DESNUDA EM PALAVRAS – Grandes Autores – Cassandra Rios

DESNUDA EM PALAVRAS – Grandes Autores – Cassandra Rios

Olá apreciadores da literatura erótica, estou muito feliz com o trabalho em me unir aos escritores de erotismo, e sempre agradecendo ao CEO: JB Wolf por nos abrir esse espaço, pois dificilmente encontramos portas abertas para nos expressar. Através da coluna “Desnuda em Palavras”, temos a liberdade para entregar ao mundo a expressão das mais quentes poesias eróticas.

     Nesta edição, vamos falar de uma escritora que é minha inspiração, que me identifico, uma escritora transgressora e desafiadora das normas sociais da época, hoje também não é diferente, eu estou aqui nas batalhas literárias enfrentando o caos social de escrever literatura erótica sendo mulher. Se expressar nos tempos de hoje sobre sexo, ter a mente livre, a frente do meu tempo, enfrentar uma sociedade que ainda se esconde por trás de um falso puritanismo, e que não respeita o modo de pensar diferente da caixa não é fácil.

   É com ela a minha coluna, e tenho a honra de colocá-la na Desnuda em Palavras, “Cassandra Rios”.

   E em seguida, meu convidado é diferente dos meus amigos anteriores das colunas que fiz, fazendo uma pesquisa o encontrei em vários sites, e a felicidade de fazer o convite e a resposta do “aceito” me deixou em êxtase de felicidade, como todos que passaram e passarão pela “Desnuda em Palavras” ele escreve literatura pornográfica, “Zeka Sixx”.

    Eu sempre termino as minhas apresentações assim: Vem se deliciar comigo, vem!

   Hoje vai ser deliciosamente diferente:

   Oi… Eu sou a Tônia. O que acha de apreciarmos tudo na cama? Vem pra cama… Vem!

 

Cassandra Rios: A Escritora Mais Proibida Do Brasil

 

Imagem de Doistercos.com

 

      Cassandra Rios, pseudônimo de “Odete de Barros Mott”, começou a sua carreira como escritora em uma fase relativamente jovem da vida. Foi uma escritora brasileira conhecida por suas obras de temática erótica e romances lésbicos. Ela nasceu em 31 de outubro de 1932 em São Paulo. Rios foi uma das primeiras autoras brasileiras a abordar abertamente a sexualidade feminina em seus escritos, o que gerou polémica e controvérsia na sociedade da época.

      Também era conhecida como escritora “maldita” devido sua ousada literatura para a época.

      Começou a sua carreira como jornalista e escritora nos anos 1950, inicialmente usando o pseudônimo de Helen Vera. Durante essa época, ela já começava a explorar temas considerados ousados e transgressores, abrindo caminho para uma carreira que se destacaria pela abordagem provocativa em relação a sexualidade feminina. Sua abordagem ousada em relação à literatura erótica, explorando temática lésbicas e eróticas em um contexto social conservador, fez dela uma figura singular na cena literária brasileira.

       Algumas de suas obras foram adaptadas para o cinema, como “A Virgem e o Machão” (1974) e “Carne” (1968), esta última dirigida por Armando Bo, cineasta argentino.

       Cassandra Rios enfrentou diversos processos judiciais e prisões devido á censura imposta durante o regime militar brasileiro. Suas obras eram frequentemente alvo de apreensão e interdição. Mesmo enfrentando censura, Rios recebeu apoio de alguns intelectuais e escritores que reconheciam a importância de sua contribuição para a discussão sobre liberdade de expressão e sexualidade na literatura. Durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), muitas das obras de Cassandra Rios foram alvo de censura e proibição devido ao conteúdo considerado ousado e transgressor.

Nesse contexto, Cassandra enfrentou desafios significativos em relação a publicação e distribuição de seus livros. Alguns dos passos que ela tomou incluíram:

1- Adaptação e Descrição: Para contornar a censura, Cassandra Rios muitas vezes adaptava suas histórias usava de subterfúgios para abordar temas eróticos sem chamar diretamente a atenção das autoridades.

2- Lançamento no Exterior: Algumas obras de Cassandra foram lançadas inicialmente no exterior, onde a censura brasileira não tinha jurisdição. Isso permitiu que suas criações fossem acessíveis a um público internacional.

3- Ativismo pela Liberdade de Expressão: Cassandra não apenas adaptou suas estratégias, mas também foi uma defensora ativa da liberdade de expressão. Ela enfrentou a censura judicial e buscou contestar as proibições legais de suas obras.

4- Envolvimento em Processos Judiciais: Cassandra enfrentou vários processos judiciais devido à censura e à apreensão ´de seus livros. Ela não hesitava em contestar as proibições, defendendo seu direito à liberdade artística e de expressão.

    Apesar das dificuldades impostas pela censura durante a ditadura, Cassandra Rios manteve sua postura desafiadora e continuou a escrever, adaptar-se e lutar pelos princípios que considerava fundamentais para sua expressão artística.

                          Conflitos e Censuras

    Devido à natureza provocativa de seus escritos, Cassandra Rios enfrentou censura e teve várias de suas obras apreendidas durante o regime militar no Brasil (1964-1985). Suas narrativas desafiaram normas sociais e muitas vezes foram interpretadas como subversivas pelas autoridades da época. Sempre alvo com frequência da censura, com livros sendo apreendidos e interditados pelas autoridades, Rios chegou a ser presa e enfrentou processos judiciais devido ao conteúdo de seus escritos.

     Além da censura literária, Cassandra enfrentou estigma pela sua sexualidade. Devido sua orientação sexual, a sociedade da época muitas vezes discriminava e marginalizava pessoas que não se conformavam com as normas heteronormativas.

                    Ativismo e Reconhecimento

    Rios também era ativista pelos direitos das mulheres e pela liberdade de expressão. Ao longo de sua carreira, ela enfrentou julgamentos e perseguições legais, mas também recebeu reconhecimento por sua coragem em abordar temas considerados sensíveis. Suas obras exploravam temas considerados tabus na época, como lesbianismo, sadomasoquismo e erotismo Ela não se acovardou diante da discriminação. Pelo o contrário, enfrentou processos judiciais para contestar as proibições de suas obras.

                           Obras e Temas

    Suas obras exploravam temas considerados tabus na época, como lesbianismo, sadomasoquismo e erotismo.    Cassandra Rios escreveu diversas obras, muitas delas abordando temáticas eróticas e explorando a sexualidade feminina de maneira provocativa para a época. Algumas de suas obras mais conhecidas incluem:

  1. “O Estripador de Mulheres” (1968):

Este romance policial e erótico é uma das obras mais icônicas de Cassandra Rios, explorando uma narrativa envolvente e temas considerados ousados para a época.

  1. “As Filhas do Fogo” (1969):

Este romance lésbico é outro exemplo da abordagem ousada de Rios, explorando a relação entre duas mulheres em uma trama que desafia normas sociais.

  1. “A Virgem e o Machão” (1968):

Adaptado para o cinema, esse livro também mistura elementos eróticos com narrativa policial, proporcionando uma leitura que desafiou as convenções literárias da época.

  1. “A Ira dos Anjos” (1979):

Nesta obra, Cassandra Rios aborda temas espirituais e místicos, explorando questões relacionadas à fé e transcendência.

  1. “A Republica do Amor” (1972): Esta obra continua a tradição de Rios ao explorar narrativas eróticas e românticas, mantendo-se fiel ao estilo provocativo que caracterizou grande parte de sua carreira.

           Impacto em sua Vida Profissional

  A discriminação e a censura tiveram impacto em as vida profissional, com algumas de sua atuação sendo limitada pelas autoridades. Apesar dos desafios Cassandra Rios Manteve-se fiel à sua expressão e sexualidade na literatura brasileira. Sua coragem para enfrentar a discriminação deixou um legado importante no cenário cultural no país.

          Cassandra Rios de Colete e Terno

Imagem de Cineffable.fr

    De colete e terno, em eventos sociais foi uma forma de desafiar as normas de vestimenta tradicionalmente associadas aos gêneros. Essa escolha de vestuário foi um ato de quebra de estereótipos de gênero, desafiando as expectativas sociais sobre como uma mulher deveria se vestir.

     Ao escolher trajes tradicionalmente masculinos, Cassandra Rios expressava sua independência e sua recusa em conforma-se as normas de gênero pré-estabelecidas. Isso fazia parte da sua postura ousada e desafiadora em relação às convenções sociais, contribuindo para o seu papel como uma figura que questionava não apenas na literatura, mas também nas esferas culturais e sociais mais amplas.

     Durante os anos sombrios da ditadura militar do seu jeito ela teve a coragem de denunciar a hipocrisia, de uma sociedade do imperativo cisheteronormativo, escancarando, tirando mascaras, mostrando como aqueles considerados “normais” são os que, na verdade, adoecem toda a sociedade com suas fobias, impondo algo que na maioria das vezes escondem a sujeira dissimulada por baixo dos seus tapetes. Na insegurança de serem o que tanto defendem como o “correto”, “moral” o “melhor”, o que tem de “ser” o “mais louvável”.

Imagem de Museubajuba.org

     Cassandra Rios foi a primeira autora entre poucos escritores brasileiros a atingir a marca de 1 milhão de exemplares vendidos no país, perseguida por moralistas, e ignorada pela sociedade dissimulada.

     A artista mais proibida do Brasil foi impedida de assinar o “Manifesto dos 1046 Intelectuais contra a censura” em 1968. Os livros de Cassandra Rios são facilmente encontrados em sebos, a maioria por 5 a 15 reais.

     Para alguns, a sua literatura é considerada pornográfica, para outros, deliciosamente irresistível. De qualquer forma, é de deixar muitos Best-Sellers como cinquenta Tons de Cinza, e até mesmo Nelson Rodrigues, conhecido como o “Anjo da Pornografia” e Raduan Nassar que abordava incesto, tabus sexuais e relações familiares de maneira provocativa, “encabulados”.

     O que mais incomodava em seus livros? – Eu te respondo… A mulher com consciência sexual de si mesma, o retrato de vidas que Cassandra Desnudava para que todos vissem, era a moldura retratada no quadro sem poeira que cobria a existências de LGBTs, de todas as classes sociais e, em especial, a temática de lesbianidade. Sim os livros de Cassandra são fortes, mechem com a mente do ser humano, cava o seu oculto sombrio e escuro, aquilo que muitos querem esconder dos olhos do mundo por medo de ser descoberto.

    Aquela que revolucionou a literatura não apenas pelo seu sucesso, mas também por criar personagens femininas sexuadas, e por falar do amor em suas múltiplas formas. Aquela que foi tantas e assumiu tantas posições e profissões.

     Aquela que atravessou a ditadura civil militar brasileira defendendo a livre expressão, e o direito de existir para além da heteronormatividade.

     Não poderia ser diferente, Cassandra nasceu em 1932 e foi criada em uma época, e que a cultura era fortemente falocratica, machista, misógina ao extremo. Lançou o seu primeiro livro ainda adolescente, tinha apenas 16 anos, sofreu muito, pagando caro por sua ousadia no Estado Novo Varguista de uma ditadura militar forte e impiedosa.

     Seus livros transgressores na época, tornaram símbolos de resistência contra uma sociedade que muitas vezes tentava silenciar vozes divergentes.

                             Legado

Imagem de Marcozero.org

    Cassandra Rios é lembrada como uma figura icônica na literatura brasileira por sua contribuição para a quebra de tabus e por sua influência na exploração da sexualidade feminina em sua escrita.

      Apesar das controvérsias, a obra de Cassandra Rios contribuiu para abrir espaço para discussões mais abertas sobre a sexualidade na literatura brasileira. Abriu caminho para uma discussão mais ampla sobre sexualidade feminina, quebrando estigmas e promovendo a aceitação da diversidade na expressão artística. Sua coragem deixou um legado duradouro, inspirando gerações posteriores de escritores a explorar temas antes considerados proibidos.

            Trechos dos Livros de Cassandra Rios 

Imagem de Marcozero.org

“Queria saborear contigo o gosto do vinho dos Deuses. Para embriagar-me até a loucura mas… Se nunca provar teu beijo como posso matar a minha sede.”

     Livro: Canção das Ninfas (1965), pág.91

“Meu olhar nos teus olhos, tua boca em minha boca, teus seios em minhas mãos, tua mão em meu rosto: são os primeiros solfejos! Meu rosto em teus cabelos, tua voz em meus ouvidos, meus braços em teu corpo, teu corpo colado ao meu: vibram as cordas dos sentidos, é a sintonia que arrebata ao som de gemidos e palavras! Resvalo em fuga para me esconder entre as pilastras do teu corpo, mãos espalmadas sobre o teu ventre… e a fonte em minha voz.”

Livro: Canção das Ninfas: Poesia 137

“Fizemos amor! Não esqueço! É cena parada em minha mente!”

Livro: Canção das Ninfas: Poesia 137

“Fizera-se mulher. O coração parecia pesar no peito. Todo ele parecia fervia num encantamento, como se tivesse nesse instante, cadernos de literaturas comparadas.”

Livro: Georgette (1956).

Trecho Poema: Tão Ardente era o Brilho dos Teus Olhos.

“No veludo cor de rosa da sua língua, vim para ficar em ti, Em teu coração encarcerada, como a luz dos teus olhos e tuas pupilas cravadas. Vai transmite ás outras mulheres a tua arte!”

Trecho do livro “Eu Demônia” (1952)

“A noite terminava e as duas mais que nunca se entregavam à euforia emotiva daquele amor louco, A madrugada cumprimentou-as com seus primeiros raios de sol que atrevidamente entraram pela janela, mas as duas nem se voltaram para responder e continuaram a se amar”

Trecho do livro: “Eu sou uma Lésbica” 1983

“Mudas as duas no meio do quarto. Ela, linda na sua camisola longa de tecido transparente, os seios sempre emoldurados pelo decote, soltinhos lá dentro da névoa negra que a envolvia suavemente, embelezando o seu corpo. Meus olhos, os mesmos olhos, agora num olhar grande e faminto, colhiam-na toda.”

 

Nota Da Escritora e Colunista Tônia Lavínia

Imagem de de Macrovector por Freepik

     Me identifico muito com Cassandra Rios e sua literatura, assim como essa grande escritora percebo uma conexão profunda com a coragem de desafiar normas, expressar-me de maneira autêntica e buscar a liberdade artística.

Assim como Cassandra eu tenho, “Inquietação Criativa”: me sinto impelida a explorar temas provocativos e desafiadores em minhas obras, que vão além das convenções literárias tradicionais.

 “Defesa da Liberdade de Expressão”: valorizo a importância da liberdade de expressão como um meio de confrontar tabus e enriquecer a narrativa cultural, mesmo quando isso implica em enfrentar resistência.

“Compromisso com a Mudança Social”: me identifico com o potencial da literatura para catalisar mudanças sociais, desafiando estereótipos e promovendo a aceitação de diferentes perspectivas.

“Exploração da sexualidade Feminina”: enxergo a necessidade de explorar e normalizar a diversidade da experiência feminina, especialmente em relação a sexualidade, para romper com estigmas e padrões impostos.

“Resistencia à Conformidade”: me recuso a, me conformar às expectativas sociais restritivas, optando por seguir uma trajetória única e autentica, mesmo que isso signifique enfrentar desafios e questionamentos.

    Ao me alinhar com esses princípios de identificação com essa escritora grandiosa, aqui falo de suas lutas, da mente a frente do seu tempo para aquela época, escrever sem abrir mão da minha autenticidade, reflete em mim afinidade com a sua ousadia, a resistência e a busca pela autenticidade na expressão artística, são características que definem uma conexão profunda com a herança literária deixada por essa figura marcante.

      Cassandra Rios não apenas escreveu sobre liberdade, ela viveu-a. Seu compromisso com a liberdade de expressão e a defesa dos direitos das mulheres continua a ressoar, destacando-a como uma figura admirável que transcendeu as limitações impostas por sua época. Há tanto mais a falar sobre essa maravilhosa escritora, mas requer inúmeras páginas para isso.

    Sua ousadia literária e resistência tornaram-na uma verdadeira precursora da transformação social e cultural.

Por TÔNIA LAVÍNIA

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