deserto, com uma música perfeita para fazer sexo rolando no som.
* Sexo?
ZEKA SIXX – Uma parte essencial da nossa vida, que deveríamos abraçar sem medo.
* Um Livro?
ZEKA SIXX – “Trópico de Câncer”, do Henry Miller.
* Literatura?
ZEKA SIXX – É algo que nos dá a chance de vivermos outras vidas.
* Um vício?
ZEKA SIXX – Assistir a filmes repetidos.
* Um escritor?
ZEKA SIXX – A maioria dos meus heróis literários está morta, mas vou citar um dos poucos que está vivo: Bret Easton Ellis.
* Gênero música?
ZEKA SIXX – Rock ‘n’ roll (as trilhas sonoras dos meus romances não me deixam mentir).
* Uma certeza?
ZEKA SIXX – “Este mundo é selvagem por dentro e estranho por fora
* Uma Paixão?
ZEKA SIXX – Trabalhar como DJ.
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REVISTA THE BARD – Zeka Sixx, deixe um recado para os leitores da Revista Internacional The Bard.
ZECA SIXX – Agradeço a todos que prestigiaram essa entrevista, espero que tenham gostado de conhecer o meu trabalho. Não deixem de acompanhar a The Bard, em especial a imperdível coluna da Tônia, “Desnuda em Palavras”!
“A Era de Ouro do Pornô, Capítulo 5”: Não Se Começa Um Incêndio sem uma Faísca.” Por Zeca Sixx
LIVRO
Por TÔNIA LAVÍNIA